— Amas-me?
A pergunta era surpreendente.
O pequeno grupo, assentado ao redor do fogo, na praia do mar da Galiléia,
olhou depressa para quem falava. Ele fitava os olhos em um só, esperando a
resposta. Era bem cedo de manhã e a luz vinda do oriente despertava as trevas
da noite. Além do barulho das ondas da praia, ouvia-se somente o grito
ocasional de alguma ave do mar, que quebrava o silêncio da manhã.
Durante toda aquela comprida
noite os homens lançaram as suas redes sem resultado algum. Ao amanhecer o novo
dia apareceu na praia uma figura misteriosa. O desânimo e a fadiga deram lugar
ao medo. Esforçando os olhos, penetraram a cerração da manhã e, finalmente,
reconheceram o que no princípio parecia um fantasma.
— É o Senhor!
No mesmo instante, Pedro —
com o seu grande coração cheio de remorsos e de uma devoção quase sobrenatural
— jogou-se na água, e com os esforços de seus grandes braços logo chegou à
praia. Os outros seguiram-no. A rede foi recolhida. As brasas ardiam, e os
peixes assavam. Nenhuma palavra foi dita até que o próprio Mestre fez um
simples convite: "Vinde e comei".
Sentaram-se e alimentaram-se.
Todos guardavam silêncio. Temor e reverência faziam com que ficassem calados.
E, finalmente, Jesus quebrou o silêncio com as palavras de nosso texto:
— AMAS-ME?
É a Pedro que ele se dirige,
o grande e impulsivo Pedro; o discípulo que tão recentemente o negara, que
"saiu e chorou amargamente". Agora vai ser posto à prova. Precisa
fazer uma confissão tríplice da sua devoção por causa da tríplice negação.
Seria provado pela mais alta norma, "a suprema prova".
— Simão, filho de Jonas,
amas-me?
Ele está procurando o amor
mais sublime e não somente o amor emocional. Mas Pedro não mais confia em si
mesmo. Falhou uma vez; poderia falhar de novo. Portanto, com medo de fazer a
confissão mais nobre, Simão usou uma palavra que significava o mero amor
emocional ou simpatia pessoal:
— Sim, Senhor, tu sabes que
eu te amo. (Em grego a
palavra não é a mesma que Jesus usou.)
Outra vez é feita a mesma
pergunta. A resposta também é a mesma. Então o Mestre aceita as palavras de
Pedro, compreendendo que Pedro não estava disposto a confessar o amor que ele
desejava, e pela terceira vez pergunta:
— Simão, filho de Jonas, tu
me amas?
Pedro, o grande e nobre
Pedro, com o seu coração quebrantado por grande tristeza, por ver que o Senhor
duvidava dele, replicou, com o coração pulsando e os lábios tremendo:
— Senhor, tu sabes todas as
coisas, tu sabes que eu te amo.
Temos chamado esta pergunta
de "PROVA SUPREMA". Mas considerando todos os fatos, será que foi a
prova mais alta de devoção e lealdade, a mais importante confissão que os
lábios humanos podem proferir? Não haverá uma maior ainda? Será que Jesus
errou? A vida de Pedro não parece indicar nenhum erro nisso. Jesus não parece
pensar assim. De fato, ele estava disposto a basear tudo nesta simples
pergunta. Sabia o que estava fazendo, sabia que estava fazendo a pergunta mais
importante de todas as línguas.
Hoje em dia, depois de
transcorridos dezenove séculos, podemos ainda considerar esta pergunta a
"PROVA SUPREMA" de nossa vida espiritual.
Há três coisas na frase 'Tu
me amas?”que provam que ela é a "prova suprema":
1) A Prova Suprema do
Discípulo
Dia após dia, através dos
séculos, Jesus Cristo tem chamado homens e mulheres ao seu encontro, não pela
força, nem pelo medo, mas pelo amor. Satanás estaria bem contente por ver Jesus
possuir os reinos do mundo, contanto que estivesse sujeito a ele. Mas Jesus
sabia que não era a vontade do Pai forçar os homens a obedecê-Lo.
Não! Ele atrai, não obriga;
dirige, não constrange; os homens devem escolhê-lo voluntariamente; devem ser
ganhos pelo amor. Esta união seria mais íntima, mais forte, a mais durável do
que uma obediência forçada poderia ser.
O amor o trouxera ao mundo; o
amor levou-o a morrer pela raça humana perdida e o amor atrairia os homens e as
mulheres a ele. Qualquer voto de fidelidade poderia ser mais simples do que a
prova que ele escolheu — "Tu me amas?"
2) A Prova Suprema da Conduta
Não é mais necessário fazer a
velha pergunta acerca de nossa atitude para com as coisas mundanas: "É
pecado fazer isto?" ou "Pode o crente fazer isto?" Simplesmente
aplicamos a "prova suprema" a todas as nossas ações.
A questão não é se é certo ou
errado participar de diversões duvidosas. O homem que se torna cheio do
Espírito de Deus e saturado com o amor de Cristo, deseja viver e agradar ao que
ganhou as afeições do seu coração. Dessa forma, não há lugar para o pecado, não
há lugar para o mundo, e ele não tem
desejo algum por estas coisas em que as pessoas não salvas se
deleitam. Será que o homem prejudicará as pessoas que verdadeiramente ama?
Certamente não. Portanto, a "prova suprema"
de tudo é o amor.
3) A Prova Suprema do Serviço
O incentivo do serviço
verdadeiro é o "amor" e não a "obrigação". O seguidor do
Senhor Jesus Cristo serve a seu Mestre porque o ama, e não por obrigação.
Que foi que levou David
Brainerd aos índios selvagens do grande deserto? Que foi que o levou a deixar
sua casa aos vinte e quatro anos de idade e habitar sozinho no coração dos
grandes bosques do interior. O que foi que o fez prosseguir mês após mês —
mesmo depois de ser vítima da tuberculose, estar fraco e doente como resultado
da falta de alimentação, das longas viagens a cavalo e das muitas noites passadas
na matas suportando chuvas torrenciais — à procura dos índios para lhes dizer
que Deus os amava de tal maneira que deu o seu Filho, seu único Filho, para
morrer por eles? O que, pergunto? Obrigação? Longe de nós tal pensamento! Nenhum
homem se sente obrigado a tal vida. Não! Era "amor". David Brainerd
amava ao Senhor e manifestou o seu amor.
Assim também fizeram Judson,
Livingstone, Morrison, Taylor, Carey, e todos os grandes missionários do
passado. Sim, meu irmão, e assim será com você, se verdadeiramente o ama. Você
provará isso por serviço prestado voluntariamente com alegria. Até dará a sua
vida se necessário for. Você o ama?
Se Jesus Cristo aparecesse em
nosso meio neste momento, e pessoalmente nos apresentasse a pergunta 'Tu me
amas?”a cada um de nós, qual seria a nossa resposta? Como responderíamos a ele?
Como seríamos analisados! Será que procuraríamos escapar às suas perguntas? Ou
será que verdadeiramente amamos a Jesus Cristo? "Nós o amamos",
declarou João. Você o ama? Eu o amo?