quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Aprovados por Deus em Cristo Jesus – Lição 8


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Dificilmente poderemos encontrar um discipulado tão abrangente e eficaz quanto o que Paulo conseguiu desenvolver na vida de Timóteo. Hoje, em grande parte das igrejas, já se dá mais valor ao discipulado. Sem dúvida, somente através de uma integração de um novo convertido no seio da igreja local, visando à consolidação de sua fé cristã, é que se pode dizer que a missão evangelizadora está sendo bem-sucedida. Os resultados de um discipulado eficaz só podem ser observados na vida dos que permanecem firmes, servindo ao Senhor com alegria e segurança espiritual. Evangelizar é a missão da Igreja. Discipular é tarefa do maior significado na igreja local.

Jesus não mandou apenas evangelizar, ou proclamar as Boas-Novas de Salvação. Mas ordenou: “Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos. Amém!” (Mt 28.19,20 - grifo nosso). O verbo ensinar, nesse texto, tem o sentido de “fazer discípulos de todas as nações”, ou de todas as etnias, especialmente, ou entre os gentios. O ensino doutrinário cristão inclui o rito do batismo em águas, que é a confirmação exterior da conversão de uma pessoa. Por isso, Jesus exortou a que seus discípulos ensinassem as nações a “guardar todas as coisas” que ele havia mandado.
Com essa visão abrangente acerca do discipulado eficaz, Paulo teve esmero no cuidado com a vida espiritual e moral de Timóteo. Ele não se contentava em ver Timóteo apenas como um mensageiro, entregador de suas cartas nas igrejas por ele fundadas. Porém, almejava, e conseguiu, ver no jovem obreiro, um verdadeiro evangelista, um ministro do evangelho (cf. 2 Tm 4.5). No trecho da carta, estudado neste capítulo, vemos que ele faz ligação com a seção anterior, estudada no capítulo antecedente, quando o apóstolo declara sua firmeza, na fé em Cristo, dizendo: “Eu sei em quem tenho crido” (2 Tm 1.12), e exorta seu discípulo a seguir o seu exemplo como obreiro e servo de Deus.

Nesta parte da carta, Paulo, o tutor espiritual de Timóteo, faz uma das mais belas exortações acerca do ministério, dizendo: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15). Paulo enviara Timóteo a uma igreja que enfrentava problemas os mais diversos, de ordem espiritual, ética e moral. Ali, em Éfeso, havia falsos mestres e falsos ensinos, que tinham o objetivo de desvirtuar a vida cristã. Os gnósticos eram divididos em dois grupos basicamente. Uns ensinavam que seria necessário o homem afastar-se das aglomerações humanas, para evitar a contaminação do pecado, e que a carne, ou o corpo, não presta para nada. Só o espírito tinha valor. Eram os ascetas. Com essa visão, surgiram os monges, e os seus monastérios.
Outros eram licenciosos e defendiam a ideia de que, se a carne não presta, deve ser destruída pela prática de atos imorais, de prostituição, de homossexualidade, bebedeiras, e de todo o tipo de depravação, abominável aos olhos de Deus. De uma forma ou de outra, os falsos mestres destilavam esses ensinos heréticos, que contaminaram muitos crentes. Por isso, Paulo enfatizava o cuidado que Timóteo deveria ter para ser um obreiro digno, íntegro, aprovado por Deus, diante da igreja e dos não cristãos. No final da seção anterior, Paulo escreveu: “Portanto, tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna. Palavra fiel é esta: que, se morrermos com ele, também com ele viveremos; se sofremos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará; se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo” (2.10-13).
Para ser aprovado por Deus, o obreiro precisa suportar os sofrimentos, as oposições, os desafios e, acima de tudo, as tentações. Somente com um caráter cristão, íntegro e forjado no relacionamento pessoal com Cristo, é que um ministro do evangelho, em qualquer de suas funções, pode vencer os embates contra a carne, o mundo e o Diabo, que tudo faz para desestabilizar os servos de Deus, especialmente os que detêm posições de liderança nas igrejas locais. Mas Paulo tinha a convicção de que é possível vencer todos os adversários e todas as coisas que se opõem à vida cristã. Ele afirmou de modo categórico e firme: “Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou” (Rm 8.37).

