sábado, 22 de março de 2014

A CONSAGRAÇÃO DO SARCEDOTE




A CONSAGRAÇÃO DO SARCEDOTE




A Lavagem com Água

Já frisámos que Arão e seus filhos representam Cristo e a Igrej a, porém nos primeiros versículos deste capítulo é dado o primeiro lugar a Arão. "Então, farás chegar Arão e seus filhos à porta da tenda da congregação e os lavarás com água" (versículo 4). A lavagem da água tornava Arão simbolicamente aquilo que Cristo é intrinseca­mente, isto é: santo. A Igreja é santa em virtude de estar ligada a Cristo na vida de ressurreição. Ele é a definição perfeita daquilo que ela é perante Deus. O ato cerimonial da lavagem da água representa a ação da palavra de Deus (veja-se Ef 5:26).
"E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade" (Jo 17:19), disse o Senhor Jesus. Separou-Se para Deus no poder de uma perfeita obediência, orien-tando-Se em todas as coisas, como homem, pela Palavra, mediante o Espírito eterno, a fim de que todos aqueles que são d'Ele pudessem ser inteiramente separados pelo poder moral da verdade.

A Unção

"E tomarás o azeite da unção e o derramarás sobre a sua cabeça " (versículo 7). Nestas palavras temos o Espírito, mas é preciso notar que Arão foi ungido antes de o sangue ser derramado, porque nos é apresentado como figura de Cristo, que, em virtude daquilo que era em Sua Própria Pessoa, foi ungido com o Espírito Santo muito antes que fosse cumprida a obra da cruz. Em contrapartida, os filhos de Arão não foram ungidos senão depois de ser espargido o sangue, "degolarás o carneiro, e tomarás do seu sangue, e o porás sobre a ponta da orelha direita deArão,e sobre a ponta da orelha direita de seus filhos, como também sobre o dedo polegar da sua mão direita, e sobre o dedo polegar do seu pé direito: e o resto do sangue espalharás sobre o altar ao redor" (¹). "Então, tomarás do sangue que estará sobre os altar e do azeite da unção e o espargirás sobre Arão e sobre as suas vestes e sobre seus filhos, e sobre os as vestes de seus filhos com ele" (versículos 20 e 21). No que diz respeito à Igreja, o sangue da cruz é o fundamento de tudo. Ela não podia ser ungida com o Espírito Santo até que a sua Cabeça ressuscitada tivesse subido ao céu e depositado sobre o trono da Maj estade divina o relato do sacrifício que havia oferecido. "Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai e promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis" (At 2:32-33); compa-rem-se também Jo 7:39; At 19:1 - 6). Desde os dias de Abel que haviam sido regeneradas almas pelo Espírito Santo e experimenta­do a Sua influência, sobre as quais operou e a quem qualificou para o serviço; porém a Igreja não podia ser ungida com o Espírito Santo até que o Seu Senhor tivesse entrado vitorioso no céu e recebesse para ela a promessa do Pai. A verdade desta doutrina é ensinada, da forma mais direta e completa, em todo o Novo Testamento; e a sua integridade estreita é mantida, em figura, no símbolo que temos perante nós, pelo fato claro que, embora Arão fosse ungido antes de o sangue haver sido derramado (versículo 7), contudo os seus filhos não o foram, e não podiam ser ungidos senão depois (versículo 21).
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(¹) O ouvido, as mãos e os pés são consagrados a Deus no poder da expiação efetuada e mediante a energia do Espírito Santo.

