sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Não Tomarás o nome do Senhor em vão - Lição 5




As informações sobre cada um dos dez mandamentos do Decálogo são fornecidas ao longo do Pentateuco e em muitos casos em toda a Bíblia, e aqui não é diferente. O texto não expressa de maneira explícita, mas deixa claro que diz respeito a tudo o que se refere ao nome de Deus. Há expositor que exagera ao dizer que não é possível saber o que este mandamento quer dizer com as palavras: "Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão; porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão" (Êx 20.7; Dt 5.11). O contexto bíblico esclarece o que Deus está nos ensinando e mostra a abrangência do referido mandamento. Fala sobre o uso de modo trivial do nome divino, proibindo o perjúrio e toda a forma de profanação e blasfêmia do nome de Javé.

O NOME "DEUS"
Os nomes de Deus não são apenas uma identificação pessoal, mas são inerentes à sua natureza e revelam suas obras e seus atributos. Não é meramente uma distinção dos deuses das nações pagãs. Quando a Bíblia faz menção do "nome de Deus", está revelando o poder, a grandeza e a glória do Deus Todo-Poderoso; além de mostrar seus atributos, o nome representa o próprio Deus. O nome de Deus está ligado à sua soberania e glória.
Há três diferentes palavras hebraicas no Antigo Testamento para "Deus": ’êl, ’elõahe ’èlõhím.AA A Septuaginta emprega o termo grego theos, "Deus", para esses três vocábulos. Eles aparecem como nome pessoal do Deus de Israel e também como apelativos quando se referem aos deuses nas nações, razão pela qual costumamos empregar a expressão "nomes genéricos".

O termo êl tem relação com ’il, ’ilu e palavras similares usadas para deidades dos antigos povos semitas. Aparecem com frequência ilu[m], ’iltu (fem.), ’ilü (pl.) nos documentos da Mesopotâmia, em acádico,45 como nomes próprios e também como apelativos de deidade. Diversas etimologias já foram apresentadas pelos estudiosos, mas a proposta que prevalece é que ’il se deriva de uma raiz que significa "ser forte" ou "ser proeminente". É um "termo semítico muito antigo para divindade" (HOLADAY, 2010, p. 20), usado para identificar o Deus de Israel (Nm 23.8).

No Antigo Testamento, há 238 ocorrências de ’êl e ’êlim, (pl.) juntos, como nome alternativo de Javé (Êx 20.5; Dt 4.24; 5.9); como o próprio Deus de Israel: ’êl 'êlõhêi ysrãêl,46 "Deus, o Deus de Israel" (Gn 33.20) ou "El-Elohei-Israel" (TB); ’ãnôchi hã - ’

É usado também com frequência em ugarítico, mas aparece ainda em relação ao Deus de Israel e a seus atributos, como: "Deus da vista" (Gn 16.13); "Deus eterno" (Gn 21.33); "Deus zeloso" (Êx 20.5; 34.14); "Deus, a minha rocha” (Sl 42.9); e Deus de compaixão (Sl 99.8) etc. O substantivo ’êl e o seu plural, ’êlím, aparecem como apelativos para designar os deuses das nações (Êx 15.11; 34.14; Dt 32.12). É o nome mais usado na Bíblia para mencionar as divindades pagãs.

O nome ’elõhím é plural de 'elõah e, segundo se diz, trata-se de uma forma expandida de ’

O nome Elohim apresenta os primeiros vislumbres da Trindade. A declaração de Gênesis 1.1 traz o verbo no singular, "criou", e o sujeito no plural Elohim, "Deus", o que revela a unidade de Deus na Trindade. Construção similar aparece em várias partes do Antigo Testamento: "E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança" (Gn 1.26); "Então disse o SENHOR Deus: Eis que o homem é como um de nós" (Gn 3.22); "Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua" (Gn 11.7). A Trindade é vista em Elohim à luz do contexto bíblico. O Novo Testamento explicitou o que antes estava implícito no Antigo Testamento. Quando Elohim refere-se às divindades falsas traz no plural o verbo, o pronome ou o adjetivo, representando a multiplicidade. Quando, porém, aplicado ao Deus de Israel, o verbo e o seus complementos vêm geralmente no singular.

Os rabinos reconheceram a pluralidade neste nome, mas, como o judaísmo é uma religião que defende o monoteísmo absoluto, e não admite Jesus Cristo como o Messias de Israel, fica difícil para eles entenderem essa pluralidade. Para explicá-la, argumentam ser um plural de majestade, mas isso é uma determinação rabínica posterior. A definição de plural de majestade ou de excelência, como disse, foi dada pelo rabinato posterior. Disse Shlomo ibn Yitschaki, conhecido pela sigla RASHI, grande rabino e erudito judeu (nascido em 1040): "O plural de majestade não significa haver mais de uma pessoa na divindade". Essa declaração serviu para o judaísmo prosseguir sua marcha mantendo o monoteísmo absoluto sem Jesus e sem o Espírito Santo.

No relato da criação e em muitas outras passagens do Antigo Testamento, Elohim é nome próprio usado como forma alternativa de Javé. Segundo Umberto Cassuto,62 esse nome é usado para se referir à ideia obscura e mais abstrata da deidade, de um Deus universal e Criador do mundo, indicando a transcendência da natureza de Deus; ao passo que Javé aparece quando as características estão claras e concretas e sugere um Deus pessoal que se relaciona diretamente com o povo.
No capítulo um de Gênesis, Deus aparece como o Criador do universo físico e como o Senhor do mundo, exercendo domínio sobre todas as coisas. Tudo quanto existe veio à existência por causa exclusiva de Seu fiat, sem qualquer contato direto entre Ele e a natureza. Portanto, aplicando-se aquelas regras, aqui cabe o uso do nome Elohim (CASSUTO, 1961, p. 32).

