sábado, 30 de maio de 2015

O Novo Testamento reivindica inspiração divina




Há dois movimentos básicos na compreensão das reivindicações do Novo Testamento a respeito de sua inspiração. Primeiramente temos a promessa de Cristo de que o Espírito Santo guiaria os discípulos no ensino de suas verdades, que constituem o fundamento da igreja. Em segundo lugar, há o cumprimento aclamado disso no ensino apostólico e nos escritos do Novo Test
amento.

A promessa de Cristo a respeito da inspiração

Jesus nunca escreveu um livro. No entanto, endossou a autoridade do Antigo Testamento (v. cap. 3) e a promessa de inspiração para o Novo Testamento. Em várias ocasiões, o Senhor prometeu a concessão de autoridade divina para o testemunho apostólico dele mesmo.

A comissão dos Doze. Quando o Senhor enviou seus discípulos para pregarem o reino dos céus (Mt 10.7), ele lhes prometeu a direção do Espírito Santo. "Naquela mesma hora vos será concedido o que haveis de dizer, pois não sois vós que falareis, mas o Espírito de vosso Pai é quem fala em vós" (Mt 10.19,20; cf. Lc 12.11,12).A proclamação que os apóstolos fizessem de Cristo teria origem no Espírito de Deus.

O envio dos setenta. A promessa da unção divina não se limitava aos Doze. Quando Jesus enviou os setenta, para que pregassem "o reino de Deus" (Lc 10.9), ordenou-lhes: "Quem vos ouve, a mim me ouve; quem vos rejeita, a mim me rejeita..." (Lc 10.16). Eles voltaram reconhecendo a autoridade de Deus até mesmo sobre Satanás em seu ministério (Lc 10.17-19).

O sermão do monte das Oliveiras. Em seu sermão no monte das Oliveiras, Jesus reafirmou sua promessa antiga aos discípulos: "... não vos preocupeis com o que haveis de dizer. O que vos for dado naquela hora, isso falai, pois não sois vós os que falais, mas o Espírito Santo" (Mc 13.11). As palavras que pronunciassem viriam de Deus, mediante o Espírito; não viriam deles mesmos.

Os ensinos durante a última ceia. A promessa da orientação do Espírito Santo ficaria mais claramente definida por ocasião da última ceia. Jesus lhes prometeu: "Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito" (Jo 14.26). Eis por que Jesus não escreveu seus ensinos. O Espírito daria nova vida à memória dos discípulos que os aprenderam; seriam orientados pelo Espírito em tudo quanto o Senhor lhes havia ensinado. De fato, disse Jesus: "Quando vier o Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade" (Jo 16.13). "Toda a verdade" ou "todas as coisas" que Cristo ensinara seriam relembradas aos discípulos pelo Espírito. O ensino apostólico seria inspirado pelo Espírito de Deus.


A Grande Comissão. Quando Jesus enviou seus discípulos — "... ide e fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado" (Mt 28.19,20) — , fez-lhes a promessa também de que teriam toda a autoridade nos céus e na terra para realizar a tarefa. A palavra dos discípulos seria a Palavra de Deus.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

As Limitações dos Discípulos - Lição 9




Tropa de Elite

Por ocasião da morte de Osama Bin Laden em 2011, o mais temido terrorista do mundo islâmico, a revista Época trouxe uma extensa matéria sobre o assunto. Foi dado amplo destaque ao comando militar norte-americano denominado de SEALs como sendo o responsável por essa proeza. De acordo com o jornal inglês The Telegraph, a eliminação do terrorista número 1 “foi uma intervenção cirúrgica, levada a cabo por um pequeno grupo treinado para evitar efeitos colaterais”.
O grupo, denominado de SEAL TEAM 6 da Marinha americana, é formado a partir de uma rigorosa seleção e é considerado como o mais bem treinado do mundo. Os seus componentes buscam a perfeição em seus treinamentos a fim de evitar cometerem erros quando são enviados em alguma missão.

De acordo com a revista Época:

Os SEALs são super-soldados, treinados por dois anos além do normal para fuzileiros navais e mantidos pelo governo com um orçamento de US$ 1 bilhão por ano. No treinamento, disparam
3 mil tiros por semana, mais do que os colegas de Forças Armadas disparam em um ano inteiro. O nome é uma corruptela dos atributos especiais da tropa: São capazes de realizar operações no mar (“sea”, em inglês), no ar (“air”) e na terra (“land”). Estima-se que existam hoje 2,5 mil soldados SEAL em atividade.
O SEAL Team 6 é um grupo dentro dos SEALs escolhido pela Marinha para realizar as missões mais difíceis, normalmente em parceria com a CÍA, a agência de inteligência do governo americano. Oficialmente, o grupo sequer existe. Um dos antigos membros do Team 6, o atirador de elite Howard Wasdin, escreveu um livro sobre seus tempos de combatente, a ser lançado na semana que vem. A primeira frase do livro explica em poucas palavras a importância da tropa: “Quando a Marinha americana precisa de seus melhores homens, envia os SEALs. Quando os SEALs precisam de seus melhores homens, enviam o SEAL Team 6”, escreveu Wasdin.
HELL WEEK nos últimos cinco dias de treinamento, conhecidos como “Semana Infernal”, os postulantes a SEAL passam por uma simulação de guerra, com exercícios físicos extenuantes, tiros e explosões. O treinamento dessa equipe é semelhante à formação das principais tropas de elite no mundo. O exemplo brasileiro mais próximo é o do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio, o Bope, consagrado no filme Tropa de Elite. A diferença é que o regime imposto aos soldados SEAL é muito mais longo e extenuante. Segundo o site da revista americana Newsweek, os últimos cinco dias de treinamento são conhecidos como “Hell Week” (“Semana Infernal”, em tradução livre), com simulação de um ambiente de guerra. Os soldados são submetidos a rigorosos testes físicos em meio a tiros e explosões. Assim como acontece no treinamento do Bope, no Rio, quem não resiste à provação pode tocar uma sineta e desistir. Ainda segundo a Newsweek, dois em cada três soldados “pedem para sair”.1

Quando o presidente Barak Obama anunciou a morte de Bin Laden, a mídia imediatamente posicionou suas lentes rumo a esse super comando. Seus soldados foram ovacionados como heróis nacionais, tornaram-se motivo de orgulho da nação e admiração no mundo inteiro. Que exército não gostaria de ter em suas fileiras homens desse nível?

A Lógica do Reino de Deus

É bastante conhecida a filosofia que afirma que somente os mais aptos sobrevivem; que o mercado é seletivo, escolhendo os melhores e excluindo os piores. Essa é a lógica! Como seres racionais estamos habituados com os princípios governados pela lógica formal. Todavia, no reino de Deus as coisas nem sempre são assim. Muitas vezes essa “ló- gica do reino se apresenta totalmente invertida. Por exemplo, quem não está disposto a perder também não ganha (Fp 3.7-8); quem não dá também não recebe (At 20.35); quem não perdoa também não é perdoado (Mt 6.13); quem não se humilha também não é exaltado (Lc 14.1); quem busca primeiramente as coisas secundárias não receberá as primárias (Mt 6.33); quem quiser ser o maior então deverá se tornar pequeno (Lc 22.26).

Isso pode ser visto com toda clareza no processo de “seleção” feito por Deus. Quem Ele escolhe?
“Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos. Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. Porque vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele. Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção; para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (1 Co 1.22-31).

Aqui aparece uma lógica que parece não ter lógica alguma! Paulo fala que Deus escolheu não os melhores, mas escolheu as coisas loucas, fracas, humildes, desprezíveis e que não são! Deus foi até ao lixão da humanidade e dali escolheu as suas escórias. Por outro lado, a sabedoria de Deus transforma em tolo aquele que parecia sábio (w.19-22); transforma em fraco quem achava que era forte (w. 22-25) e deu realeza a quem não possuía nenhuma (w. 26-29).

O expositor bíblico William Barclay destacou esse fato. Tanto os gregos, conhecidos pela sua cultura, como os judeus piedosos, tinham em conta os cristãos como néscios. Paulo faz uma citação livre do Profeta Isaías (Is 29.14 e 33.18) para mostrar que a sabedoria humana havia fracassado. Isso porque o mundo com toda a sua sabedoria não havia chegado ao conhecimento de Deus e continua buscando e tentando alcançá-la. Essa busca, sem sucesso, foi permitida por Deus para mostrar sua própria incapacidade e preparar o caminho para Jesus, a verdadeira sabedoria.

A mensagem pregada pelos primitivos cristãos (At 2.14-39; 3.12-26; 4.8-12 e 10.36-43), que provocou escândalo entre os judeus e tornou-se loucura para os gregos, pode ser resumida como segue:
1. Consistia no anúncio da chegada do reino de Deus;
2. Era fundamentada no anúncio da morte e ressurreição de Jesus;
3. Demonstrava que o que eles pregavam era cumprimento das profecias;
4. Era de natureza escatológica, isto é, mostra que Jesus voltará outra vez;
5. Chamava as pessoas ao arrependimento, mostrando que dessa forma era recebido o dom do Espírito Santo.2
Barclay observa que os judeus se escandalizaram com essa mensagem por várias razões. Primeiramente os judeus não podiam aceitar que alguém que fora morto em uma cruz, instrumento de maldição para eles (Dt 21.23), fosse escolhido por Deus para ser o Messias. Ao contrário de tudo isso, os judeus estavam na expectativa de um Messias político, guerreiro que enfrentaria o Império Romano com a força das armas.