A Preeminência de Cristo

Porém, aprendemos alguma coisa mais com a ordem da unção neste capítulo, além da verdade importante acerca da obra do Espírito, e a posição que a Igreja ocupa. A preeminência do Filho é-nos também apresentada. "Amaste a justiça e aborreceste a inquidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria, mais do que a teus companheiros" (SI 45:7; Hb 1:9). É preciso que o povo de Deus mantenha sempre esta verdade nas suas convicções e experiências. Por certo, a graça infinita de Deus é manifestada no fato maravilhoso que pecadores culpados e dignos do inferno sejam chamados companheiros do Filho de Deus; mas nunca devemos esquecer, nem por um momento, o vocábulo "mais". Por mais íntima que seja a união—e é tão íntima quanto os desígnios eternos do amor divino a podiam fazer—, é, contudo, necessário que Cristo tenha em tudo a preeminência" (Cl 1:18). Não podia ser de outra maneira. Ele é Cabeça sobre todas as coisas — Cabeça da Igreja, Cabeça sobre a criação, Cabeça sobre os anjos, o Senhor do universo. Não existe um só astro de todos os que se movem no espaço que não Lhe pertença e não se mova sob a Sua orientação. Não existe um verme sequer que se arrasta sobre a terra, que não esteja sob os Seus olhos incansáveis. Ele está acima de todas as coisas; é toda a criatura "o primogénito de entre os mortos" "o princípio da criação de Deus" (Cl l:15-18;Ap 1:5). "Toda a família nos céus ena terra" (Ef 3:15) deve alinhar, na classe divina, sob Cristo. Tudo isto será reconhe­cido com gratidão por todo o crente espiritual; sim, a sua própria articulação produz um estremecimento no coração do crente. Todos os que são guiados pelo Espírito regozijar-se-ão com cada nova manifestação das glórias pessoais do Filho; da mesma maneira que não poderão tolerar qualquer coisa que se levante contra elas. Que a Igreja se eleve às mais altas regiões e glória, será seu gozo ajoelhar aos pés d'Aquele que se baixou para a elevar, em virtude do Seu sacrifício, à união Consigo; o qual havendo plenamente correspondido a todas as exigências da justiça divina, pode satisfa­zer todos os afetos divinos, unindo-a em um Consigo Mesmo, em toda a aceitação infinita com o Pai, na Sua glória eterna: "Não se envergonha de lhes chamar irmãos" (Hb 2:11).
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Nota: Evitei propositadamente tocar no assunto das ofertas em capítulo 29 visto que teremos ocasião de considerar as diferentes classes de sacrifícios, por sua ordem, nos nossos estudos sobre o Livro de Levítico, se o Senhor permitir.


sábado, 15 de março de 2014

DEUS ESCOLHE ARÃO E SEUS FILHHS PARA O SACERDÓCIO

DEUS ESCOLHE ARÃO E SEUS FILHHS PARA O SACERDÓCIO 




                                                                                                                                                                              — CAPÍTULO 28 —
AS VESTES DOS SACERDOTES

Estes capítulos mostram-nos o Sacerdócio em todo o seu valor e eficácia, e estão cheios de interesse. A própria palavra "sacerdó­cio" desperta no coração um sentimento da mais profunda grati­dão pela graça que não só nos abriu um caminho para entrarmos na presença de Deus, como nos deu o necessário para ali nos mantermos, segundo o caráter e as exigências dessa posição eleva­da e santa.

O Sacerdócio de Arão
O sacerdócio de Arão era um dom de Deus por um povo que, por natureza própria, estava distante e necessitava de alguém que aparecesse em seu nome continuamente na Sua presença. O capítulo 7 da epístola aos Hebreus ensina-nos que a ordem do sacerdócio estava ligada com a lei, que fora estabelecida segundo "a lei do mandamento carnal" (versículo 16) e que fora impedida de permanecer pela morte (versículo 23) e que os sacerdotes dessa ordem estavam sujeitos às fraquezas humanas. Portanto, esta ordem não podia dar perfeição, e por isso devemos bendizer a Deus por não ter sido instituída com "juramento". O juramen­to de Deus só podia fazer-se em ligação com aquilo que devia durar eternamente, e isto era o sacerdócio perfeito, imortal, e intransmissível do nosso grande e glorioso Melquizedeque, que dá ao Seu sacrifício e ao Seu sacerdócio todo o valor, e a dignidade e glória da Sua incomparável Pessoa. O simples pensamento de que temos um tal sacrifício e um tal Sacerdote faz com que o coração palpite com as mais vivas emoções de gratidão.