Elohim é um dos nomes próprios de Deus, mas aparece como apelativo no Antigo Testamento quando se refere a divindades falsas, por exemplo os deuses do Egito (Êx 12.2) e de outras nações (Dt 13.7,8; Jz 6.10). A palavra é usada com relação às imagens dos cultos pagãos (Êx 20.23). As Escrituras fazem uso irregular de Elohim em referência a seres sobrenaturais (1 Sm 28.13) e juizes (SI 82.6). Aparece também, cerca de 20 vezes, com relação às divindades pagãs individuais.

ELION, SHADAI E ADONAI
O Antigo Testamento emprega outros nomes para identificar o Deus Javé de Israel. São eles: ‘elyôn, "Altíssimo"; shadday, "Todo-poderoso" e ’ãdhonãy,S "Senhor".
O nome composto ’êl ‘elyôn significa "Deus Altíssimo". Elion designa Deus como o Alto e Excelente, o Deus Glorioso. É um dos nomes genéricos porque ele também é aplicado a governantes, mas nunca vem acompanhado de artigo quando se refere ao Deus de Israel. Abraão adorava a El Shadai, "Deus Todo-Poderoso" (Gn 17.1); e Melquisedeque, rei e sacerdote de Salém, era adorador de El Elion (Gn 14.19-20). Quando Abraão se encontrou com Melquisedeque, descobriu que seu Deus era o mesmo de Melquisedeque, apenas conhecido por um nome diferente (êx 6.3). Em Gênesis 14.19-20, esse nome vem acompanhado de "El", mas, às vezes, aparece sozinho (Is 14.14).

O Deus de Israel é também identificado como ’êl shadday, "Deus Todo-Poderoso". Shadai é o "nome de uma deidade" (KO- EHLER BAUMGARTNER, vol. II, 2001, p. 1420). Segundo Holaday, é o nome de deidade identificado com Javé (2010, p. 514); e, de acordo com Gesenius, "mais poderoso, Todo-poderoso, um epí- teto de Jeová, às vezes com El" (1982, p. 806). Aparece 48 vezes no texto hebraico das Escrituras, sete delas antecedido de El.

Esse era um nome apropriado para o período patriarcal, durante o qual os patriarcas viviam numa terra estranha e estavam rodeados pelas nações hostis. Eles precisavam saber que o seu Deus era o Todo-poderoso (Gn 17.1). O termo aparece com frequência na era patriarcal; só no livro de Jó ocorre 31 vezes. Êxodo 6.3 nos mostra que Deus era conhecido pelos patriarcas por esse nome. Deus se revelou primeiro aos patriarcas do Gênesis com nome El Shadai e, após o Sinai, os hebreus identificaram o seu libertador Javé com o El Shadai dos seus antepassados.

As duas formas do nome hebraico ’ãdhonay ou ’ãdhônay ,54 "o Senhor, Adonai", aparecem no Antigo Testamento com "o" breve e com "o" longo (Is 6.1; Jz 13.8). O termo ocorre quase 450 vezes no Antigo Testamento, 310 vezes em conexão com o tetragrama e 134 vezes sozinho. É um nome próprio e significa literalmente "meu senhor" e, segundo Gesenius, é "somente usado para Deus" (1982, p. 12); forma "reservada como uma designação para Javé" (JENNI & WESTERMANN, vol. 1, 2001, p. 24). Adonai, "Senhor", é um nome divino e expressa a soberania de Deus no Universo. A desinência -ay indica plural, como acontece com o nome Elohim; o judaísmo considera Adonai comopluralis excellentiae. É diferente de ’ãdhôn,S5 "senhor, dono", referindo-se geralmente a homens, ou com o sufixo ’ãdhõní,s6 "meu senhor", forma pela qual Sara se dirigia a Abraão e Ana se dirigia a Eli (Gn 18.12; 1 Sm 1.15, 26).

Javé, o nome pessoal do Deus de Israel, é escrito pelas quatro consoantes mrP (YHWH) — o tetragrama. A escrita hebraica foi usada durante todo o período do Antigo Testamento sem as vogais. Elas nada mais são do que sinais gráficos diacríticos, criados pelos rabinos entre os séculos 5 e 9, e que são colocados sobre, sob e no meio de cada consoante. Até hoje, esses sinais ajudam muito na leitura de qualquer texto hebraico; todavia, quem já conhece a língua não precisa mais deles.

Êxodo 3.14 revela que Deus é o que tem existência própria, ou seja, existe por si mesmo. É o imutável, o que causa todas as coisas, é autoexistente, aquele que é, que era e o que há de vir, o eterno. Até hoje, os judeus religiosos preferem chamar Deus de "O ETERNO", como se encontra na edição de 1988 da Bíblia na Linguagem de Hoje e na edição da Sêfer da Bíblia Hebraica em lugar do tetragrama. Aqui, Deus explicou a Moisés o significado do nome Iavé.

Desde o patriarca Abraão até ao período do reino dividido, era costume invocar a Javé mediante o uso do seu nome (Gn 12.8; 13.4; 21.33; 1 Rs 18.24). Era necessário conhecer o nome para que se pudesse estabelecer um relacionamento de comunhão. Veja que Jacó perguntou ao anjo com quem lutava o seu nome (Gn 32.29). Manoá, o pai de Sansão, fez a mesma pergunta com o propósito de estabelecer um relacionamento espiritual (Jz 13.11- 17). Com Moisés, não foi diferente:
Então, disse Moisés a Deus: Eis que quando vier aos filhos de Israel e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me disserem: Qual é o seu nome? Que lhes direi? E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU.

Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós. E Deus disse mais a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel: O SENHOR, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me enviou a vós; este é meu nome eternamente, e este é meu memorial de geração em geração (êx 3.13-15).