I - A URGÊNCIA DE SE ACHAR APROVADO POR DEUS

No trecho da carta que antecede a esta seção, Paulo já havia exortado Timóteo quanto à salvação (2 Tm 2.20), quanto à necessidade da perseverança nos caminhos do Senhor, bem como com relação à apostasia de muitos que, atraídos pelos falsos ensinos, afastaram-se da verdade do evangelho de Cristo (2 Tm 2.11-13). Por isso, ele diz a Timóteo para trazer “estas coisas à memória” e para não se envolverem em “contendas de palavras, que nada aproveitam e são para perversão dos ouvintes” (2 Tm 2.14). Sem dúvida alguma, em Éfeso, os falsos mestres apreciavam provocar discussões entre os crentes, visando suscitar dúvidas quanto à sã doutrina.

1. Contendas que Pervertem

É uma das características marcantes dos hereges ou dos apóstatas julgarem-se “donos da verdade”, de terem descoberto “a última revelação” de Deus, segundo suas pesquisas e ensinos deturpados. Normalmente, esses “mestres” são presunçosos, arrogantes e até agressivos. Valem-se da lógica humana, da retórica e das argumentações aparentemente fundadas na Bíblia para impressionar os crentes incautos, que, via de regra, não gostam de estudar a Palavra de Deus. Muitos sequer leem a Bíblia, e, quando muito, o fazem no momento do culto, em que o dirigente convida para a “leitura oficial”. Depois, fecham o livro sagrado, e só o abrem “na próxima semana, no próximo culto”.
São diversos os tipos de “contendas de palavras”, que eventualmente surgem no meio cristão ou entre evangélicos e pessoas de outras denominações ou igrejas. Os salvos em Cristo não devem estar em busca de discussões com pessoas de outras igrejas. Mas, às vezes, oportunidades surgem inesperadamente, e muitos não sabem o que dizer ante argumentações que questionam a fé, em especial, a fé pentecostal.
Já vi de perto, e até participei, de discussão entre irmãos presbiterianos ou batistas acerca da doutrina da salvação. Os pentecostais, em geral, entendem que a expiação feita por Cristo na cruz do Calvário foi para todas as pessoas que o aceitam como Salvador. Os irmãos batistas e presbiterianos, em geral, entendem que somente “os eleitos” ou os “predestinados” têm esse direito. Os pentecostais usam versículos bíblicos para fundamentar sua posição. Os irmãos “calvinistas” também usam a Bíblia para embasarem seus argumentos. Enquanto a discussão é respeitosa, num exercício de afirmação da fé, ou de busca da verdade, é salutar. Mas há ocasiões, em que o confronto torna-se “contendas de palavras, que nada aproveitam e são para perversão dos ouvintes”. Entendemos que, na eternidade, encontraremos tanto “arminianos” quanto “calvinistas” que forem fiéis a Cristo, lá, no céu.
Os falsos mestres são mais numerosos hoje do que nunca. E os servos de Deus precisam estar bem preparados para saber argumentar em defesa de sua fé, firmada na sã doutrina. Quando surgirem tais “contendas de palavras”, que pervertem, e não levam a lugar nenhum, a melhor coisa é seguir o conselho de Paulo a Tito: “Mas não entres em questões loucas, genealogias e contendas e nos debates acerca da lei; porque são coisas inúteis e vãs. Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o, sabendo que esse tal está pervertido e peca, estando já em si mesmo condenado” (Tt 3.9-11).

2. O Obreiro Aprovado

“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15). São várias as características marcantes de um “obreiro aprovado” por Deus. No texto, Paulo apresenta duas qualificações que são fundamentais e indispensáveis para essa aprovação.