O Éfode e as Pedras Preciosas
Mas devemos prosseguir com o exame dos capítulos que ainda temos à nossa frente. Em capítulo 28 temos as vestes sacerdotais, e em capítulo 29 trata-se dos sacrifícios. Aquelas estão mais em ligação com as necessidades do povo, enquanto que estes se relacionam com os direitos de Deus. As vestes representam as diversas funções e atributos do cargo sacerdotal. O "éfode" era o manto sacerdotal, e estando inseparavelmente ligado às umbreiras e ao peitoral, ensina-nos, clara­mente, que a força dos ombros do sacerdote e o afeto do seu coração estavam inteiramente consagrados aos interesses daqueles que repre­sentava, e a favor dos quais levava o éfode. Estas coisas, que eram simbolizadas em Arão, são realizadas em Cristo. O Seu poder onipo-tente e amor infinito pertencem-nos eternamente e incontestavel­mente. Os ombros que sustém o universo protegem até o mais fraco e obscuro membro da congregação redimida a preço de sangue. O coração de Jesus bate com afeto imorredouro até mesmo pelo membro menos considerado da assembleia redimida.
Os nomes das doze tribos, gravados sobre pedras preciosas, eram levados tanto sobre os ombros como sobre o peito do sumo sacerdote (vide versículos 9al2,15a29).A excelência peculiar de uma pedra preciosa consiste no fato que quanto mais intensa é a luz que sobre ela incide, tanto maior é o seu brilho esplendente. A luz nunca pode obscurecer uma pedra preciosa; apenas aumenta e desenvolve o seu brilho. As doze tribos, tanto uma como outra, a maior como a menor, eram levadas continuamente à presença do Senhor sobre o peito e os ombros de Arão. Eram todas, e cada uma em particular, mantidas na presença divina em todo este resplendor perfeito da formosura inalterável que era próprio da posição em que a graça perfeita do Deus de Israel as havia colocado. O povo era represen­tado diante de Deus pelo sumo sacerdote. Quaisquer que fossem as suas fraquezas, os seus erros, ou faltas, os seus nomes resplandeciam sobre o "peitoral" com imarcescível esplendor. O Senhor havia-lhes dado esse lugar, e quem poderia arrancá-los dali1?- Jeová tinha-os posto assim, e quem podia pô-los de outra formai Quem teria podido penetrar no santuário para arrebatar de sobre o coração de Arão o nome de uma das tribos de Israel? Quem teria podido manchar o brilho que rodeava esses nomes no lugar onde Deus os havia colocado? Ninguém. Estavam fora do alcance de todo o inimigo — longe da influência de todo o mal.
Quão animador é para os filhos deDeus,quesão provados, tentados, zurzidos e humilhados, pensar que Deus os vê sobre o coração de Jesus! Perante os Seus olhos, eles brilham sempre em todo o fulgor de Cristo, revestidos de toda agraça divina. O mundo não pode vê-los assim; mas Deus vê-os desta maneira, enistoestátodaa diferença. Os homens, ao considerarem os filhos de Deus, vêem apenas as suas imperfeições e defeitos, porque são incapazes de ver qualquer coisa mais; de sorte que o seu juízo é sempre falso e parcial. Não podem ver as jóias brilhantes com os nomes dos remidos gravados pela mão do amor imutável de Deus. É certo que os cristãos deveriam ser cuidadosos em não dar ocasião a que os homens do mundo falem injuriosamente; deviam procurar, fazendo bem, tapar a boca à ignorância dos homens maus (lPe2:15). Seao menos compreendessem, pelo poder do Espírito Santo, a graça em que brilham sem cessar, aos olhos de Deus, realizariam certamente as características de uma vida de santidade prática, pureza moral e engrandecimento perante os olhos dos homens. Quanto mais compreendermos, pela fé, a verdade objetiva, ou tudo o que somos em Cristo, tanto mais profunda, prática e real será a obra subjetiva em nós, e maior será a manifestação do efeito moral na nossa vida e caráter.
Mas, graças aDeus, não temos que ser julgados pelos homens, mas por Ele Próprio: e misericordiosamente mostra-nos o nosso sumo sacerdote levando o nosso juízo sobre o seu coração diante do Senhor continuamente (versículo 30). Esta segurança dá paz profunda e sólida ao coração—uma pazque nada pode abalar. Podemos ter de confessar elamentar as nossas faltasedefeitosconstantes;anossa vista pode estar, por vezes, obscurecida de tal maneira por lágrimas de um verdadeiro arrependimento que não possa ver o brilho das pedras preciosas com os nossos nomes gravados, e todavia eles estãonelas. Deus os vê, e isto é suficiente. É glorificado pelo seu brilho; brilho que não é conseguido por nós, mas com que Ele nos dotou. Nada tínhamos senão trevas, tristeza, e deformidades; mas Deus deu-nos brilho, pureza e beleza. A Ele seja dado o louvor pelos séculos dos séculos!