Os gregos, por outro lado, não viam qualquer sentido na mensagem dos apóstolos por outras razões. Os gregos achavam uma falta de bom senso a ideia de um Deus que se fez homem, tornando-se vulnerável como os mortais, sentindo fome e dores. Deus, na concepção deles, era incapaz de possuir os sentimentos tão comuns aos mortais. Era o que eles denominavam de aphateia. Para um dos seus principais filósofos, Plutarco, era um insulto a Deus envolvê-lo em assuntos humanos. Portanto, a ideia de Deus se fazendo homem, conhecida na teologia cristã como encarnação, era totalmente repulsiva para os gregos. Não é de admirar que quando o apóstolo Paulo pregou Jesus e a ressurreição em Atenas, os gregos o ridiculizaram. Eles achavam que a “ressurreição”, que em grego é uma palavra feminina, seria a esposa de Jesus (At 17.32).

Homens, não Deuses!

Na cultura contemporânea traços dessa mentalidade judaica e grega ainda persistem e contaminaram setores do cristianismo institucional. Mas não são esses os princípios que apreendemos do cristianismo primitivo. Na escolha dos discípulos de Jesus não vemos o mérito sendo usado como critério de seleção. Pelo contrário, vemos a graça de Deus lidando com as imperfeições. Esses homens até mesmo falharam quando esperávamos que acertassem.
Por serem discípulos de Jesus, começamos a imaginar que esses homens eram os melhores em suas áreas. Gostaríamos que os discípulos de Jesus fossem uma espécie de SEAL TEAM 6. E mais, por terem aprendido aos pés do maior Mestre da história da humanidade, pensamos que os mesmos chegaram à perfeição. Mas não é isso que descobrimos quando lemos os Evangelhos. As narrativas bíblicas em vez de apresentarem heróis, mostram homens rodeados de imperfeições e limitações. Aprenderam sim com o Mestre e nunca mais foram as mesmas pessoas, mas não deixaram de ser humanos.
Às vezes se tem a ideia de que a fé cristã para ser genuinamente bíblica deve anular todas as fragilidades humanas, eliminar todos as suas limitações. Mas não é assim que a coisa acontece, nem tampouco é isso o que ensinam os Evangelhos. Deus trabalha sim com homens, mas homens imperfeitos, limitados e que constantemente estão dependendo dEle. Esse princípio é valido para todas as áreas da vida cristã. Estão presente na vida do leigo e também do clérigo. São esses princípios que nos tornam humanos ou que revelam a nossa humanidade e consequentemente a nossa carência de Deus.

Decepcionados ao Pé do Monte

Deus é soberano, age, intervém, mas atua respeitando nossas limitações. É o mesmo princípio que encontramos na vida dos discípulos de Jesus.
“E aconteceu, no dia seguinte, que, descendo eles do monte, lhes saiu ao encontro uma grande multidão. E eis que um homem da multidão clamou, dizendo, Mestre, peço-te que olhes para meu filho, porque é o único que eu tenho. Eis que um espírito o toma, e de repente clama, e o despedaça até espumar; e só o larga depois de o ter quebrantado. E roguei aos teus discípulos que o expulsassem, e não puderam. E Jesus, respondendo, disse: Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei ainda convosco e vos sofrerei? Traze-me cá o teu filho. E, quando vinha chegando, o demônio o derribou e convulsionou; porém Jesus repreendeu o espírito imundo, e curou o menino, e o entregou a seu pai” (Lc 9.37-43).
A meu ver esse é um dos textos mais contundentes sobre as limitações dos discípulos de Jesus. É um texto que mostra claramente que os discípulos não eram homens perfeitos nem ilimitados. Eles foram derrotados diante de um possesso de demônio. Um desesperado pai exclama: “Roguei a teus discípulos que o expulsassem, e não puderam!” Não é que eles não tentaram! Tentaram, mas não puderam. E por que não puderam? As razões podem ser muitas. Jesus os censurou denominando-os de “geração incrédula” (Lc 9.41). Eles não apenas faziam parte de uma cultura incrédula, como também assimilaram seus valores. Foram contaminados pela cultura ao seu redor! Essa “contaminação cultural” sempre foi um perigo iminente para o povo de Deus.

Na passagem paralela do Evangelho de Marcos encontramos o texto: “Quando eles se aproximaram dos discípulos, viram numerosa multidão ao redor e que os escribas discutiam com eles” (Mc 9.14). Em vez de expelir o demônio, entraram em divagações teológicas com os escribas. Perderam o foco! Quando se perde o foco, os debates teológicos se tornam mais importantes do que a missão de libertar vidas. Por outro lado, os discípulos aprenderam a viver à sombra do seu Mestre. Acostumaram apenas a assistir Jesus expulsar os demônios e agora que tinha chegado o momento deles mesmos fazerem isso, não fizeram. Jesus também os alertou sobre a necessidade da oração em casos como esse (Mc 9. 29). Em outras palavras, não basta recorrer ao uso de técnicas e fórmulas na solução de coisas espirituais. Antes, é preciso cultivar um relacionamento com Deus. Os discípulos parecem ter esquecido que o ministério de libertação dependia do Espírito Santo. O Evangelho de Mateus associa o Espírito Santo com a expulsão de demônios durante o ministério público de Jesus: “Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deu sobre vós” (Mt 12.28). Esse mesmo texto na teologia carismática de Lucas recebe a seguinte redação: “Se, porém, eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente, é chegado o reino de Deus sobre vós” (Lc 11.20).
Não creio que os discípulos tivessem que passar por esse vexame. Como vimos em outro lugar desse livro, o Senhor deu-lhes autoridade sobre as forças do mal (Lc 10.17-19; Cl 2.14,15; Ef 1.20; 2.6). Essa autoridade, portanto, não acontece fora do senhorio de Jesus nem tampouco vem de forma automática. E fruto de um relacionamento com Deus e do poder do Espírito Santo. Se os princípios do evangelho do reino são seguidos, então não tem como dar errado.
Lembro que no final dos anos 80 e início dos anos 90 eu e mais dois companheiros estávamos fazendo um trabalho evangelístico em um dos bairros da nossa cidade. Quando chegamos à determinada residência, vimos um aglomerado de pessoas naquela casa. Após pedirmos permissão, adentramos no recinto e encontramos uma jovem deitada sobre uma cama, aparentemente sem nenhum sinal de vida. Foi nos informado pelo dono da casa que ela era a rainha de um culto afro-brasileiro e que havia tomado dezessete comprimidos de uma vez na intenção de cometer suicídio. Após recebermos autorização para fazermos uma oração por aquela jovem, desloquei-me em sua direção e impondo minhas mãos sobre ela percebi que forças malignas eram responsáveis por aquela situação.
Ao confrontar as forças do mal no poderoso nome de Jesus, vi aquela moça levantar-se com grande fúria e ficar frente a frente comigo. Falando em voz cavernosa e masculina disse que ia matá-la. Eu retruquei que isso não iria acontecer mais porque eles iriam ter que sair no nome de Jesus. Dito isso a jovem caiu no chão para logo em seguida se levantar. Confessou o Senhor Jesus como Senhor e Salvador e continua servindo a Ele com a sua família até hoje.

Primazia e Exclusivismo

“Levantou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior. Mas Jesus, sabendo o que se lhes passava no coração, tomou uma criança, colocou -a junto a si e lhes disse: Quem receber esta criança em meu nome a mim me recebe; e quem receber a mim recebe aquele que me enviou; porque aquele que entre vós for o menor de todos, esse é que é grande” (Lc 9.4648).

Bispo de Alexandria

O escritor egípcio Michael Youssef ilustrou como esse desejo por primazia se torna uma poderosa ferramenta nas mãos do Diabo. Youssef conta que no século V, um famoso homem santo costumava passar muito tempo orando no deserto, tal como fez Jesus. Assim como Cristo, esse homem santo sofria tentações. Tão santo era ele, que o Diabo enviou um pelotão inteiro de demônios com o intuito específico de fazê-lo tropeçar e pecar — em suma, fazer o que fosse necessário para que o homem de Deus caísse. Eles utilizaram todos os métodos usuais. Pensamentos lascivos para arrastar seu espírito para baixo. Fadiga, para impedi-lo de orar. Fome, para fazê-lo abandonar seus jejuns. Mas não importava o que eles tentassem, ou quão arduamente trabalhassem, seus esforços sempre eram inúteis. No fim, Satanás estava tão irritado com a incompetência de seus lacaios, que os afastou do projeto e assumiu ele mesmo a operação.
“O motivo do fracasso”, ensinava ele a seus seguidores, “é que vocês usaram métodos muitos toscos com aquele homem. Ele não sucumbirá a um ataque direto. Vocês precisam ser sutis e atacá-lo de surpresa. Agora, observem o mestre em ação!”
O Diabo, então, aproximou-se do homem santo de Deus e, muito suavemente, sussurrou estas palavras em seus ouvidos: “Seu irmão foi ordenado Bispo de Alexandria”.
Imediatamente, o maxilar do homem de Deus se enrijeceu. Seus olhos se apertaram. Suas narinas se dilataram. O Bispo de Alexandria! Seu irmão! Que ultraje!
Continuando, diz Yosseff, “Bem, isso é uma lenda, não uma história. Mas ela mostra um ponto importante. Observe que os demônios que tentaram o homem santo não chegaram a lugar nenhum usando os grandes pecados morais. Ele podia vê-los chegando a um quilômetro de distância, e conseguia defender-se. Então, o que fez Satanás? Usou um pecado socialmente aceitável. Ele até mesmo o adequou à fraqueza particular daquele homem. Ele sabia que o homem estava vigilante contra a tentação da carne, e que era inútil tentar emboscá-lo daquela maneira. Assim, entrou de forma sutil usando a inveja e orgulho espiritual, e o fez pensar: ‘Ei, eu sou o santo da família. Por que o meu irmão está sendo ordenado Bispo de Alexandria e não eu?”’