1) “Que não tem de que se envergonhar”

Era um conselho pastoral a Timóteo, e não propriamente à igreja em que ele se encontrava. Era uma exortação à integridade espiritual e moral, diante de Deus, da igreja local e diante dos homens. Referia-se ao testemunho que um obreiro cristão deve demonstrar. Jesus disse que o cristão é “sal da terra” e “luz do mundo” (Mt 5.13). Ou seja, o crente em Jesus, e especialmente o obreiro, o líder, na obra do Senhor, deve ser referência para o mundo! Em outra carta, Paulo diz que o bispo deve ser “irrepreensível” (1 Tm 3.2), de conduta ilibada, que não apresente exemplo negativo de atitude ou ação que desabone sua conduta. O obreiro fiel, além de não se envergonhar do evangelho de Cristo (Rm 1.16), “não tem de que se envergonhar” em sua conduta, em seu procedimento pessoal; não tem o que esconder ou ocultar por ser desonroso em sua vida.

2) “Maneja bem a palavra da verdade”

O verbo manejar tem o sentido de trabalho prático, de manejo, de operacionalidade. Manejar bem quer dizer saber trabalhar um instrumento com eficiência, capacidade e competência. No caso do manejo da Palavra de Deus, por parte do obreiro, remete-nos àquele servo de Deus que sabe usar a palavra no momento certo, e de forma certa. Ao falar para um doente, moribundo, o pregador, o obreiro, o que visita, precisa ter cuidado. O doente espera uma palavra de conforto, mesmo que esteja à beira da morte.
Se o pregador vai falar para pessoas não evangélicas, precisa ter muito cuidado no manejo da palavra. Evangelizar é lançar a “rede” para pescar “os peixes” do mundo para Cristo. Alguns pregam muito, mas não sabem alcançar o coração dos ouvintes, na unção do Espírito Santo e apenas emitem imprecações duras contra quem os ouve.
Além de exortar Timóteo a ser um obreiro aprovado, Paulo recomendou que ele evitasse os “falatórios profanos”, que produziriam “maior impiedade” (2 Tm 2.16). E cita os nomes de dois falsos mestres, chamados “Himeneu e Fileto”, pois, segundo ele, a palavra desses homens era tão má que haveria de roer “como gangrena” (2 Tm 2.17,18). A gangrena é uma enfermidade que destrói a carne de uma parte do corpo físico. A heresia destrói o “tecido” espiritual da igreja, causando uma espécie de “necrose” espiritual. Além disso, esses falsos mestres, que já tinham sido cristãos, “se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns” (2 Tm 2.19). Essa dupla era terrível. E fizeram escola, pois, em muitas igrejas, nos dias atuais, há muitos discípulos deles.

Há muita gente se dizendo cristã, “discípulo”, “levita” e até pastores e pastoras, totalmente desviados dos caminhos do Senhor. Vimos em uma rede social duas “pastoras” lésbicas dizendo que a Bíblia que elas usam é a mesma usada pelos heterossexuais. Estão pervertendo muitas pessoas, por usarem a Palavra de Deus para justificar o que Deus abomina. São da mesma estirpe de Himeneu e Fileto. Mas Paulo diz a Timóteo: “Todavia, o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade” (2 Tm 2.19). A condenação desse tipo de “crente” será maior ainda, pois estão usando a Palavra de Deus para justificar seu estilo de vida condenado pelo Senhor.

II - DOIS TIPOS DE VASOS

O apóstolo Paulo, homem de muita erudição, poliglota e profundo conhecedor da cultura de sua pátria e de outros povos, conhecia bem os costumes de seu tempo. Ele fazia uso abundante de metáforas, ou figuras de linguagem, para melhor expressar seu pensamento fértil. Depois de exortar Timóteo a precaver-se ou afastar-se dos falsos ensinadores, Paulo usa a figura dos utensílios que existem numa casa, normalmente, em residência de pessoas ricas ou abastadas. E indica dois tipos de “vasos”. “Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra” (2 Tm 2.20). “Grande casa” era o tipo de residência de homens ricos.