O Cinto
O "cinto" é o símbolo bem conhecido do serviço; e Cristo é o Servo perfeito—o Servo dos desígnios divinos e das necessidades profundas e variadas do Seu povo. Com espírito de sincera dedicação, que nada podia impedir, Ele cingiu-se para a Sua obra; e quando a fé vê assim o Filho de Deus cingido julga, certamente, que nenhuma dificuldade é grande demais para Si. No símbolo que temos perante nós vemos que todas as virtudes, méritos, e glórias de Cristo, na Sua natureza divina e humana, entram plenamente no Seu caráter de servo. "E o cinto de obra esmerada, do seu éfode, que estará sobre ele, será da mesma obra, da mesma obra de ouro, e de pano azul e de púrpura, e de camesim e de linho fino torcido" (versículo 8). A fé disto deve satisfazer todas as necessidades da alma e os mais ardentes desejos do coração. Não vemos Cristo apenas como a vítima imolada no altar, mas também como o cingido Sumo Sacerdote sobre a casa de Deus. Bem pode, pois, o apóstolo inspirado dizer, "cheguemo-nos,... retenha­mos... consideremo-nos uns aos outros" (Hb 10:19-24).

O Peitoral de Juízo. O Urim e o Tumim
"Também porás no peitoral do juízo Urim e Tumim", (luzes e perfeições) "para que estejam sobreocoraçãodeArão,quandoentrar diante do Senhor; assim, Arão levará o juízo dos filhos de Israel sobre o seu coração, diante do Senhor, continuamente" (versículo 30). Aprendemos em várias passagens da Escritura que o Urim estava relacionado com a comunicação da mente de Deus, quanto às diferen­tes questões que se levantavam nos pormenores da história de Israel. Assim, por exemplo, na nomeação de Josué, lemos; "E se porá perante Eleazar, o sacerdote, o qual por ele consultará, segundo o juízo de Urim, perante o Senhor" (Num. 27:21). "E de Levi disse: Teu Tumim e teu Urim (as tuas perfeições e luzes) são para o teu amado... ensinaram os teus juízos a Jacó e a tua lei a Israel" (Dt 33:8 -10). "E perguntou Saul ao Senhor, porém o Senhor lhe não respondeu, nem por sonhos, nem porUrim, nem por profetas" (1 Sm 28:6). "E otirsata lhes disse que não comessem das coisas sagradas, até que houvesse sacerdote com
Urim e com Tumim"(Ed 2:63). Vemos assim que o sumo sacerdote não só levava o juízo da congregação perante o Senhor, como comu­nicava tambémo juízo do Senhor àcongregação—solenes, importan­tes, e preciosas funções! É o que temos, com perfeição divina, no nosso "grande sumo sacerdote, ...que penetrou nos céus" (Hb 4:14). Leva continuamente o j uízo do Seu povo sobre o coração, e, por intermédio do Espírito Santo, comunica-nos o conselho de Deus a respeito dos pormenores mais insignificantes da nossa vida diária. Não temos necessidade de sonhos ou visões: se andarmos em Espírito, desfrutare­mos toda a certeza que pode conceder o perfeito "Urim" sobre o coração do nosso Sumo Sacerdote.