Querer ser o primeiro, o maior, o chefe ainda continua sendo uma poderosa tentação para muitos cristãos. Quando acontece no meio da liderança então, os seus efeitos são muito mais catastróficos. Hoje estamos vivenciando uma verdadeira fragmentação da igreja evangélica no Brasil e a causa principal é a disputa pela liderança. Ninguém quer mais ser índio, todos querem virar cacique.

Um Alerta contra o Consumismo

“A seguir, dirigiu-se Jesus a seus discípulos, dizendo: Por isso, eu vos advirto: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer, nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Porque a vida é mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes” (Lc 12.22,23).
Na passagem paralela de Mateus os discípulos são advertidos pelo Senhor a não assumirem o comportamento dos gentios. Os gentios aqui representam uma mentalidade mundana e consumista.
“Por isso, vos digo: não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo, mais do que a vestimenta? Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas? E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura? E, quanto ao vestuário, porque andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pequena fé? Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos ou que beberemos ou com que nos vestiremos? (Porque todas essas coisas os gentios procuram.) Decerto, vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas essas coisas; Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal” (Mt 6.25.34).
A preocupação demasiada com as coisas desta vida demonstrou a imaturidade dos discípulos que ainda não tinham conseguido adquirir uma mentalidade diferente daquela da cultura à sua volta. Jesus deixou bem claro que os “gentios procuram todas essas coisas” (Mt 6.32). Que coisas?

1. Os gentios valorizavam mais o corpo do que a alma, mais a estética do que a ética (Mt 6.25).
Os gentios, especialmente os gregos, não apenas cuidavam do corpo mas o cultuavam. Havia um verdadeiro culto somático na Grécia antiga. Evidentemente que esse cuidado tinha reflexos na escala de valores onde o estético se sobrepunha ao ético. Não é errado cuidar do corpo nem tampouco zelar pela sua aparência, mas isso não constitui essência da existência humana. Hoje há uma preocupação demasiada com a imagem, com o que é visto e tocado. Todavia não há esse mesmo interesse naquilo que parece abstrato, como os valores da alma.

2. Os gentios entesouravam na terra, mas não possuíam reservas no céu (Mt 6.26).
Jesus incentivou o investimento em valores espirituais e não a simples aquisição de coisas materiais. Mais importante do que construir grandes impérios terrenos é a aquisição de tesouros eternos.

3. Os gentios buscavam as coisas grandes esquecendo-se das pequenas (Mt 6.28-30).
A busca pelas coisas grandes acaba por ofuscar a forma como se vê as pequenas. Qual o valor de um passarinho ou uma plantinha? Que lições elas podem nos ensinar? Deus está preocupado com coisas tão pequenas? A ideia que se tem é que Deus tem coisas mais importante para fazer. Todavia, nos ensinos de Cristo, as pequenas coisas são revestidas de um grande valor diante de Deus. Ele se preocupa com elas. Nós, como criaturas feitas pela sua própria mão, somos muito mais importantes.

4. Os gentios priorizavam a obrigação, mas esqueciam a devoção (Mt 6.33).
A lógica prioriza a obrigação, o trabalho, a empresa, os negócios. Não há nada errado em se trabalhar, cumprir horários e buscar o resultado na produção. Isso faz parte da vida. Todavia, na vida cristã, a obrigação e a devoção são como os dois lados da mesma moeda. Na verdade, à luz do Novo Testamento, não existe um dualismo que separa o trabalho da adoração.
O nosso culto deve ser racional e, portanto, envolve todas as dimensões do nosso ser. Todavia, quando o reino é sacrificado por conta de uma inversão de valores, colocando-se Deus em segundo plano, então alguma coisa está errada. O reino deve vir em primeiro lugar.

5. Os gentios preocupavam-se muito com o futuro, mas esqueciam o presente (Mt 6.35).
Como será o dia de amanhã? Ninguém sabe, senão Deus! Então porque se preocupar tanto com o amanhã? Os gentios não apenas se preocupam com o dia de amanhã ou fazem projetos para isso, mas querem controlá-lo. Somente Deus conhece o futuro e tem o poder de controlá-lo.

Tudo o que escrevi tem a ver com uma cultura de consumo. O consumismo parece ser uma prática humana bem antiga, pois Jesus já advertia seus discípulos para não andarem preocupados com o dia de amanhã. O cuidado com a aparência e o estômago tem sido uma das principais preocupações da sociedade pós-moderna. Zygmunt Bauman observou acertadamente que “em uma sociedade de consumidores é muito difícil ser sujeito (gente) sem primeiro virar mercadoria”. E verdade! O desejo pelo bem-estar e a busca desenfreada pelo prazer é uma das principais marcas dessa geração.

NOTAS

1 Revista Época de 03.05.2011. Editora Globo.
2 BARCLAY, William. Comentário al Nuevo Testamento, 17 tomos em
1. Editorial CLIE, Barcelona, Espanha.
3 Veja um exposição mais detalhada sobre esse assunto no livro de minha autoria: Porção Dobrada. Rio de Janeiro: CPAD.


fote: euvouparaescoladominical.com

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Poder sobre a Natureza e os Demônios - Lição 8





“E navegaram para a terra dos gadarenos, que está defronte da Galileia. E, quando desceu para terra, saiu-lhe ao encontro, vindo da cidade, um homem que, desde muito tempo, estava possesso de demônios e não andava vestido nem habitava em qualquer casa, mas nos sepulcros. E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando e dizendo com alta voz: Que tenho eu contigo Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Peço-te que não me atormentes. Porque tinha ordenado ao espírito imundo que saísse daquele homem; pois já havia muito tempo que o arrebatava.


E guardavam-no preso com grilhões e cadeias; mas, quebrando as prisões, era impelido pelo demônio para os desertos. E perguntou-lhe Jesus, dizendo: Qual é o teu nome? E ele disse: Legião; porque tinham entrado nele muitos demônios. E rogavam-lhe que os não mandasse para o abismo. E andava pastando ali no monte uma manada de muitos porcos; e rogaram-lhe que lhes concedesse entrar neles; e concedeu- lho. E, tendo saído os demônios do homem, entraram nos porcos, e a manada precipitou-se de um despenhadeiro no lago e afogou-se. E aqueles que os guardavam, vendo o que acontecera, fugiram e foram anunciá-lo na cidade e nos campos. E saíram a ver o que tinha acontecido e vieram ter com Jesus. Acharam, então, o homem de quem haviam saído os demônios, vestido e em seu juízo, assentado aos pés de Jesus; e temeram. E os que tinham visto contaram-lhes também como fora salvo aquele endemoninhado. E toda a multidão da terra dos gadarenos ao redor lhe rogou que se retirasse deles, porque estavam possuídos de grande temor. E, entrando ele no barco, voltou. E aquele homem de quem haviam saído os demônios rogou-lhe que o deixasse estar com ele; mas Jesus o despediu, dizendo: Torna para tua casa e conta quão grandes coisas te fez Deus. E ele foi apregoando por toda a cidade quão grandes coisas Jesus lhe tinha feito” (Lc 8.26-39).
Na Terra do Gadareno


Em outubro de 2013 comandei uma caravana para Israel. No roteiro da viagem estava incluso um tour pela Jordânia, país que faz fronteira com Israel. Na Jordânia, conhecemos o monte Nebo, local onde Moisés contemplou a Terra Prometida antes da sua morte (Dt 34.5); passamos pelo Vau de Jaboque, local onde Jacó lutou com o anjo de Deus (Gn 32.28); conhecemos o local apontado pela arqueologia onde Jesus de fato fora batizado e também conhecemos Gerasa, também denominada de Gadara (Mt 8.28), local onde Jesus libertou o endemoninhado.