1. Vasos de Honra e Desonra

Paulo se referia ao uso de “vasos de ouro e de prata”, que eram usados pelos donos da “grande casa”, em ocasiões especiais, quando havia convidados de honra, como o texto sugere, diferentes em sua natureza dos vasos “de pau e de barro”, que tinham menos valor. Há intérpretes das Escrituras que diferem em suas explicações sobre esses dois tipos de vaso, e sua aplicação à Igreja do Senhor Jesus, mais particularmente, na igreja local. Quem seriam os vasos “para honra”, ou vasos de honra? Pensamos que é razoável entender que, na “grande casa”, figura da Casa do Senhor, há vasos de honra, que são os crentes fiéis, santos, os quais são usados por Deus para honra e glória do seu nome.
Os vasos “de pau e de barro” têm menos valor que os vasos de metais preciosos, acima referidos. Tanto os vasos mais caros (de ouro e de prata) como os menos valiosos, de pau e de barro, em princípio, têm utilidade numa casa. Mas, ao que tudo indica, Paulo queria advertir a Timóteo da existência dos falsos mestres, comparados a “vasos para desonra”, e os verdadeiros mestres, que seriam vasos “para honra”. Entendemos que a figura pode aplicar-se não só aos líderes, ou mestres no ensino da Palavra. Ela pode ser aplicada aos membros do Corpo de Cristo, ou à Igreja, em sua amplitude. Os crentes fiéis, comprometidos com o Senhor Jesus, são “vasos de honra”, enquanto os vasos “para desonra” são os crentes infiéis, que causam problemas e escândalos na Casa do Senhor.
Há comentaristas que evitam a comparação dessa metáfora com a parábola do trigo e do joio, na qual Jesus explica que o “trigo” são os crentes salvos, verdadeiros, sinceros, os “filhos do reino”, que são colhidos para o celeiro de Deus; e que o “joio” são os falsos crentes, os “filhos do maligno”, que têm aparência de cristãos, mas são falsos, e serão lançados no fogo, no Juízo Final (ver Mt 13.24-30 e Mt 13.36- 43). Porém, a analogia é válida, a nosso ver, pois demonstra a natureza dos que são fiéis e dos que são infiéis na casa de Deus.

2. Desejos Ilícitos da Mocidade

No texto, o apóstolo insere uma advertência para a vida pessoal de Timóteo. Paulo sabia que Timóteo poderia ser alvo dos ataques perniciosos na área das tentações carnais. Ele não estava imune ao assédio do Maligno, por meio dos convites e insinuações perigosas perpetradas pelos agentes do Diabo contra os jovens cristãos. Sendo solteiro, Timóteo certamente era visado por mensageiros e mensageiras do Diabo para a prática do sexo ilícito. “Foge, também, dos desejos da mocidade; e segue a justiça, a fé, a caridade e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor” (2 Tm 2.22). Gordon Fee não entende dessa forma. Acha que “os desejos da mocidade”, dos quais Timóteo deveria fugir, seriam as “paixões voluntariosas da mocidade, que às vezes ama as novidades, as discussões insensatas e as ‘contendas de palavras’ que com frequência levam a brigas”.1 No nosso entender,
Paulo se refere aos “desejos” ilícitos da mocidade, principalmente na área da sexualidade.
Essa solene exortação de Paulo é de grande valor e oportunidade, nos dias presentes. A juventude cristã está sendo prejudicada de forma muito acentuada no que concerne à pureza de pensamentos e na área do sexo. A filosofia liberalista e o relativismo têm causado grande estrago no meio dos jovens evangélicos. As redes sociais, os sites de relacionamento e de entretenimento oferecem espaço livre para a interação sexual virtual e pornográfica. Muitos jovens (e adultos) têm sido laçados pelas redes da fornicação, adultério e prostituição virtual. Há uns quinze anos, pesquisas indicavam que 50% dos jovens evangélicos praticavam o sexo antes do casamento. Hoje, as pesquisas dão conta de que esse percentual tem aumentado significativamente. A organização Christian Mingle, dos Estados Unidos, constatou que 63% dos solteiros praticam sexo antes do casamento.2 No Brasil, há pesquisas não oficiais que indicam que esse índice alcança 57% dos jovens evangélicos. Talvez seja muito mais.
Mesmo que esses índices possam sofrer ajustes, indicam que grande parte da juventude evangélica não valoriza a virgindade, como indicador de pureza moral. E isso é preocupante, pois, ainda que não haja um versículo bíblico explicitamente dizendo que não se deve fazer sexo antes do casamento, há inúmeras referências bíblicas que indicam que o sexo antes do casamento é fornicação. Paulo mesmo tem escritos nesse sentido. (Ler 1 Tm 1.10; 1 Co 5.1; Ap 21.8) O casamento é uma aliança entre um homem e uma mulher que decidem unir-se pelos laços do matrimônio. E instituição divina, criada por Deus, no princípio de todas as coisas, ao criar o homem. Deus não uniu dois adolescentes, ou dois jovens, mas um casal, com todas as potencialidades mentais e físicas para o relacionamento conjugal, visando formar uma família e perpetuar a espécie humana.