O Manto do Éfode
"Também farás o manto do éfode todo de pano azul... e nas suas bordas farás romãs de pano azul, de púrpura e de carmesim, ao redor das suas bordas; e campainhas de ouro no meio delas, ao redor. Uma campainha de ouro e uma romã, outra campainha de ouro e outra romã haverá nas bordas do manto ao redor, e estará sobre Arão, quando ministrar, para que se ouça o seu sonido, quando entrar no satuário diante do Senhora quando sair, para que não morra" (versículos 31 a35).
O manto azul do "éfode" exprime o caráter celestial do nosso Sumo Sacerdote, que penetrou nos céus, para além do alcance da visão humana; porém, pelo poder do Espírito Santo, há um testemunho da verdade de estar vivo na presença de Deus; e não apenas um testemu­nho, mas fruto também. "Uma compainha de ouro e uma romã, outra campainha de ouroe outra romã". Tal é a ordem cheia de beleza. O verdadeiro testemunho da grande verdade que Jesus vive sempre para interceder por nós estará sempre ligado com fertilidade no Seu serviço. Oh, se ao menos pudéssemos compreender mais profunda­mente estes mistérios preciosos e santos! (¹).
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(¹) É desnecessário advertir que existe uma propriedade divina e significativa em todas as figuras que nos são apresentadas na Palavra de Deus. Assim, por exemplo, a "romã", quando aberta verifica-se que consiste de um número de sementes contidas num líquido vermelho. Certamente, isto fala por si. Que a espiritualidade, e não a imaginação, faça o seu juízo.

A Lâmina de Ouro
"Também farás uma lâmina de ouro puro e nela gravarás, à maneira degravuras de selos.- SANTIDADEAO SENHOR. E atá-la-ás comum cordão de fio azul, de maneira que esteja na mitra; sobre a frente da mitra estará. E estará sobre a testa de Arão, para que Arão leve a iniquidade das coisas santas, que os filhos de Israel santificarem em todas as ofertas de suas coisas santas; e estará continuamente na sua testa, para que tenham aceitação perante o Senhor" (versículos 36 a 38). Eis aqui uma verdade importante para a alma. A lâmina de ouro sobre a testa de Arão era figura da santidade do Senhor Jesus Cristo: "e estará CONTINUAMENTE NA SUA testa, para que TENHAM aceitação perante o Senhor". Que descanso para o cora­ção por entre as flutuações da nossa experiência! O nosso Sumo Sacerdote está sempre na presença de Deus por nós. Somos represen­tados pore aceites n'Ele. A Sua santidade pertence-nos. Quanto mais profundamente conhecermos a nossa própria vileza e fraquezas, tanto mais experimentaremos a verdade humilhante que em nós não habita bem algum, e mais fervorosamente bendiremos o Deus de toda a graça por esta verdade consoladora: "estará continuamen­te na sua testa, para que tenham aceitação perante o Senhor".
Se o leitor for um daqueles que são frequentemente tentados e sobrecarregados com dúvidas e temores, com altos e baixos no seu estado espiritual, com tendências a contemplar o seu pobre coração, frio, inconstante e rebelde—se for tentado com incerteza excessiva e falta de santidade —, deve apoiar-se de todo o coração sobre esta verdade preciosa: que o seu Sumo Sacerdote representa-o diante do trono de Deus. Deve fixar os seus olhos na lâmina de ouro e ler, na inscrição gravada nela, a medida da sua aceitação eterna perante Deus. Que o Espírito Santo o ajude a provar a doçura peculiar e o poder mantenedor desta doutrina divina e celestial!