Ali chegando, pude logo perceber porque os evangelistas usam de forma intercambiável os termos “Gadara” e “Gerasa” para se referirem ao local onde se deu a libertação do endemoninhado. Na verdade, Gadara e Gerasa faziam parte de um complexo de cidades conhecidas como “Decápolis”, isto é, um conjunto de dez cidades. Foi ali na região da Decápolis que fiquei espantado com as maravilhas da arquitetura romana, presente por toda parte, principalmente em Gerasa onde as ruínas da cidade continuam testemunhando todo o esplendor do que fora o Império Romano. Ali vi o arco de Adriano, feito em homenagem a esse imperador romano.
Atravessando o Mar


Os meus olhos se enchiam com todas aquelas belezas arquitetônicas, mas a minha mente procurava fazer a reconstituição da passagem que Jesus tivera por Gerasa. “Meu Deus!” pensei eu, “o Senhor cruzou o Mar da Galileia, enfrentou uma tempestade sem precedentes simplesmente para ir atrás de um homem endemoninhado. Um moribundo, um homem considerado louco pela sociedade.” Mas era exatamente isso o que o texto mostra. De fato Lucas registra:


“E aconteceu que, num daqueles dias, entrou num barco com seus discípulos e disse-lhes: Passemos para a outra banda do lago. E partiram. E, navegando eles, adormeceu; e sobreveio uma tempestade de vento no lago, e o barco enchia-se de água, estando eles em perigo. E, chegando-se a ele, o despertaram, dizendo: Mestre, Mestre, estamos perecendo. E ele, levantando-se, repreendeu o vento e a fúria da água; e cessaram, e fez-se bonança. E disse-lhes: Onde está a vossa fé? E eles, temendo, maravilharam-se, dizendo uns aos outros: Quem é este, que até aos ventos e à água manda, e lhe obedecem? E navegaram para a terra dos gadarenos, que está defronte da Galileia” (Lc 9.22-26).


Quando o Senhor se dirigia para confrontar as forças do mal em Gadara, as forças da natureza se levantaram contra ele: “E sobreveio uma tempestade de vento no lago, e o barco enchia-se de água, estando eles em perigo” (Lc 9.23). E interessante que Lucas usa o vocábulo grego epitimao (repreender) em relação às forças da natureza da mesma forma que o usa em relação à libertação dos demônios e da cura da sogra de Pedro (Lc 4.35; 4.39). Era como se a natureza, como uma força viva, se levantasse contra Jesus e seus discípulos naquele momento. A natureza, portanto, era uma força a ser detida. Isso não significa dizer que forças impessoais ganham pessoalidade nem tampouco que seres inanimados ganham vida. O fato é que a entrada do pecado no mundo trouxe desequilíbrio e desarmonia ao universo e a natureza também está inclusa (Rm 8.19-22).


Tendo repreendido o vento e a fúria das águas, Jesus chegou a Gadara, seu destino final.
Fazendo o Caminho de Volta


Pois bem, quando ainda me encontrava em Gadara, fiquei a meditar na passagem de Lucas 8.26-39. O final da narrativa desse grande milagre de libertação, diz: “E aquele homem de quem haviam saído os demônios rogou-lhe que o deixasse estar com ele; mas Jesus o despediu, dizendo: Torna para tua casa e conta quão grandes coisas te fez Deus. E ele foi apregoando por toda a cidade quão grandes coisas Jesus lhe tinha feito” (Lc 8.38,39).


O gadareno, agora liberto, queria acompanhar Jesus, mas a orientação do Senhor foi que ele voltasse para a sua terra e anunciasse tudo o que Deus tinha feito com ele. De fato, os Evangelhos registram que ele se tornou o primeiro evangelista na região da De- cápolis (Mc 5.20).


Esse texto mostra de forma enfática o poder de Jesus sobre todos os demônios. Todavia revela também como fica o estado daqueles a quem Satanás escraviza.

Em primeiro lugar, o Diabo põe as pessoas na zona de exclusão. “E navegaram para a terra dos gadarenos, que está defronte da Galileia” (Lc 8.26). A frase “defronte da Galileia” é traduzida na Almeida Revista e Atualizada como “fronteira da Galileia”. A palavra grega antiperan, traduzida como oposto, na margem oposta, do outro lado, mantém essa ideia de região fronteiriça. As regiões fronteiriças são distantes de tudo. Em relação ao estado ou nação da qual fazem parte, se tornam uma verdadeira zona de exclusão. O gadareno vivia na fronteira, uma terra de ninguém. Não tenho dúvidas de que o Senhor foi para Gadara com o objetivo único de procurar aquele homem, libertá-lo e fazer com que ele saísse da zona de exclusão.

Em segundo lugar, o Diabo rouba a identidade do homem. O texto diz: “desde muito tempo, estava possesso de demônios” (Lc 8.27) e “como fora salvo o endemoninhado” (Lc 8.36). Em Lucas 8.27 o gadareno aparece como “tendo” (gr. echo) demônios e em Lc 8.36, como quem se encontra “possuído” (gr. daimonizomai) por demônios.1 O renomado léxico da língua grega de Walter Bauer traduz daimonizomai como “ser possuído por demônios”.2 Em outras palavras, o gadareno encontrava- se totalmente dominado por demônios. Ele não era mais ele, havia perdido por completo a sua identidade. Havia deixado de ser gente para se tornar uma coisa. Todos o evitavam porque ele não era aquela pessoa que haviam conhecido. Jesus o liberta e faz com que ele volte a ser gente como os demais (Lc 8.35).

Em terceiro lugar, o Diabo tira todos os valores, “e não andava vestido” (Lc 8.27). A palavra grega endidysko tem o sentido de vestir, vestir-se, cobrir- se, estar vestido em. Usada com a negativa “não” mantém o sentido de “estar descoberto”. É uma forma de dizer que ele andava sem roupa. Somente alguém que perde a noção de valores éticos-morais consegue andar nu. Mas é isso que o Diabo faz — deixar as pessoas totalmente nuas e despidas de tudo aquilo que as valoriza. Quando Jesus libertou o gadareno, as pessoas o viram “vestido” novamente (Lc 8.35). A missão do Diabo é despir as pessoas, enquanto o Senhor Jesus veste-as e reveste-as com sua graça.

O pastor Jack Haiford, pastor de uma igreja pentecostal na Califórnia, Estados Unidos da América, conta que certa vez uma jovem o procurou para ser aconselhada. Quando a jovem começou a contar a sua história, o pastor Haiford disse que precisou interrompê-la. O Espírito Santo lhe revelara que a jovem não estava contando-lhe o verdadeiro motivo de o ter procurado. O pastor informou-lhe que o Senhor o havia instruído a dizer uma frase para ela, e que para ele parecia sem sentido, mas que o Senhor dissera-lhe que faria todo o sentido para ela. A jovem então quis saber que frase era. O pastor repetiu a frase que ouvira do Senhor: “Jamais permitirei que alguém veja a sua nudez”. Essas palavras tiveram um efeito bombástico naquela jovem. Ela começou a chorar convulsivamente. Depois de se refazer, confidenciou para o pastor. Antes de se converter ela era uma prostituta e quando entregou a sua vida ao Senhor tudo estava indo bem, mas havia seis meses que um pensamento obsessivo parecia querer-lhe dominar a sua mente: “Você vai andar nua novamente”. Com aquela palavra de conhecimento liberada pelo pastor Jack Haiford a jovem foi totalmente livre.3


Em quarto lugar, o Diabo tira os referenciais, “nem habitava em qualquer casa, mas nos sepulcros” (Lc 8.27). Esse homem não possuía mais uma família. Havia perdido a sua referência social. Havia perdido os seus valores morais e também os sociais. O homem é um ser gregário e como tal necessita viver em sociedade. O Diabo sabe disso e por isso procurou jogar aquele pobre coitado em um total isolamento social. Estava vivo, mas vivia com os mortos. Era um morto vivo. Jesus o libertou e devolveu ao convívio familiar.

Em quinto lugar, o Diabo torna a vida do homem árida. “Era impelido pelo demônio para os desertos” (Lc 8.29). O deserto é o lugar dos extremos. Durante o dia a temperatura é escaldante e durante a noite elas despencam. Vi isso quando estive no deserto do Sinai. Durante o dia, a temperatura no monte Sinai é elevadíssima, sendo possível medir cinquenta graus na sombra. Por outro lado, as madrugadas são geladas, ficando alguns graus abaixo de zero. Devido a esses fenômenos, o deserto é um lugar árido. O Diabo fez com que o deserto fosse a casa do gadareno. A sua vida era, portanto, árida. Foi somente quando Jesus o libertou que ele voltou a viver a vida abundante. As referências que mostram Jesus confrontando o poder de Satanás são abundantes nos evangelhos. No Evangelho de Lucas esse embate ocorre nos primeiros momentos do ministério público de Jesus.

“E desceu a Cafarnaum, cidade da Galileia, e os ensinava nos sábados. E admiravam-se da sua doutrina, porque a sua palavra era com autoridade. E estava na sinagoga um homem que tinha um espírito de um demônio imundo, e este exclamou em alta voz, dizendo: Ah! Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste a destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus. E Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te e sai dele. E o demônio, lançando-o por terra no meio do povo, saiu dele, sem lhe fazer mal. E veio espanto sobre todos, e falavam uns e outros, dizendo: Que palavra é esta, que até aos espíritos imundos manda com autoridade e poder, e eles saem? E a sua fama divulgava-se por todos os lugares, em redor daquela comarca” (Lc 4.31-37). Como no caso dos milagres, Lucas também não tem a preocupação de provar a existência dos demônios. Isso não era necessário, pois eles estavam por toda parte. A Bíblia mostra o modus operandi do Diabo em vários textos. Ele resiste à oração (Dn 10.10-13); influencia a mente (Mt 16.21-23; At 5.3); corrompe a mente (2 Co 11.1-3); opõe-se à pregação do evangelho (At 13.8); procura destruir as vidas (Mc 9.22; Jo 10.10).

O registro dos Evangelhos é que havia muitas pessoas oprimidas e possuídas pelos demônios no antigo Israel. De fato a missão de Jesus, como o Messias prometido, incluía a libertação das pessoas dominadas pelo Diabo. “Chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga e levantou-se para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos, a dar vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor” (Lc 4.16-19).