Javé estabeleceu um memorial ao seu nome, anunciado aqui, mas concretizado por ocasião da promulgação da lei, quando foi oficializado o concerto do Sinai (Êx 20.24). Aqui está a base do tetragrama YHWH. No texto hebraico, encontramos a frase ’ehyeh asher 'ehyeh;57 "EU SOU O QUE SOU". A substituição do “y” de ‘ehyeh pelo w do tetragrama vem de hãwãh,58 forma arcaica e sinônimo de hãyâh,59 "ser, estar, existir, tornar-se, acontecer", cuja primeira pessoa do imperfeito60 é ‘ehweh, e cuja terceira pessoa é yhweh.
Na poesia hebraica, usa-se com frequência a forma reduzida Yah. "Já é o seu nome; exultai diante dele" (Sl 68.4, TB).61 Isso pode explicar a presença da letra "a" no nome Yahweh. "Parece provável que a pronúncia original tenha sido YaHWeH, tanto por causa da forma verbal correspondente, o imperfeito de hãwãh, arcaicamente escrito yahweh, como de representações mais recentes desse nome em grego pelas palavras iaoue e iabe" (HAR- RIS; ARCHER, JR.; WALTKE, 1998, p. 346).

A partir de 300 a.C. o nome Adonai passou gradualmente a ser mais usado que o tetragrama até que o nome Javé tornou- -se completamente impronunciável pelos judeus. Para evitar a vulgarização do nome e para que a forma não fosse tomada em vão, eles pronunciavam por reverência ’ãdhonãy cada vez que encontravam o tetragrama no texto sagrado, na leitura da sinagoga. Na Idade Média, os rabinos inseriram no tetragrama as vogais de adhonay (HARRIS; ARCHER, JR.; WALTKE, 1998, p. 347).

As vogais de 'HS ( adõnãy) são (,=«);( = o) e (., = ã). Elas foram inseridas no tetragrama sagrado, resultando na seguinte forma: nin\ O resultado disso é a pronúncia "YeHoWaH". Mas os judeus ainda hoje pronunciam "Adonai" para lembrar na leitura bíblica na sinagoga que esse nome é inefável. Esse enxerto no tetragrama resultou no nome híbrido YEHOWAH, que a partir de 1520 os reformadores difundiram como "Jeová". A forma híbrida "Jeová" não é bíblica, mas foi assim que o nome passou para a cultura ocidental; aos poucos, contudo, esse nome vem sendo substituído pela forma Iavé ou Javé.
Os nomes Adonai e Javé são tão sagrados para os judeus que eles evitam pronunciá-los na rua ou no cotidiano. O segundo nem mesmo nas sinagogas é pronunciado, e no dia a dia eles chamam Deus de há-shêm,62 "o Nome" (Lv 24.11, TB; 2 Sm 6.2).

Nos manuscritos da Septuaginta, encontramos kyrios,63 "dono, senhor, o Senhor" (BALZ & SCHNEIDER, 2001, vol. I, p. 2437), no lugar de ’ãdõnã(y) e yhvh. Alguns fragmentos gregos de origem judaica apresentam o tetragrama, mas outros usam kyrios. Isso não é novidade. Jerônimo (347-420) "conhece a prática de, em manuscritos gregos, inserir o nome de Deus (Yahweh) com caracteres hebraicos" (WÜRTHWEIN, 2013, p. 262). A Septuaginta, como tradução, foi submetida a revisões e recensões e, por isso, até hoje ninguém sabe qual foi exatamente o texto original ou o que foi alterado no transcorrer dos séculos. Uns afirmam que o nome kyrios é original: "Assim, no contexto de uma revisão arcaizante e hebraizante, o tetragrama parece ter sido inserido na tradução antiga no lugar de Kyrios" (op. cit., p. 262). Mas, para outros, é de origem cristã ou teria vindo dos judeus. O certo é que ambos foram usados desde a origem da tradução.

O QUE SIGNIFICA TOMAR 0 NOME DE DEUS EM VÃO?
Há diversas interpretações sobre o terceiro mandamento do Decálogo. Tomar o nome de Deus em vão, em hebraico, lashshãw‘,64 "em vão" (êx 20.7; Dt 5.11), fala sobre a honra e a santificação do nome de Deus. O termo shaw ‘ aparece 52 vezes no Antigo Testamento e seu significado é vasto: "fraude, engano, inutilidade, inútil, imprestável, falsidade, desonestidade, futilidade, vacuidade". Seguem alguns exemplos: sem valor, "trazer ofertas vãs” (Is 1.13, ARA); sem resultado, "De nada adiantou castigar" (Jr 2.30, NVI); palavras vazias, falsas, "confiam na vaidade" (Is 59.4) ou "confiam no que é nulo" (ARA); informação falsa, falsa testemunha (Êx 23.1; Dt 5.20); além de "vaidade" ür 18.15), usado em relação aos ídolos.

Alguns expositores afirmam que o significado original dessa palavra era a magia: "É possível de se imaginar que também em Israel houve épocas de propensão a fazer uso do nome de Javé para fins de práticas obscuras e nocivas à comunidade" (RAD, 2006, p. 181). No entanto, parece que o cerne deste mandamento é proibir o costume de juramento falso, pois o verdadeiro juramento se fazia mediante a invocação do nome de Deus (Lv 19.12). Era uma necessidade imperiosa que todos falassem a verdade, como o dever de cada um honrar o compromisso assumido com os homens e diante de Deus.

É dever de todos cumprir os votos feitos a Deus; a lei é clara sobre essa responsabilidade (Nm 30.2; Dt 23.21). Essa exigência divina se faz necessária por causa da inclinação humana à mentira. Era grande a falsidade no relacionamento entre familiares e amigos. Ninguém podia confiar em ninguém, já que a falta de sinceridade era a marca do povo. Não era uma questão de desvio ocasional, mas de estilo de vida (Jr 9.2-5). Uma sociedade não pode viver numa decadência dessa; a vida se torna insuportável.

Mas as autoridades religiosas de Israel classificaram os juramentos em duas categorias: os que podiam ser descumpridos e os que não podiam. Há uma lista deles em Mateus 5.33-37; 23.16- 22. O Senhor Jesus reprovou com veemência essa violação dos escribas e fariseus. A interpretação rabínica da época permitia violar o terceiro mandamento e fazer de conta que ele não havia sido violado.