As Vestes dos Filhos de Arão
"Também farás túnicas aos filhos de Arão, e f ar-Ihes-ás cintos; também lhes farás tiaras, para glória e ornamento... faze-lhes também calções de linho, para cobrirem a carne nua... e estarão sobre Arão e sobre seus filhos, quando entrarem na tenda da congregação ou quando chegarem ao altar para ministrar no san­tuário, para que não levem iniquidade e morram." Aqui, Arão e seus filhos representam em figura Cristo e a Igreja—são a expressão das qualidades intrínsecas, essenciais, pessoais e ternas de Cristo; en­quanto que as "túnicas" e "tiaras" dos filhos de Arão representam aquelas graças de que está revestida a Igreja, em virtude da sua ligação com a Cabeça da família sacerdotal.
Podemos ver assim em tudo que acaba de passar perante os nossos olhos, neste capítulo, o cuidado misericordioso com que Jeová fez provisão para as necessidades do Seu povo, permitindo que eles vissem aquele que estava prestes a atuar a seu favor e a representá-nos na Sua presença vestido como os vestidos que correspondiam diretamente à condição do povo, tal qual Ele os conhecia. Nada que o coração pudesse desejar ou de pudesse ter necessidade foiesquecido. Podiam contemplar Arão dos pés à cabeça e ver que tudo estava completo. Desde a mitra santa na cabeça de Arão às companhias de ouro e romãs que bordavam o seu manto, tudo era como devia estar, porque tudo estava conforme o modelo que fora mostrado no monte —tudo era segundo o cálculo que o Senhor fazia das necessidades do Seu povo e das Suas próprias exigências.

Fios de Ouro Entretecidos
Mas existe ainda um ponto relacionado com as vestes de Arão que requer a atenção do leitor: e este é a forma como o ouro é introduzido na sua confecção. Este assunto acha-se no capítulo 39; contudo a sua interpretação cabe muito bem aqui. "E estenderam as lâminas de ouro, e as cortaram em fios, para entretecer entre o pano azul, e entre a púrpura, e entre o carmesim, e entre o linho fino da obra mais esmerada" (capítulo 39:3). Já fizemos notar que o "azul, a púrpura, o carmesim e o linho fino torcido" apresentam as várias fazes da humanidade de Cristo, e que o ouro representa a Sua natureza divina. Os fios de ouro estavam curiosamente introduzi­dos nos demais materiais, de modo a estarem inseparavelmente unidos, e todavia perfeitamente distintas deles. A aplicação desta admirável imagem ao caráter do Senhor Jesus é cheia de interesse. Em diferentes cenas apresentadas nos relatos dos evangelhos, pode­mos discernir facilmente esta rara e formosa união da humanidade e divindade, e, ao mesmo tempo, a distinção misteriosa.
Por exemplo, considerai Cristo no mar da Galiléia, no meio da tempestade. Ele "estava dormindo sobre uma almofada" (Mc 4:38). Que preciosa demonstração da sua humanidade! Porém, num mo­mento eleva-Se da atitude de verdadeira humanidade à dignidade completa e majestade da divindade, e, como supremo Governador do universo, acalma a tempestade e impõe silêncio ao mar. Não se nota aqui nenhum esforço, nenhuma precipitação, nem preparação pré­via para este momento. Com perfeita naturalidade, Ele passa da condição de humanidade positiva à esfera essencial da divindade. O repouso daquela não é mais natural que a atividade desta. Ele está perfeitamente no Seu elemento tanto numa como na outra.
Vede-O ainda no caso dos cobradores do tributo, segundo Mateus, 17. Como "Deus Altíssimo, possuidor dos céus e da terra", estende a Sua mão sobre os tesouros do oceano, e diz, "são meus"; e, havendo declarado que o oceano é Seu, "pois Ele o fez" (SI 95:5), volta-Se e, numa demonstração de perfeita humanidade, associa-Se ao seu pobre servo, por meio dessas palavras tocantes, "toma-o e dá-o por mim e por ti". Palavras cheias de graça! Sobretudo quando as consideramos em ligação com o milagre tão expressivo da divindade d'Aquele que assim se ligava, em infinita condescendência, com um pobre verme.
Mas vede-O, mais uma vez, junto da sepultura de Lázaro 0o 11). Comove-Se e chora, e essa emoção e essas lágrimas provêm das profundidades de uma humanidade perfeita—desse coração perfei­tamente humano, que sentia, como nenhum outro coração podia sentir, o que era achar-se no meio da cena em que o pecado havia produzido tão terríveis frutos. Mas logo, como a Ressurreição e a Vida, como Aquele que segura em Suas mãos as chaves do inferno e da morte (Ap 1:18) clama: "Lázaro, sai para fora"; e à voz de poder de Jesus a morte e a sepultura abrem as suas portas e deixam sair o seu cativo.
O espírito do leitor poderá facilmente recordar outras cenas dos evangelhos que ilustram esta união dos fios de ouro com o "azul, a púrpura, o carmesim e o linho fino torcido"; quer dizer, da união da deidade com a humanidade, na Pessoa misteriosa do Filho de Deus. Não há nada de novo neste pensamento, frequentemente assinalado por aqueles que têm estudado com algum cuidado as Escrituras do Velho Testamento.
Porém, é sempre proveitoso pensar no bendito Senhor Jesus como Aquele que é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. O Espírito Santo uniu estas duas naturezas por meio de uma obra delicada e apresenta-as ao espírito regenerado do crente para serem admiradas e desfrutadas por ele.
Consideremos, agora, antes de terminarmos esta parte do Livro do Êxodo, o capítulo 29.