Nesses confrontos uma coisa ficou logo evidente — Jesus, durante o seu ministério terreno exerceu autoridade sobre todas as castas de demônios! As pessoas viram isso e admiradas, se perguntavam que poder era aquele, pois Jesus ordenava aos demônios que eles saíssem e eles obedeciam! Até os próprios demônios estavam conscientes do poder de Jesus sobre eles: “Ah! Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para perder-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus!” (Lc 4.34).


Lucas mostra que Jesus não apenas possuía autoridade sobre os demônios como também delegou para seus discípulos essa autoridade. “E voltaram os setenta com alegria, dizendo: Senhor, pelo teu nome, até os demônios se nos sujeitam. E disse-lhes: Eu via Satanás, como raio, cair do céu. Eis que vos dou poder para pisar serpentes, e escorpiões, e toda a força do Inimigo, e nada vos fará dano algum” (Lc 10.17-19).

O cristão, portanto, possui autoridade sobre o reino do mal. Isso se tornou possível porque Jesus conquistou a vitória sobre Satanás na cruz do calvário: “havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo” (Cl 2.14-15). Estando em Cristo, o crente agora encontra-se em posição de domínio sobre o poder das trevas: “Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos e pondo-o à sua direita nos céus, acima de todo principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro. E sujeitou todas as coisas a seus pés e, sobre todas as coisas, o constituiu como cabeça da igreja” (Ef 1.20-22). “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus” (Ef 2.4-6).
A Peneira do Diabo


Se o cristão tem autoridade sobre o Diabo, como de fato tem, então porque Satanás leva vantagens sobre muitos deles? Primeiramente porque lhe dão lugar (Ef 4.27); não são totalmente convertidos (Lc 22.31) e também possuem uma mente mundana (1 Co 10.21). Algo parecido com o que vivenciou Simão Pedro: “Disse também o Senhor: Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo. Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos. E ele lhe disse: Senhor, estou pronto a ir contigo até à prisão e à morte. Mas ele disse: Digo-te, Pedro, que não cantará hoje o galo antes que três vezes negues que me conheces” (Lc 22.31-34). Pelo menos seis coisas podemos deduzir do comportamento de Pedro revelados nesse texto.


1. Pedro demonstrou presunção — “estou pronto para morrer”. Isso não passava de presunção, pois quando foi confrontado por ser discípulo de Jesus, ele negou temendo a morte.

2. Pedro possuía “brechas” — “Satanás vos reclamou”. O Diabo viu áreas no comportamento de Pedro que revelavam que ele não parecia ser aquela pessoa que demonstrava. Ele queria tirar isso a limpo. Não há dúvidas de que havia área na vida de Simão que o Diabo conhecia como sendo vulneráveis.

3. Pedro possuía vida devocional pobre — “Roguei por ti” — O Senhor orou por Pedro. O que o texto parece mostrar é que Pedro não vivia uma vida devocional profunda. Quando Jesus orava no Getsêmani, ele logo adormeceu na oração.

4. Pedro também não demonstrou ser totalmente convertido —


“Quando te converteres”. O Senhor não iria dizer essas palavras se Pedro fosse um homem convertido por completo. Eu não sei precisar o que era essa falta de conversão, mas que ele não era ainda convertido por completo, não era.

5. Pedro demonstrou egoísmo — “fortalece aos teus irmãos”. Pedro sempre aparece como sendo o primeiro em tudo. Era hora do Senhor lembrar que ele precisava pensar em seus companheiros.
Crentes Possessos?


Lucas nada diz sobre a possessão de demônios em cristãos nem em seu evangelho nem tampouco em Atos. Todavia alguns escritores vão além e defendem a possibilidade de um crente ficar possuído pelo Diabo. Eu não compartilho dessa ideia. Estou convencido de que nenhum ensino tem demonstrado ser tão nocivo à Igreja de Jesus Cristo, quanto esse que afirma que o cristão pode ser possuído por demônios. Nos anos 90, esse ensino se tornou como uma praga e era só no que se falava nos meios evangélicos. Em um manual de libertação de autoria do neozelandês Bill Subritzky encontramos a pergunta: “pode um cristão ter demônios? O mesmo autor responde sem rodeios: “a resposta é enfaticamente sim!”4


O problema com esta afirmação está no fato da mesma não ser baseada na Bíblia Sagrada, mas na experiência do autor. Tentando fundamentar a sua resposta, ele diz: “Estou ciente do muito que se tem ensinado a respeito de os cristãos não poderem ter demônios. Contudo, através de minha experiência no ministério há quatorze anos, constatei que tal opinião é totalmente incorreta.”5


Partindo desse princípio a posteriori (fundamentado em sua experiência), Subritzky faz uma exegese falaciosa sobre a “possessão demoníaca” no cristão: “Em primeiro lugar”, escreve ele, “precisamos compreender que alguém pode ter um demônio sem estar possuído por ele. Aversão King James (Bíblia em Inglês) traduz incorretamente a palavra ‘endemoninhado’ como ‘possuído’. Isso dá as pessoas a impressão de que se um espírito as ataca, ou se apenas possuem um espírito estão consequentemente possuídas por demônios. Não há nada na tradução grega que revele a palavra ‘possuído’. Estudiosos insistem no fato de que esta palavra tem amedrontado muitas pessoas, por pensarem que, se possuem um demônio estão ‘possuídas’”.6


Como já escrevi em outro lugar, essa crença que dá amplos poderes aos demônios sobre os cristãos é falsa pelo menos por cinco razões:


1. E a “posteriori”, isto é, baseia-se na experiência e não na Bíblia.


2. E fruto de uma teologia errada sobre a segurança do crente.


3. E fundamentado numa concepção equivocada sobre a tricoto- mia humana.


4. E falho em definir o que seja um “cristão” segundo o modelo do Novo Testamento.


5. É fundamentado na má compreensão da terminologia usada no Novo Testamento para a possessão demoníaca.7

Não podemos negar o valor que a experiência tem para nós, cristãos. A vida cristã é experimental. Todavia uma experiência cristã alicerça seus princípios na Palavra de Deus — a Bíblia Sagrada. Uma experiência divorciada das Escrituras não tem valor para a fé genuinamente evangélica. Aqueles que defendem a possessão demoníaca em cristãos não conseguem enquadrar essa experiência no modelo dado no Novo Testamento. A interpretação dada à palavra grega daimonizomai, com o sentido de “ter” demônios sem contudo estar possuído por ele, é falha e não conta com o apoio do Novo Testamento grego.8

Por outro lado, quando aceitamos a Cristo como nosso Salvador, mudamos de cidadania, de propriedade e consequentemente de reino e senhor (Cl 1.13). Quando pertencemos ao reino de Deus não existe, portanto, a ideia de copropriedade ou ocupação conjunta. Não podemos ser habitados ao mesmo tempo pelo Espírito Santo e por demônios. Neste aspecto, o cristão em comunhão com Deus está guardado e não há porque temer as forças do mal (Rm 8.38,39; Lc 10.18,19; Ef 6.10-18).
NOTAS

fote: http://euvoupraebd.blogspot.com

domingo, 17 de maio de 2015

Socorro! Sou professor da escola dominical:

SEJA PONTUAL E ASSÍDUO




Ao chegarem na classe, os alunos precisam ser saudados pelo professor. Ele é sempre o primeiro a chegar. Já preparou o ambiente para o ensino do dia, já verificou se tudo está em ordem: giz, tomadas, transparências, posição das carteiras, iluminação, material didático etc. O professor deve começar e terminar sua aula sempre no horário estabelecido, deve evitar atrasos e prolongamentos desnecessários.
Se precisar faltar um dia, por motivo muito justo e absolutamente necessário, deve preparar a classe para a sua ausência, informando com antecedência quem o estará substituindo e preparando seu substituto para que aja da mesma forma, cumprindo o horário. A pontualidade e a assiduidade do professor é elemento motivador para a pontualidade e assiduidade dos alunos. Quando o professor não leva a sério este aspecto do seu trabalho, a tendência é que os alunos façam o mesmo e ainda critiquem-no pela falta de compromisso demonstrada.

DÊ AULAS CRIATIVAS E DINÂMICAS
Acima discorremos acerca de como é horrível assistir a uma aula de um professor despreparado.
É muito desagradável participar, também, de aula chata, monótona, onde o professor fala o tempo todo e de forma morosa. Ninguém agüenta! É horrível! Vivemos na época da velocidade, da instantaneidade, da agilidade de informação e da automação em todos os segmentos da sociedade. Não se pode suportar letargia na docência da Escola Dominical. As aulas precisam ser criativas, o professor tem de colocar a cabeça para funcionar e pensar sobre formas atraentes e bem humoradas de ministrar a Palavra aos seus alunos.