O terceiro mandamento é um apelo à santificação do nome de Deus. Na oração "Pai Nosso", Jesus nos ensinou a abrir a oração santificando o nome de Deus: "Santificado seja o teu nome" (Mt 6.9). Isso nada tem que ver com a pronúncia do nome Javé. Os teólogos das testemunhas de Jeová estão equivocados ao defenderem a doutrina da vindicação do nome Jeová, pois o tetragrama nem mesmo aparece no texto grego do Novo Testamento. Deus é absolutamente santo, sua santidade é infinita e inigualável; ele é santo em si mesmo, em sua essência e natureza. Assim, as palavras de Jesus estão fundamentadas no Antigo Testamento (Sl 30.4; 97.12; 111.9; Is 29.23; Ez 36.20-23). Tal atributo é a característica prima de Javé, e isso expressava o pensamento do povo. O mandamento não visa tornar o nome de Deus santo, pois ele já é santo, mas significa reconhecer e reverenciar a Deus pelo que ele é. Não se trata de uma petição para que o povo em geral reconheça isso, mas para que expresse a reverência que a sua santidade exige (Lv 11.44; 19.2; 20.7; 1 Pe 1.16).

                                              Pr. Esequias Soares

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

O PADRÃO DA LEI MORAL - Lição 2

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                                       Texto Base: Dt 9:9-11; 10:1-5

“Então, vos anunciou ele o seu concerto, que vos prescreveu, os dez mandamentos, e os escreveu em duas tábuas de pedra” (Dt 4:13).


INTRODUÇÃO

A Lei Moral de Deus - expressão do Seu caráter, da Sua vontade, da Sua mente, expressão de toda Sua justiça - é a personificação dos dois grandes Mandamentos: amor para com o Deus Todo Poderoso e amor para com nossos semelhantes (Mt 7:12; 22:36-40; Rm 13:8-10). Esses dois Mandamentos citados por Jesus Cristo são o resumo dos Dez Mandamentos, que, por sua vez, são detalhados em todos os juízos e estatutos morais contidos na Bíblia inteira (Gn 26:5; Êx 15:26; Dt 4:1,2,6).

A Lei Moral foi proclamada por Deus no Monte Sinai (Êx 20:1-17) e escrita por Sua própria mão em duas tábuas de pedra (Êx 31:18; Êx 24:12; Dt 4:12,13; 5:4-7, 22). É a mesma lei dada no princípio a Adão e Eva, e aos patriarcas (Os 6:7; Gn 4:7; Gn 26:5). Ela é a base do Concerto de Deus com Seu povo, no Sinai (Êx 24:4,7,8; Hb 9:19,20).

Deus requereu de Israel e requer, também, de nós – Igreja do Senhor Jesus - duas atitudes em relação às Suas ordenanças: que possamos ouvir e obedecer (Dt 11:26,27). Desse modo, tornamo-nos Sua propriedade peculiar, Seu reino sacerdotal e Seu povo santo (Êx 19:5,6).

I. AS TÁBUAS DA LEI

Deus fez escrever os Dez Manda­mentos em duas tábuas de pedra – “Então disse o Senhor a Moisés: Sobe a mim ao monte, e fica lá; dar-te-ei tábuas de pedra, e a lei, e os mandamentos que escrevi, para os ensinares" (Êx 24:12). As tábuas foram guardadas dentro da arca durante séculos. Deu-se ao Tabernáculo o nome de "tenda do testemunho" (Nm 9:15; Nm 17:7,8;18:2; 2Cr 24:6) para lembrar aos israelitas que dentro da arca estava a Lei e que deviam viver de acordo com ela. Além de Êxodo 24:12, encontramos referências às duas tábuas em Êx 31:18 e Deuteronômio 10:1-5.

1. Formato.


“Era um jogo de duas tábuas com quatro faces. Não é possível saber qual era seu tamanho. A arca do concerto media um metro e dez centímetros de comprimento por 66 cm de largura e 66 cm de altura (Êx 25.10, NTLH). Cada uma dessas tábuas não devia passar de 75 cm x 55 cm x 55 cm, considerando que elas foram colocadas na arca juntamente com a vara de Arão, que floresceu, e um vaso com o maná (Hb 9.4). Um homem podia transportá-las tranquilamente” (LBM. CPAD).

2. A divisão das tábuas. Segundo Leo G. Cox, a divisão do Decálogo é entendida de modos variados. O judaísmo hodierno reputa que Êxodo 20:2 ordena a crença em Deus e é o primeiro mandamento, e combina os versículos 3 a 6 de Êxodo 20 no segundo mandamento. A divisão aceita nos primórdios da igreja torna Êxodo 20:3 o primeiro mandamento e Êxodo 20:4-6 o segundo. Esta posição foi apoiada por unanimidade pela igreja primitiva, e é mantida hoje pela Igreja Ortodoxa Oriental e pela maioria das igrejas reformadas.

As Igrejas Ortodoxas e Reformadas
A Igreja Católica Romana e as Igrejas Luteranas
1. Não terás outros deuses diante de mim (Ex 20:3).
1. Não terás outros deuses e não farás imagens.
2. Não farás imagens de escultura (Ex 20:4-6).
2. Não tomarás o nome de Deus em vão.
3. Não tomarás o nome de Deus em vão (Ex 20:7).
3. Lembra-te do dia de sábado.
4. Lembra-te do dia de sábado, para o santificar (Ex 20:8-11).
4. Honra teus pais.
5. Honra teus pais (Ex 20:12).
5. Não matarás.
6. Não matarás (Ex 20:13).
6. Não adulterarás.
7. Não adulterarás (Ex 20:14).
7. Não furtarás.
8. Não furtarás (Ex 20:15).
8. Não dirás falso testemunho.
9. Não dirás falso testemunho (Ex 20:16).
9. Não cobiçarás a casa de teu próximo.
10. Não cobiçarás a casa de teu próximo, nem sua mulher ou servo, ou animal (Ex 20:17).
10. nem sua mulher ou servo, ou animal.