— CAPÍTULO 29 —


A CONSAGRAÇÃO DO SARCEDOTE
A Lavagem com Água
Já frisámos que Arão e seus filhos representam Cristo e a Igrej a, porém nos primeiros versículos deste capítulo é dado o primeiro lugar a Arão. "Então, farás chegar Arão e seus filhos à porta da tenda da congregação e os lavarás com água" (versículo 4). A lavagem da água tornava Arão simbolicamente aquilo que Cristo é intrinseca­mente, isto é: santo. A Igreja é santa em virtude de estar ligada a Cristo na vida de ressurreição. Ele é a definição perfeita daquilo que ela é perante Deus. O ato cerimonial da lavagem da água representa a ação da palavra de Deus (veja-se Ef 5:26).
"E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade" (Jo 17:19), disse o Senhor Jesus. Separou-Se para Deus no poder de uma perfeita obediência, orien-tando-Se em todas as coisas, como homem, pela Palavra, mediante o Espírito eterno, a fim de que todos aqueles que são d'Ele pudessem ser inteiramente separados pelo poder moral da verdade.

A Unção
"E tomarás o azeite da unção e o derramarás sobre a sua cabeça " (versículo 7). Nestas palavras temos o Espírito, mas é preciso notar que Arão foi ungido antes de o sangue ser derramado, porque nos é apresentado como figura de Cristo, que, em virtude daquilo que era em Sua Própria Pessoa, foi ungido com o Espírito Santo muito antes que fosse cumprida a obra da cruz. Em contrapartida, os filhos de Arão não foram ungidos senão depois de ser espargido o sangue, "degolarás o carneiro, e tomarás do seu sangue, e o porás sobre a ponta da orelha direita deArão,e sobre a ponta da orelha direita de seus filhos, como também sobre o dedo polegar da sua mão direita, e sobre o dedo polegar do seu pé direito: e o resto do sangue espalharás sobre o altar ao redor" (¹). "Então, tomarás do sangue que estará sobre os altar e do azeite da unção e o espargirás sobre Arão e sobre as suas vestes e sobre seus filhos, e sobre os as vestes de seus filhos com ele" (versículos 20 e 21). No que diz respeito à Igreja, o sangue da cruz é o fundamento de tudo. Ela não podia ser ungida com o Espírito Santo até que a sua Cabeça ressuscitada tivesse subido ao céu e depositado sobre o trono da Maj estade divina o relato do sacrifício que havia oferecido. "Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai e promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis" (At 2:32-33); compa-rem-se também Jo 7:39; At 19:1 - 6). Desde os dias de Abel que haviam sido regeneradas almas pelo Espírito Santo e experimenta­do a Sua influência, sobre as quais operou e a quem qualificou para o serviço; porém a Igreja não podia ser ungida com o Espírito Santo até que o Seu Senhor tivesse entrado vitorioso no céu e recebesse para ela a promessa do Pai. A verdade desta doutrina é ensinada, da forma mais direta e completa, em todo o Novo Testamento; e a sua integridade estreita é mantida, em figura, no símbolo que temos perante nós, pelo fato claro que, embora Arão fosse ungido antes de o sangue haver sido derramado (versículo 7), contudo os seus filhos não o foram, e não podiam ser ungidos senão depois (versículo 21).