As aulas precisam ser dinâmicas. O professor não pode ficar estático na classe. Movimentação, uso dos recursos já apresentados, novidades, tudo isso reacende a atenção dos alunos. Você já reparou que um comercial de TV dura entre 15 e 30 segundos, já percebeu que neste curtíssimo espaço de tempo as agências de publicidade lançam mão de tudo que podem para prender a atenção do telespectador: música, movimento, cenas rápidas, palavras escritas etc. Você já observou que no telejornalismo, o repórter muda de foco (para a direita, para a esquerda, mais de perto e mais de longe) a cada 10 ou 15 segundos? Está provado que para prender a atenção dos alunos num mesmo ambiente durante 50 minutos se faz necessário muito dinamismo, caso contrário a aula fica chata e indesejada

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Poder sobre as Doenças e a Morte



A Secularização da Fé

“E impossível usar a luz elétrica e o telégrafo sem fio, e beneficiar-se das modernas descobertas médicas e cirúrgicas, e ao mesmo tempo acreditar no mundo de (...) milagres do Novo Testamento”.1 Estas palavras não foram ditas por um ateu, mas por um dos mais conceituados teólogos liberais da Alemanha, Rudolf Bultmann (1884-1976).
Bultmann não está sozinho na sua posição. Dezenas de outros teólogos também compartilham de seu pensamento. Recentemente o teólogo liberal Jonh Shely Spong escreveu:
“Partindo do princípio de que não considero Deus um “ser”, não posso também interpretar Jesus como a encarnação desse Deus sobrenatural, nem posso assumir com credibilidade que ele possua poder divino suficiente para fazer coisas tão miraculosas quanto acalmar as águas do mar, expulsar demônios, andar sobre a água ou multiplicar cinco pães para alimentar cinco mil pessoas. Se tivermos que reivindicar a natureza divina desse Jesus, terá que ser sobre outras bases. Milagres da natureza, estou convencido, dizem muito sobre o poder que as pessoas atribuíram a Jesus, mas não dizem nada sobre o que ocorreu literalmente.”
“Não creio que Jesus”, continua Spong, “pudesse ressuscitar os mortos, curar pessoas cuja paralisia já fora diagnosticada pela medicina, restaurar a visão dos cegos de nascença ou daqueles que perderam a visão por outra causa, nem acredito que ele tenha feito literalmente tudo isso. Também não creio que ele fez ouvir alguém surdo e mudo de nascença. Histórias de cura podem ser vistas de diversas formas. Considerá-las sobrenaturais ou milagrosas, em minha opinião, é a possibilidade de menor credibilidade”.2
As obras de Bultmann e Spong procuram provar que milagres não existem. Para entendermos o pensamento desses teólogos liberais será preciso recuarmos no tempo, mais precisamente aos séculos XVII e XVIII. Foi durante esse período da história que a cultura ocidental experimentou o que os filósofos denominam de mudança de paradigma. A visão de mundo aceita até então, era aquela dada pelo catolicismo medieval. As explicações para os fenômenos cosmológicos não eram dadas por físicos e matemáticos, mas pelos teólogos da Escolástica.3
As novas descobertas nos campos da física e da matemática passaram a se contrastar com a cosmovisão católica. Em 1637, o matemático Rene Descartes (1596-1650) lançou a sua famosa obra intitulada: Discurso do Método. Nesse livro, Descartes propunha um novo método de investigação dos fenômenos naturais que fosse muito além do que ele considerava como meras especulações teológicas. Descartes elegeu a dúvida como seu método de investigação. Ele passou a duvidar de tudo e somente aquilo que não admitisse mais dúvida, depois de acurada investigação, deveria ser aceito como verdade absoluta.
Essa nova visão de mundo idealizada por Descartes, também denominada de cartesianismo ou cientificismo, marcou o fim da cosmovisão medieval e o início da Modernidade. Com as descobertas das leis físicas que regem o Universo feitas por Isaac Newton (1642-1727), o paradigma moderno se consolidou. No século XVIII, um movimento cultural europeu denominado de Iluminismo tomou para si como dogma essa nova concepção de mundo. A partir dessa nova visão de mundo, somente o que poderia ser explicado racionalmente, isto é, o que pudesse ser objeto de pesquisa e mensurado empiricamente deveria ser aceito como verdade absoluta. Nada que não passasse pelo crivo da razão podia ser aceito como verdade. Dentro desse contexto as narrativas religiosas ou bíblicas, por não se enquadrarem nesse novo modelo, não deveriam ser tidas como verdades absolutas. Estava aberta a porta para o criticismo bíblico!
Como vimos, essa visão de mundo teve um impacto enorme sobre as igrejas europeias, especialmente as protestantes. Através das academias e seminários teológicos, uma onda de incredulidade varreu as igrejas europeias e posteriormente as americanas. O cristianismo secularizado passou a usar a razão para explicar as narrativas bíblicas e não a fé como mostram os Evangelhos. Voltarei a tratar com mais detalhes sobre esse modelo cultural no capítulo 13.

Milagres Existem?

Em seu livro L/m Judeu Marginal, o teólogo John Meier faz uma excelente apologia em favor da ocorrência de milagres nos dias atuais.4 Para Meier há três formas de se conceituar um milagre: 1) um evento incomum, surpreendente ou extraordinário que, em princípio, é perceptível a qualquer observador interessado e imparcial; 2) um evento que não encontra explicação razoável nas habilidades humanas ou em outras forças conhecidas que agem em nosso mundo de tempo e espaço, e 3) um evento resultante de um ato especial de Deus, fazendo o que nenhum poder humano consegue fazer.5
Meier evita o conceito de milagre como sendo um evento que ultrapassa, transgredi, viola ou contradiz “as leis da natureza” ou a “lei natural”. Isso ele faz acertadamente para evitar cair no mesmo erro no qual incorreram os teólogos liberais. Como filha legítima do Iluminismo alemão, a teologia liberal também abraçou a ideia de que o Universo era regido por leis naturais fixas e invioláveis. De acordo com essa visão de mundo, um milagre é algo impossível de acontecer porque Deus não iria quebrar leis que Ele próprio criou. Milagres, portanto, não existiriam.
Meier escreve:
“A noção filosófica de que o curso suave da ‘natureza’ é regulado por leis imanentes não encontra paralelo direto na vasta maioria dos livros do AT escritos em hebraico. A partir do primeiro capítulo do Gênesis, o mundo criado emerge do caos e o tempo todo para lá tende a retornar. Somente o poder criativo de Deus, e não as leis ‘naturais’ inerentes às realidades de tempo e espaço, impede que o mundo volte a cair na desordem. Deus dá ou impõe leis às suas criaturas; tais leis não surgem ‘naturalmente’ das criaturas, por causa de sua própria essência.”6
Meier observa ainda que essa concepção de uma “natureza” (phisis) autônoma que governa o universo é uma ideia herdada do platonismo e incorporada posteriormente à teologia cristã. No entanto, observa ele, “mesmo em Filon de Alexandria, que refletia o platonismo grego, a ‘natureza’ é entendida à luz da tradição do AT, ou seja, como ‘criação’, que é feita e governada pela palavra e sabedoria de Deus. A natureza não é uma realidade autossuficiente que funciona de acordo com suas próprias leis inerentes e invioláveis, não uma realidade identificável, em última análise, com o próprio Deus”.7
Foi fundamentado na concepção de mundo mecanicista e não na Bíblia que Rudolf Bultmann e mais recentemente John Sheley Spong construíram suas teologias acerca dos milagres. Com o advento da física quântica e seu princípio da incerteza de Wemer Heisenberg essa concepção de mundo, que vê o universo apenas como uma máquina, vem sendo abandonada pela comunidade científica. As descobertas da física quântica mostram que as leis fixas do universo são válidas para o macrocosmo mas não para o microcosmo do mundo subatômico. Em palavras mais simples, o universo não pode mais ser explicado somente a partir de leis fixas e imutáveis como apregoavam os filósofos do Iluminismo.8 A mesma ciência que armou os teólogos liberais com a física mecanicista agora os desarma com a física quântica. Trocando isso em miúdos — a ciência contemporânea não pode afirmar nem tampouco negar a existência de um milagre. Isso é competência da teologia!

Uma Resposta ao Secularismo

O movimento pentecostal surge em um contexto onde os crentes mais devotos, insatisfeitos com a secularização do cristianismo institucional, buscam novamente o fervor dos primitivos cristãos. Muitos movimentos periféricos passaram a apregoar a necessidade de uma vida mais profunda. Dentre eles se destaca o Movimento Holiness (Santidade) que atingiu as igrejas norte-americanas em torno de 1880.
Foi oriundo desse Movimento de restauração que veio Charles Fox Parham e William J. Saymour. Posteriormente Daniel Berg e Gunnar Vingren, que haviam aderido ao movimento em 1906. Eles trouxeram a mensagem pentecostal para o Brasil. Os milagres vieram juntos.