Seguindo o modelo proposto por Calvino, baseado em Agostinho e Orígenes, percebemos que os primeiros quatro mandamentos, correspondente a “primeira tábua”, tratam da relação vertical, ou seja, das responsabilidades do homem para com seu Criador, enquanto a "segunda tábua", ou os seis mandamentos restantes, trata da relação horizontal, isto é, das responsabilidades do homem para com seu próximo.

Reencontramos esta dupla relação no ensino de Jesus Cristo, quando o Mestre respondeu a respeito do grande mandamento: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas"(Mt 22:37-40).

3. A rebelião (Ex 32:15-29). Estudando as Escrituras, não encontramos nenhum outro tipo de transgressão
que seja tratada com tanta severidade por Deus como a da rebelião. Vemos pessoas ficando gravemente enfermas (Nm 12:10), reis perdendo o seu trono (1Sm 13:13,14) e gente sendo morta por um juízo de Deus, simplesmente pelo fato de que se levantaram contra Sua autoridade (Nm 16:1-33). Rebelião contra Deus é como pecado de feitiçaria. Está escrito em 1Samuel 15:23: “Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria...”. E está escrito que nenhum feiticeiro entrará no reino do Céu (Gl 5:20,21). 

Israel se rebelou contra Deus, ainda no Sinai, com o culto do bezerro de ouro. Enquanto Moisés se encontrava no monte Sinai recebendo das mãos do Senhor as tábuas da Lei, o povo começou a impacientar-se. Acostumados ao politeísmo egípcio e não possuindo ainda uma fé enraizada no Senhor, exigiram que Arão fizesse “... deuses que vão adiante de nós”.

Buscando ganhar tempo e contentar Israel, Arão deixa de ser homem de Deus e se faz homem do povo. Dos pendentes e objetos de ouro que possuíam os hebreus, forma ele um bezerro de fundição. Da idolatria, a congregação israelita passa rapidamente à apostasia: “Estes são teus deuses, ó Israel, que te tiraram da terra do Egito” (Ex 32:4).

Um abismo chama outro abismo: a idolatria trouxe a apostasia, e a apostasia descambou na permissividade: “e o povo assentou-se a comer e a beber; depois, levantaram-se a folgar” (Ex 32:6).

Segundo Paul Hoff, a rebelião vergonhosa de Israel acarretou-lhe castigo, apesar da intercessão de Moisés e da misericórdia de Deus. Os israelitas tinham de aprender que não é coisa insignificante menosprezar a revelação de um Deus santo e violar sua aliança com leviandade. Primeiro tiveram de ver como as tábuas da lei foram quebradas, ato que simbolizou que a idolatria deles havia anulado o Concerto. Segundo, foram obrigados a beber a água misturada com o pó do bezerro de ouro, como símbolo de que tinham de suportar a culpa de seu pecado. Depois, Moisés convidou todos os que quisessem unir-se a ele. Os levitas puseram-se ao lado de Moisés e lhe obedeceram matando a espada três mil dos que provavelmente eram os mais obstinados dos idólatras. Os levitas, por obedecerem à palavra do Senhor (Êx 32:27,28), foram constituídos na tribo sacerdotal de Israel (Êx 32:29).

O castigo que os israelitas sofreram foi severo, mas necessário para evitar que viessem a ser uma nação de idólatras.

Por que o Senhor foi, é e será tão severo com os rebeldes? 

Ø  Porque a rebelião questiona o senhorio de Deus. Deus não tolera a rebelião porque ela questiona a base que sustenta o Universo, ou seja, o seu Senhorio. Se existe algo que Deus não pode abrir mão é do governo sobre todas as coisas. Ao criar o homem e colocá-lo no Jardim do Éden com todo o respaldo para viver feliz e desfrutar da Terra, o Senhor Deus deixou claro que a única condição para que tudo permanecesse bem, era que Adão e seus descendentes se sujeitassem a Ele. A figura da “árvore do conhecimento do bem e do mal” colocada no meio do jardim com seu fruto proibido era um ícone da autoridade divina, um aviso que o homem deveria entender assim: “Você pode dominar sobre tudo, mas quem manda em você sou Eu, o Senhor”. Ao comer daquele fruto, Adão e Eva estavam se insurgindo, proclamando sua independência e, como resultado, receberam toda a maldição do pecado, não somente sobre si, mas sobre toda a raça humana que os seguiu.

Ø  Porque a rebelião nos assemelha a Lúcifer, o querubim corrompido. Foi exatamente uma insurreição contra a soberania do Senhor Deus, que fez com que Lúcifer e um terço dos anjos fossem expulsos do céu e se tornassem este reino asqueroso de demônios que atormenta a Terra. Quando nos rebelamos, nós que fomos feitos para manifestar a glória e o caráter de Cristo, assumimos uma identificação completamente oposta, assemelhando-nos àquele que se tornou o maior inimigo de Deus, o Diabo.

Ø  Porque a rebelião contamina. A rebelião tem um terrível e devastador poder de contaminação. Rebeldes costumam levantar insurreições, são como o estopim de uma grande bomba. Ao lado de um rebelde logo se levantarão muitos outros. Por isso, não podem ser deixados à revelia, agindo no meio da sociedade como células cancerosas que se multiplicam em sua loucura.

4. Deus renova o Concerto. Moisés intercede pelo povo. Ele pediu que o Senhor perdoasse completamente o pecado do povo e o restaurasse espiri­tualmente. Estava disposto a oferecer-se a si mesmo em lugar de seu povo, e não somente daria a sua vida, mas também estava disposto a renunciar à vida eterna a fim de obtê-la para Israel.

A intercessão de Moisés foi grandemente recompensada. O intercessor voltou a subir ao Monte Sinai e aí o Concerto foi renovado e foram escritas novas tábuas da lei. Deus concedeu a Moisés uma nova revelação do caráter divino proclamando seu nome: "Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência... que perdoa... que ao culpado não tem por inocente" (Êx 34:6,7).