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(¹) O ouvido, as mãos e os pés são consagrados a Deus no poder da expiação efetuada e mediante a energia do Espírito Santo.

A Preeminência de Cristo
Porém, aprendemos alguma coisa mais com a ordem da unção neste capítulo, além da verdade importante acerca da obra do Espírito, e a posição que a Igreja ocupa. A preeminência do Filho é-nos também apresentada. "Amaste a justiça e aborreceste a inquidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria, mais do que a teus companheiros" (SI 45:7; Hb 1:9). É preciso que o povo de Deus mantenha sempre esta verdade nas suas convicções e experiências. Por certo, a graça infinita de Deus é manifestada no fato maravilhoso que pecadores culpados e dignos do inferno sejam chamados companheiros do Filho de Deus; mas nunca devemos esquecer, nem por um momento, o vocábulo "mais". Por mais íntima que seja a união—e é tão íntima quanto os desígnios eternos do amor divino a podiam fazer—, é, contudo, necessário que Cristo tenha em tudo a preeminência" (Cl 1:18). Não podia ser de outra maneira. Ele é Cabeça sobre todas as coisas — Cabeça da Igreja, Cabeça sobre a criação, Cabeça sobre os anjos, o Senhor do universo. Não existe um só astro de todos os que se movem no espaço que não Lhe pertença e não se mova sob a Sua orientação. Não existe um verme sequer que se arrasta sobre a terra, que não esteja sob os Seus olhos incansáveis. Ele está acima de todas as coisas; é toda a criatura "o primogénito de entre os mortos" "o princípio da criação de Deus" (Cl l:15-18;Ap 1:5). "Toda a família nos céus ena terra" (Ef 3:15) deve alinhar, na classe divina, sob Cristo. Tudo isto será reconhe­cido com gratidão por todo o crente espiritual; sim, a sua própria articulação produz um estremecimento no coração do crente. Todos os que são guiados pelo Espírito regozijar-se-ão com cada nova manifestação das glórias pessoais do Filho; da mesma maneira que não poderão tolerar qualquer coisa que se levante contra elas. Que a Igreja se eleve às mais altas regiões e glória, será seu gozo ajoelhar aos pés d'Aquele que se baixou para a elevar, em virtude do Seu sacrifício, à união Consigo; o qual havendo plenamente correspondido a todas as exigências da justiça divina, pode satisfa­zer todos os afetos divinos, unindo-a em um Consigo Mesmo, em toda a aceitação infinita com o Pai, na Sua glória eterna: "Não se envergonha de lhes chamar irmãos" (Hb 2:11).