Milagre no Seringal

Atualmente o pastor José Veras Fontinele pastoreia a igreja Assembleia de Deus na cidade de Piripiri (PI). Ele é um dos poucos herdeiros ainda vivo desse pentecostalismo clássico. Seus cabelos brancos, voz rouca e pele enrugada são sinais físicos de longos anos de dedicação ao ministério pastoral. Na casa dos oitenta anos, o pastor Fontinele, como é conhecido entre os amigos, é um homem que demonstra muita lucidez.
Conheci o pastor Fontinele há mais de vinte anos e desde então aprendi a admirá-lo e respeitá-lo como um dos líderes mais honrados de nosso estado. Homem de caráter e reputação ilibada que sempre procurou viver sem mascaramentos o evangelho de Jesus. Suas poucas palavras, porém carregadas de sabedoria, fizeram com que os seus pares sempre parassem para ouvi-lo.
Pois bem, a história desse pioneiro do pentecostalismo piauiense é marcada por uma série de fatos miraculosos, mas um deles me chamou a atenção — a cura de uma doença incurável que ele havia contraído ainda na sua mocidade. A história me foi passada por um amigo e desde então eu aguardava uma ocasião própria para ouvi-la da sua própria boca.
Certa vez nos encontrávamos em um conclave de pastores em uma das cidades piauienses do sul do estado. Ao vê-lo e cumprimentá-lo expus o meu desejo de ouvir a história que terceiros me haviam repassado. Sem demonstrar enfado ou cansaço, nem tampouco se sentir incomodado, ele narrou o que se segue.
Contou-me que ainda muito jovem e ainda não convertido ao evangelho, adoeceu e quando um médico foi consultado, o diagnóstico não poderia ser mais devastador — ele havia contraído tuberculose. Nessa época, próximo dos anos cinquenta, observou ele, era constrangedor possuir um “tuberculoso” na família. Mesmo sendo bem jovem, mas não querendo ser um embaraço para a família, ele resolveu então secretamente sair de casa e migrar para a região Norte do país. O estado escolhido foi o Acre, onde iria tentar trabalhar no seringal.
Chegando ao seringal foi morar em uma vila onde a principal cultura era o extrativismo da borracha. Ali chegando, a doença começou a dar sinais mais fortes de sua presença, sendo que alguns sintomas, dentre eles a tosse passou a se manifestar de forma mais aguda. A comunidade ficou ciente da sua doença. Foi então que certa vez, quando ele se encontrava em um comércio local que uma senhora o interpelou: “Fontinele, porque você não faz um voto com Jesus para que ele o cure dessa doença?” E completando, disse: “Quando Ele te curar, então você o recebe como Salvador de sua vida.”
O pastor me informou na sequência que aquela mulher fazia parte de uma igreja evangélica pentecostal do povoado e que os pentecostais tinham por hábito fazerem três cultos domésticos em suas residências. Foi para participar de uma dessas reuniões que ele fora convidado por aquela simpática senhora. Quando recebeu o convite, o pastor se limitou a pensar com incredulidade como poderia uns pecadores daqueles curarem alguém. Mas não tendo nada a perder, aceitou o convite.
Chegando à residência para onde fora convidado e adentrando no recinto, encontrou algumas pessoas de joelhos e orando em alta voz. A sua presença logo foi percebida pela dona da casa, a mesma que o havia convidado. Interrompendo a reunião, ela informou a razão da presença daquele jovem ã reunião deles. Disse também que Fontinele havia se comprometido que tão logo ficasse bom, serviria ao Senhor Jesus. Demonstrando muita ousadia, confiança e fé, aquela senhora perguntou quantos dos presentes acreditavam que Jesus iria curar o jovem! Todos responderam em uníssono que criam na sua cura.
“Quando aquela mulher orou por mim”, contou-me o veterano pastor, “vi línguas de fogo saindo de sua boca”. Foi então que ele passou a perceber a presença de um ser angélico vestido de branco aproximar-se dele. Aquele varão trazia na mão um vasilhame cheio de azeite quente. Ao tocar-lhe, o ser de branco fez com que ele ficasse reclinado a fim de que o azeite pudesse ser despejado em sua boca. Ao abrir a boca, Fontinele sentiu
o azeite descendo pela sua garganta e à medida que o óleo quente entrava em seu interior ele começou a transpirar por todos os poros!
Quando aquela senhora terminou a oração, ele se sentiu totalmente curado! Com os olhos marejando em lágrimas, o pastor Fontinele contou-me que no dia seguinte todos os sintomas da doença haviam desaparecido. Meio século já se passou desde aquela cura milagrosa e ele continua ainda curado!

Jesus e o Poder sobre as Doenças e a Morte

No Evangelho de Lucas encontramos vários relatos de curas milagrosas e de pessoas sendo ressuscitadas. Não há por parte do evangelista a preocupação de provar que milagres existem. As fontes as quais ele pesquisou e as pessoas as quais consultou detalharam o que ouviram e viram Jesus fazer. Jesus não curava e ressuscitava as pessoas de entre os mortos para provar alguma coisa. Antes ele as curava por ser o filho de Deus.

Missão Messiânica

Lucas parte do princípio de que Jesus é o Messias prometido nas Sagradas Escrituras e que Ele havia sido capacitado pelo Espírito Santo para realizar as obras de Deus (Lc 4.16-18; Is 61.1,2). Mais uma vez a teologia carismática de Lucas fica em destaque. Na cura do paralítico de Cafarnaum, Lucas destaca que “o poder do Senhor estava com ele para curar” (Lc 5.17). O poder do Senhor é um sinônimo para a unção do Espírito Santo (At 10.38). Por outro lado, na ressurreição do filho da viúva de Naim, Lucas observa que o povo exclamou: “Grande profeta se levantou entre nós; e: Deus visitou o seu povo” (Lc 7.16). Não há dúvida de que esse grande profeta é uma referência messiânica encontrada em Deuteronômio: “Suscitar-lhe-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar” (Dt 18.15-19).
As curas e milagres de ressurreição de mortos efetuados por Jesus, portanto, faziam parte da sua revelação messiânica e a demonstração da compaixão e do amor de Deus. “E aconteceu, pouco depois, ir ele à cidade chamada Naim, e com ele iam muitos dos seus discípulos e uma grande multidão. E, quando chegou perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único de sua mãe, que era viúva; e com ela ia uma grande multidão da cidade. E, vendo-a, o Senhor moveu-se de íntima compaixão por ela e disse-lhe: Não chores. E, chegando-se, tocou o esquife (e os que o levavam pararam) e disse: Jovem, eu te digo: Levanta-te. E o defunto assentou-se e começou a falar. E entregou-o à sua mãe. E de todos se apoderou o temor, e glorificavam a Deus, dizendo: Um grande profeta se levantou entre nós, e Deus visitou o seu povo” (Lc 7.11-16).

A Manifestação do Reino de Deus

Os milagres de Jesus na perspectiva lucana devem ser também entendidos como a manifestação da vinda do reino de Deus. Em Lucas, a expressão “Reino de Deus” deve ser entendida como sendo o domínio de Deus (Lc 17.20,21). Ao curar os enfermos e ressuscitar os mortos, Jesus demonstrava que o Reino de Deus havia chegado: “Também os enviou a pregar o reino de Deus e curar os enfermos” (Lc 9.2); “Falava-lhes a respeito do reino de Deus e socorria os que tinham necessidade de cura” (Lc 9.11). No Evangelho de Mateus essa mensagem acerca do reino de Deus, além da cura dos enfermos envolve também a ressurreição dos mortos (Mt 10.8).
E uma verdade bíblica que as doenças e a morte existem por causa da entrada do pecado no mundo. Isso não significa dizer que toda e qualquer doença fosse resultante de um pecado pessoal. Os evangelhos mostram que haviam doenças que poderiam advir como consequência de um pecado pessoal, como no caso da cura do paralítico no tanque de Betesda (Jo 5.14, veja também 1 Co 11.27-31). Mas nem todas as enfermidades e doenças estavam necessariamente associadas a algum tipo de pecado ou punição pessoal (Jo 9.1-3). No caso do cego do capítulo nove do Evangelho de João, Jesus afirmou que nem o doente nem seus pais haviam pecado para que ele nascesse cego! Em outras palavras, a lei de causa e efeito do pecado e suas consequências não pode ser aplicada aqui para explicar a razão da cegueira daquele homem. O certo é que a sua cegueira existia, não como consequência de um pecado pessoal, mas em razão da queda! O relato da cura do paralítico de Cafarnaum é emblemático no evangelho de Lucas (Lc 5.17-26).
“E aconteceu que, em um daqueles dias, estava ensinando, e estavam ali assentados fariseus e doutores da lei que tinham vindo de todas as aldeias da Galileia, e da Judeia, e de Jerusalém. E a virtude do Senhor estava com ele para curar. E eis que uns homens transportaram numa cama um homem que estava paralítico e procuravam fazê-lo entrar e pô-lo diante dele. E, não achando por onde o pudessem levar, por causa da multidão, subiram ao telhado e, por entre as telhas, o baixaram com a cama até ao meio, diante de Jesus. E, vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Homem, os teus pecados te são perdoados. E os escribas e os fariseus começaram a arrazoar, dizendo: Quem é este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus? Jesus, porém, conhecendo os seus pensamentos, respondeu e disse-lhes: Que arrazoais em vosso coração? Qual é mais fácil? Dizer: Os teus pecados te são perdoados, ou dizer: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra poder de perdoar pecados (disse ao paralítico), eu te digo: Levanta-te, toma a tua cama e vai para tua casa. E, levantando-se logo diante deles e tomando a cama em que estava deitado, foi para sua casa glorificando a Deus. E todos ficaram maravilhados, e glorificaram a Deus, e ficaram cheios de temor, dizendo: Hoje, vimos prodígios” (Lc 5.17-26).
Antes de tratar do problema físico do paralítico, Jesus primeiramente tratou da sua alma. O texto não nos permite deduzir que esse homem encontrava-se assim em razão de algum pecado pessoal. Mas por outro lado, o contexto não deixa dúvidas de que aquele pobre moribundo, além da doença física também carregava consigo a culpa. De outra forma não teria sentido as palavras que Jesus dirigiu a ele: “Os teus pecados te são perdoados” (Lc 5.23). O seu estado demonstrava que a sua necessidade imediata era de cura e não de perdão, mas o Senhor não o viu assim. Antes resolveu o problema da culpa, dando-lhe uma palavra de perdão e somente depois cuidou também de curar o seu corpo: “Levanta-te, toma a tua cama e vai para tua casa” (Lc 5.23).