Conquanto Deus seja justo quando castiga os malfeitores, sua maior glória é seu amor perdoador. Sua justiça e misericórdia andam sempre juntas como se vê no caso da cruz do Calvário. Na ocasião aqui descrita, Deus manifestou sua misericórdia perdoando a seu povo.

Quando Moisés desceu do monte, seu rosto resplandecia com a glória de Deus. Isto nos ensina duas verdades: a formosura de caráter e a força espiritual vêm da comunhão íntima com Deus; a pessoa na qual se vê o brilho de Deus não percebe que está refletindo a glória divina, e quando o sabe, deixa de ser radiante.

II. OS DEZ MANDAMENTOS

Os "Dez Mandamentos" revelam, na aliança de Deus com Israel, o próprio caráter de Deus e, como tal, são uma demonstração do comportamento que Deus requer de todo ser humano em relação a Deus e ao semelhante, cuja profundidade e alcance foram bem demonstrados por Jesus no sermão do monte.

Concordo com Solano Portela quando diz - em seu livro “A Lei de Deus Hoje” - que os Dez Mandamentos tem validação histórica, didática, reveladora e normativaHistórica porque está entrelaçada na história da revelação de Deus e da redenção do Seu povo. Didática porque ela nos ensina o respeito ao nosso Criador e aos nossos semelhantes. Reveladora porque nos revela o caráter e a santidade de Deus, bem como a pecaminosidade das pessoas. Normativa porque ela especifica com bastante clareza o procedimento requerido por Deus a cada uma das pessoas que habitam a sua criação, em todos os tempos.

1. Origem do Termo. A expressão "Dez Mandamentos”, também conhecida como “Decálogo”, vem de dois termos gregos: “deka”(dez), e “logos “(palavra), ou seja, “dez palavras”. “Esses Mandamentos, dados por Deus a Moisés, no monte Sinai, tornaram-se a base da legislação levítica. Uma das mais duradouras legislações de todos os tempos. O Decálogo é mais que um código de leis. Antes, é a base do pacto teocrático (governo de Deus) que separou o povo de Israel como um veículo do favor divino, como um elemento através do qual a mensagem espiritual haveria de ser transmitida. Os inúmeros preceitos que aparecem em seguida, governando cada aspecto da vida diária, ensinam-nos que Deus está atento a todos os aspectos da nossa vida. Esse elaborado sistema tinha o intuito de governar a vida física dos israelitas, mas também tinha funções educativas. O próprio Decálogo estabelece alguns princípios perfeitamente éticos, cuja aplicação pode ser vasta e abrangente” (CHAMPLIN, 2004, pp. 25,125).

O termo “dez mandamentos” ou “dez palavras”, só aparece três vezes na Bíblia: Êxodo 34:28 e Deuteronômio 4:13; 10:4:

- "E ali esteve com o Senhor quarenta dias e quarenta noites; não comeu pão nem bebeu água; c escreveu nas tábuas as palavras da aliança, as dez palavras" (Êx 34:28);

- "Então vos anunciou ele a sua aliança, que vos prescreveu, os dez mandamentos, e os escreveu em duas tábuas de pedra" (Dt 4:13);

- "Então escreveu o Senhor nas tábuas, segundo a primeira escritura, os dez mandamentos que ele vos falara no dia da congregação, no monte, no meio do fogo" (Dt 10:4).

2. Classificação. “As autoridades religiosas de Israel sempre classificaram os Dez Mandamentos em dois grupos: teológico e ético; vertical e horizontal; relação do ser humano com Deus e com o próximo. Os primeiros mandamentos são teológicos e se resumem no primeiro e grande mandamento (Dt 6.5; Mt 22.37,38; Mc 12.30; Lc 10.27). Os da segunda tábua são éticos, e consistem em amar o próximo como a si mesmo (Lv 19.18; Mt 22.39; Mc 12.31)” (LBM.CPAD).

Assim, partindo da observação dos aspectos vertical e horizontal do Decálogo, traçamos o seguinte esboço:

1. O testemunho da singularidade e exclusividade de Deus (Êx 20:3).

2. O testemunho da incomparabilidade de Deus (Êx 20:4-6).

3. O testemunho da santidade de Deus (Êx 20:7).

4. O testemunho do senhorio de Deus sobre o tempo (Êx 20:8-11).

5. A proteção da velhice (Êx 20:12).

6. A proteção da vida (Êx 20:13).

7. A proteção do matrimonio e do corpo (Êx 20:14).

8. A proteção da propriedade e do trabalho (Êx 20:15).

9. A proteção da honra (Êx 20:16).

10. A proteção contra as ambições erradas e a cobiça (Êx 20:17).

3. O significado dos dez mandamentos. Paul Hoff, em seu Livro “O Pentateuco”, explica o significado dos Dez Mandamentos, conforme abaixo:

a) A unicidade de Deus - "Não terás outros deuses diante de mim”. Há um só Deus e só a ele havemos de oferecer culto. A adoração a anjos, a santos ou qualquer outra coisa é violação do primeiro mandamento.

b) A espiritualidade de Deus - "Não farás para ti imagem de escultura... nem te encurvarás a elas" (Ex 20:4,5). Proíbe-se não somente a adoração de imagens ou de deuses falsos, mas também prestar culto ao verdadeiro Deus em forma errada. Tais coisas degradam ao Criador. Deus é espírito e não tem forma.

As palavras "porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem" (Êx 20:5) devem ser interpretadas à luz do caráter de Deus e de outras Escrituras. Deus é zeloso no sentido de Ser exclusivista, não tolerando que seu povo preste culto a outros deuses. Como um marido que ama a sua esposa não permite que ela reparta seu amor com outros homens, Deus não tolera nenhum rival.