A Cura e a Expiação

Esses milagres efetuados por Jesus durante o seu ministério público estavam, sem dúvida alguma, associados à sua missão vicária. Dizendo isso de uma outra forma, o testemunho dos Evangelhos é que Jesus levou sobre si as nossas doenças e enfermidades. Isso significa dizer que a cura faz parte da expiação (Mt 8.16-17). “E, chegada à tarde, trouxe- ram-lhe muitos endemoninhados, e ele, com a sua palavra, expulsou deles os espíritos e curou todos os que estavam enfermos, para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías, que diz: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças” (Mt 8.16,17).9
Ao afirmar que a cura faz parte da expiação, não significa dizer que todos serão curados. Da mesma forma, nem todos vão ser salvos embora a salvação também faça parte da expiação. A santidade do crente também foi conquistada na cruz. Ela, portanto, faz parte da expiação, embora nem todos vivam santamente. E paradoxal, mas é bíblico. A doutrina da expiação de Cristo nos dá uma base segura para crermos na salvação da nossa alma e na cura de nosso corpo. Todas as bênçãos de Deus para nós, providas por Cristo, foram possíveis através de seu sacrifício vicário. Não há bênção fora da expiação!

NOTAS

1 BULTMANN, Rudolf. New Testament and Mythology.

2 SPONG, John Sheley. Um Novo Cristianismo Para Um Novo Mundo a fé além dos dogmas.Verus Editora.

3 Escolástica ou escolasticismo (do latim scholasticus, e este por sua vez do grego σχολαστικός [que pertence à escola, instruído]) foi o método de pensamento crítico dominante no ensino nas universidades medievais europeias de cerca de 1100 a 1500. Não tanto uma filosofia ou uma teologia, como um método de aprendizagem, a escolástica nasceu nas escolas monásticas cristãs, de modo a conciliar a fé cristã com um sistema de pensamento racional, especialmente o da filosofia grega. Colocava uma forte ênfase na dialética para ampliar o conhecimento por inferência e resolver contradições. A obra-prima de Tomás de Aquino, Summa Theologica, é frequentemente vista como exemplo maior da escolástica (Wikipedia).

4 Como já disse em outro capítulo, os livros de Meier são uma excelente fonte de pesquisa histórica sobre como era a vida das primeiras comunidades do mediterrâneo do século I. Todavia Meier demonstra não ter conseguido superar de todo o criticismo bíblico do Iluminismo alemão quando põe em xeque narrativas bíblicas. Meier, por exemplo, acredita que algumas narrativas dos Evangelhos sejam interpolações feitas posteriormente e que algumas palavras atribuídas a Jesus pelos evangelistas não foram de fato ditas por ele. Ele também segue o mito que faz separação entre o “Jesus Histórico” e o “Jesus da Fé”. Além disso, Meier atribui atualmente a Maria, mãe de Jesus, a realização de vários milagres dentro do catolicismo. A Bíblia, ao contrário, só conhece um Jesus, aquele registrado nos Evangelhos, que é o Filho do Deus bendito e que é o único mediador entre Deus e os homens.

5 MEIER, John P. Um Judeu Marginal - Repensando o Jesus Histórico, volume dois, livro três - milagres. Imago Editora.

6 MEIER, John P. Um Judeu Marginal - repensando o Jesus histórico. Op. Cit. Ppl7,18.
7 Idem.

8 Voltaire, por exemplo, via Deus como o supremo artífice, que havia construído o universo físico como uma máquina. Ele cria que Deus após dotar o universo de leis imutáveis para assegurar a sua harmonia, ele o deixou funcionando de acordo com essas leis. A ocorrência de um milagre seria um contrassenso porque faria com que Deus quebrasse essa harmonia.


fote: euvoupraebd.blogspot.com

sábado, 9 de maio de 2015

LEVE A SÉRIO O ESTUDO DA BÍBLIA

Quando um professor estuda a Bíblia com seried






SEJA PONTUAL E ASSÍDUO

Ao chegarem na classe, os alunos precisam ser saudados pelo professor. Ele é sempre o primeiro a chegar. Já preparou o ambiente para o ensino do dia, já verificou se tudo está em ordem: giz, tomadas, transparências, posição das carteiras, iluminação, material didático etc. O professor deve começar e terminar sua aula sempre no horário estabelecido, deve evitar atrasos e prolongamentos desnecessários.

Se precisar faltar um dia, por motivo muito justo e absolutamente necessário, deve preparar a classe para a sua ausência, informando com antecedência quem o estará substituindo e preparando seu substituto para que aja da mesma forma, cumprindo o horário. A pontualidade e a assiduidade do professor é elemento motivador para a pontualidade e assiduidade dos alunos. Quando o professor não leva a sério este aspecto do seu trabalho, a tendência é que os alunos façam o mesmo e ainda critiquem-no pela falta de compromisso demonstrada.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

NASCIDOS NOVAMENTE




(Efésios 2:1-7) – “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus.”

Mudanças claras e objetivas devem ser vistas em nossas vidas quando somos convertidos pelo Espírito Santo. Seu trabalho em nós é completamente regenerador e vivificante, e pode ser visto espiritual e fisicamente. Realmente somos extremamente abençoados por Deus através do sacrifício e salvação provenientes de Seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo. O que costumávamos fazer antes, quando andávamos perdidos e aflitos, já não fazemos mais porque aqueles velhos e tortuosos hábitos são substituídos pelos frutos do Espírito. Somos transformados dia a dia de acordo com a imagem de Cristo e essa é uma das provas de que somos habitados pelo Espírito de Deus.

Antes seguíamos os padrões inconsistentes e errôneos deste mundo caído, mas hoje somos libertos pelo poder de Deus… É impressionante observar o Seu agir, embora muitas vezes possamos não entendê-lo. Uma característica básica em nosso relacionamento com o Senhor deve ser a confiança e a fé, pois assim demonstramos amor a Ele ao passo de que O agradamos. Uma vez conhecendo a Deus, sabemos que a verdadeira felicidade reside nEle e somente nEle. Tentamos várias vezes encontrar paz, alegria e plenitude espiritual neste mundo, mas não conseguimos, porque fomos criados por Deus, para amá-Lo e adorá-Lo, e logicamente fora dEle nossas necessidades espirituais não poderiam ser supridas.

Entendamos que somos criaturas de Deus e através de Jesus somos feitos Seus filhos por adoção, o que nos modifica espiritualmente a ponto de querermos viver para agradá-Lo. Éramos filhos da perdição por natureza, mas Deus, em Sua infinita bondade, nos resgatou do maligno fazendo conosco uma aliança eterna pavimentada por Seu amor e graça. Todos os dias de nossas vidas devemos permitir que o Espírito Santo desenvolva em nós hábitos e costumes que Lhe são plausíveis e aprazíveis. Por exemplo: Quando sentirmos vontade de agir impetuosamente, sendo grosseiros e irosos, pensemos duas vezes e decidamos praticar aquilo que aprendemos do Senhor: poupemo-nos de dores de cabeça e sejamos mansos e humildes.

Mateus 11:29 – Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.

A Palavra de Deus nos diz que encontraremos descanso se formos mansos e humildes! Exaltarmo-nos e agirmos raivosamente pode resultar em amigos afastados, relacionamentos arruinados e (graves) problemas de saúde. Não vale à pena trair preciosos conselhos nem que seja por alguns instantes! A partir de pequenas atitudes como essa o caráter de Cristo é formado em nós gradativamente. A partir de pequenas escolhas permitimos grandiosas mudanças divinas em nossas vidas. Daí a importância de nos mantermos focados em Cristo, pois Ele viveu uma vida terrena irrepreensível aos olhos de Deus; Seu exemplo é para nós fonte de infinita inspiração, por isso devemos meditar diariamente em Seus ensinos e praticá-los para que o nome de nosso Pai seja glorificado e bendito através de nossas vidas, pois a maneira que vivemos deve ser condizente com o que acreditamos para que tenhamos um testemunho puro e verdadeiro.

Deus nos ressuscitou juntamente a Cristo para que pudéssemos testificar de Sua magnanimidade e infinito amor para conosco. Fomos resgatados das trevas para sempre através do sangue do Cordeiro. Louvado seja Deus! Permaneçamos eternamente gratos ao Senhor, procurando valorizar nosso relacionamento com Ele. Cristo nos garantiu acesso ilimitado ao Pai por causa de Sua misericórdia infindável. A graça de Deus é manifestada de maneira totalmente abrangente, através dela podemos perceber e viver o poder de Deus para salvação. Passamos de seres abomináveis e condenáveis à ira divina para reis e sacerdotes! Mesmo pecando diariamente somos alertados pelo Espírito Santo para que nos arrependamos e assim sejamos feitos terrenos férteis para que frutifiquemos e proclamemos o Evangelho. Que a fé venha brotar em nós dia após dia para que cresçamos em maturidade e entendimento como corpo de Cristo, ajudando-nos e amando-nos como Ele nos ama.

Que Deus os abençoe!

Agradecida e agraciada pela inspiração do Espírito Santo,

Esther Moore