Deus não castiga os filhos pelos pecados de seus pais senão nos casos em que os filhos continuem nos pecados dos pais. Castiga os que o "aborrecem", mas não os arrependidos. "A alma que pecar, essa morrerá"; "o filho não levará a maldade do pai, nem o pai levará a maldade do filho" (Ez 18:20). Em vez disso, a maldade passa de geração a geração pela influência dos pais e, quando chega a seu ponto culminante, Deus traz castigo sobre os pecadores (Gn 15:16; 2Reis 17:6-23; Mt 23:32-36).

c) A santidade de Deus - "Não tomaras o nome do Senhor teu Deus em vão”. Este mandamento inclui qualquer uso do nome de Deus de maneira leviana, blasfema ou insincera. Deve-se reverenciar o nome divino porque revela o caráter de Deus.

Originalmente este mandamento se referia a não jurar pelo nome de Deus se o juramento fosse falso (Lv 19:12), mas se permitia jurar pelo seu nome (Dt 10:20). Contudo, Jesus proibiu terminantemente jurar pelas coisas sagradas (Mt 5:34-37). A simples palavra de um filho de Deus deve ser verdadeira, sem recorrer a juramentos.

d) A soberania de Deus - "Lembra-te do dia do sábado, para o santificar". Um dia da semana pertence a Deus. Reconhece-se a soberania de Deus guardando o dia de repouso, visto que esse dia nos lembra que Deus é o Criador a quem devemos culto e serviço. "Santificar" o dia significa separá-lo para culto e serviço.

e) Respeito aos representantes de Deus - "Honra a teu pai e a tua mãe". O homem que não honra a seus pais tampouco honrará a Deus, pois esta é a base do respeito a toda a autoridade.

f) A vida humana é sagrada - "Não matarás". Este mandamento proíbe o homicídio, mas não a pena capital, visto que a própria lei estipulava a pena de morte. Também se permitia a guerra, visto como o soldado atua como agente do estado.

g) A família é sagrada - "Não adulterarás". Este mandamento protege o matrimônio por ser uma instituição sagrada instituída por Deus. Isto vigora tanto para o homem como para a mulher (Lv 20:10).

h) Respeito à propriedade alheia: "Não furtarás". Há muitas maneiras de violar este mandamento, tais como não pagar suficiente­mente ao empregado, não fazer o trabalho correspondente ao salário combinado, cobrar demasiado e descuidar a propriedade do senhor.

i) A justiça: "Não dirás falso testemunho". O testemunho falso, desnecessário, sem valor ou sem fundamento constitui uma das formas mais seguras de arruinar a reputação de uma pessoa e impedi­da de receber tratamento justo por parte dos outros.

j) O controle dos desejos: "Não cobiçarás". A cobiça é o ponto de partida de muitos dos pecados contra Deus e contra os homens.

III. A QUESTÃO DOS PRECEITOS DA LEI

1. Uma só lei. “Quanto à lei, algo precisa ser dito sobre a alegada divisão em lei moral, lei cerimonial e lei civil. Desde muito tempo qualifica-se o Decálogo como lei moral, enquanto a parte da legislação mosaica que trata das cerimónias de sacrifícios e festas religiosas, entre outras, é chamada de lei cerimonial, e os preceitos de caráter jurídico são considerados lei civil. A visão tripartite da lei em preceitos morais, cerimoniais e civis não vem das Escrituras. Os judeus jamais dividiram sua lei em moral e cerimonial. Ao longo da história, eles observaram o sábado e a circuncisão com o mesmo cuidado. Jesus disse que a circuncisão está acima do sábado (João 7:22,23)” (Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. p. 25. CPAD).

Segundo o pr. Esequias Soares, o Decálogo é a única parte do Pentateuco escrita "pelo dedo de Deus" (Êx 31:18), linguagem figurada que, segundo Agostinho de Hipona, indica "pelo Espirito de Deus" e, de acordo com Clemente de Alexandria, "pelo poder de Deus". É também a única porção da lei que Israel ouviu partir da voz do próprio Deus no monte quando ele transmitia essas “dez palavras” (Êx 19:24,25; 20:18-20). Os demais preceitos foram transmitidos por Javé exclusivamente a Moisés. Além dessas características, elas servem como esboço de toda a lei de Moisés. Todavia, isso não coloca o seu conteúdo numa posição acima da legislação mosaica porque toda a lei veio de Deus e "toda a Escritura é inspirada por Deus" (2Tm 3:16 - ARA).

2. A Lei do Senhor e a lei de Moisés. Embora muitas vezes a Lei do Senhor dada através de Moisés seja chamada de Lei de Moisés (Js 8:31; 1Rs 2:3; Ed 7:6; Lc 2:22;24:44; 1Co 9:9), o registro do capítulo 20 do livro do Êxodo nos mostra que Deus é a origem da Lei (Êx 20:1).

“Durante todas as negociações entre israelitas e egípcios, quando os primeiros eram escravos dos últimos, o papel de Moisés era, antes de mais nada, o de mediador. Deus não falou com Faraó, mas mandou Moisés lhe falar. Ele continuou nesse papel durante a Páscoa – ‘Falai a toda a congregação de Israel’ (Êx 12.3) e no êxodo – ‘Fala aos filhos de Israel’ (Êx 14.2). No Sinai, sua função continuava sendo a de transmitir a palavra de Deus ao povo  - ‘Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel’ (Êx 19.6). Por outro lado, na revelação do Decálogo esse aspecto foi omitido. Moisés ouviu juntamente com o povo, ao qual Deus falou de modo direto (Êx 20.1). Essa é uma forma de a Bíblia nos dizer que, quando lemos o Decálogo, estamos frente a frente com a excelência da vontade de Deus para seus seguidores, no que diz respeito a estilo de vida e compromisso moral. Observe a sequência aos Dez Mandamentos: ‘eu falei convosco desde os céus’ (Êx 20.22), não do Sinai” (HAMILTON, 2007, p. 215).

3. A lei de Deus. Todo o Pentateuco é considerado a Lei de Deus e não meramente os Dez Mandamentos (ler Josué 24:26). O que de fato existem são preceitos morais, cerimoniais e civis, mas a Lei é uma só. “É chamada de Lei de Deus porque veio de Deus, e lei de Moisés porque foi ele o mediador entre Deus e Israel (Ne 10:29). Ambos os termos aparecem alternadamente na Bíblia (Ne 8:1,2,8,18; Lc 2:22,23). A cerimonia dos holocaustos, a circuncisão e o preceito sobre o cuidado dos bois são igualmente reconhecidos como lei de Moisés (2Cr 23:18; 30:16; At 15:5; 1Co 9:9)” (LBM – CPAD).

IV. A LEI DA GRAÇA

1. A transitoriedade da Lei. Em João 15:10, lemos que Jesus cumpriu lodos os mandamentos de Seu Pai. Em Mateus 5:17,18, também lemos que Jesus cumpriu toda a lei, os preceitos morais, cerimoniais e civis. Todavia, na opinião dos fariseus expressa em João 5:18, Jesus teria quebrado a lei da santificação do sábado. O incidente aqui relacionado não se refere à validade da lei mosaica em si, mas à sua interpretação.

Enquanto os fariseus, com sua filosofia casuísta e astúcia precisa, queriam defender e cumprir rigorosamente os preceitos a respeito do sábado, Jesus apoiou os discípulos que debulharam grãos (Mt 12:1-8) e operou várias curas no sábado (Mt 12:9-14; Lc 13:10-17; 14:1-6). Além disso, Jesus declarou que é Senhor do sábado (Mt 12:8) e que o sábado foi estabelecido por causa dos homens, e não vice-versa (Mc 2:27).

Jesus rejeitou a interpretação legalista ou puramente moralista da lei mosaica (Gl 1:14). Isto se torna ainda mais evidente diante da mulher descoberta em flagrante adultério. A lei mandava que ela fosse apedrejada até a morte (Lv 20:10; Dt 22:22-24); Jesus, porém, com Sua graça perdoadora e restauradora, redimiu a mulher e convidou-a a não mais pecar (João 8:11).

O apóstolo Paulo é muito claro quando fala que “o ministério da morte, gravado com letras em pedras [...] era transitório” (2Co 3:7,11). A verdade moral contida no sistema mosaico, como disse o teólogo Chafer, “foi restaurada sob a graça, adaptada à graça e não à lei”. Isso diz respeito a sua função e não compromete a sua autoridade como revelação de Deus e parte das Escrituras divinamente inspiradas (2Tm 3:16,17). Várias vezes Jesus declarou que a lei mosaica é a Palavra de Deus (Mc 7:13; João 5:38) ou a lei de Deus (Mt 15:6). Repetidas vezes encontramos a frase "está escrito", indicação da validade da lei (Mt 4:4;11:10,etc), e a pergunta retórica "não lestes?"(Mt 12:3a).

Jesus Cristo não exige de Seus discípulos a execução exterior da lei, mas sim que eles permaneçam em Cristo (João 15:4,5). O Espírito Santo é quem esclarece e mostra o significado e as implicações práticas disso, de acordo com tudo aquilo que Cristo ensinou (João 14:26;15:26;16:13). Em Romanos 8:4, o apóstolo Paulo enfatiza, com bastante clareza e exatidão, que a lei cumpre-se em nós quando andamos no Espírito.

“O Espírito Santo operando dentro do crente, capacita-o a viver uma vida de retidão que é considerada o cumprimento da lei moral de Deus. Sendo assim, a operação da graça e a guarda da lei moral de Deus não conflitam entre si (cf. Rm 2:13; 3:31; 6:15; 7:12,14). Ambas revelam a presença da justiça e da santidade divinas” (Bíblia de Estudo Pentecostal).

2. A Graça. Segundo Paulo, nós estamos debaixo de uma nova aliança caracterizada pela graça (Rm 8:6-17). A Graça é a presença e o amor de Deus em Cristo Jesus, transmitidos aos crentes pelo Espírito Santo, e que lhes outorga misericórdia, perdão, querer e poder para fazer a vontade de Deus (1Co 15:10 Fp 2:13). Toda atividade da vida cristã, desde o seu início até o fim, depende desta graça divina. Deus concede graça ao crente para seja “liberto do pecado” (Rm 6:20,22), para que nele opere “tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2:13), para crescer em Cristo (2Pe 3:18) e para testemunhar de Cristo (At 4:33; 11:23).

A lei diz “faça e viva”, no entanto, a graça diz “viva e faça”. Por esta razão os cristãos estão debaixo da graça, e não da lei (Rm 6:14; Gl 3:23-25). A lei não tem domínio sobre nós (Rm 7:1-4). Graças a Deus!

3. Os Mandamentos de Cristo. Jesus falou diversas vezes sobre o Novo Mandamento, a Lei de Cristo, o amor operado pelo Espírito Santo na vida cristã:

“Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis” (João 13:34).

- “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, este é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele” (João 14:15,21).

- “Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor” (João 15:10).

Está escrito em Rm 13:8-10:

8. A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei.

9. Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás, e, se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.

10. O amor não faz mal ao próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor.

O apóstolo Paulo escreveu aos Gálatas:

“Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (G 5:14).

Portanto, o mandamento de Cristo é a fé nEle, é a lei do amor e não a letra da lei. Quem ama a Cristo tem a Lei do Espírito em seu coração.

CONCLUSÃO

A Lei de Deus é, antes de tudo, um instrumento de diagnóstico para expor e condenar o pecado, em preparação para o evangelho. Entretanto, para a pessoa perdoada e capacitada peio Espírito através da fé, a lei é também um guia moral, uma norma de comportamento cristão. A ética cristã está baseada nos Dez Mandamentos, mas é determinada e decidida pelo amor (Rm 13:8), guiada e direcionada pelo Espírito Santo (Rm 8:4) e cumprida cm Cristo (Mt 5:15-18).

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