Mais grave ainda é o envolvimento de jovens cristãos, rapazes e moças, com a homossexualidade. Tem aumentado, e muito, o número de homossexuais nas igrejas evangélicas. A falta de ensino sobre o assunto, com fundamento seguro na doutrina bíblica; o relacionamento de jovens com homossexuais; o relativismo social, que considera a prática homossexual algo “normal” e até “desejável”, “a forma mais pura de amor”, no dizer de alguns ativistas; a influência perniciosa das novelas, dos seriados, dos filmes e de outros programas na televisão, constituem poderoso estímulo satânico à prática homossexual. Há igrejas de homossexuais, em que “pastores” e “pastoras” usam a Bíblia para justificar o que Deus abomina. E muitos jovens e adolescentes já caíram nas mãos do Diabo. E por demais necessário o ensino fundamentado na Palavra de Deus sobre a condenação explícita e cristalina contra o homossexualismo. No Antigo Testamento, Deus o denominou “abominação ao Senhor” (Lv 18.22; 20.13); No Novo Testamento, Paulo considera “paixões infames”, ato “contrário à natureza”, “torpezas” (ver Rm 1.24-27).

A união conjugal é de tamanha significância que é comparada à união entre Cristo e a Igreja. E deve ser resultado de um namoro e noivado segundo os padrões espirituais e morais, emanados da Palavra de Deus. O marido deve amar sua esposa, “como também Cristo amou a igreja e se entregou por ela” (Ef 5.25); a esposa deve ser submissa ao esposo “assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seu marido” (Ef 5.24). Desse modo, não faz sentido um jovem unir-se a uma jovem sem se casarem, pois o namoro e o noivado não se revestem da responsabilidade que um deve ter para com o outro. E um relacionamento que pode ser temporário. Mas o casamento é uma relação séria e com propósitos bem definidos pelo Criador. Assim, a inserção de Paulo desse conselho a Timóteo tem grande valor para os dias atuais, contribuindo para a conscientização de nossos jovens acerca do valor da pureza e da santidade no namoro e no noivado, visando a um casamento aprovado por Deus.

3. Com quem o Jovem Deve Andar

Paulo escreveu a Timóteo: “[...] e segue a justiça, a fé, a caridade e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor” (2 Tm 2.22). De um lado, o jovem obreiro deveria fugir dos desejos ilícitos da mocidade, mas deveria, também, saber com quem acompanhar-se para servir a Deus com pureza e santidade. Ele deveria seguir a “justiça, a fé, a caridade e a paz, com os que, com um coração puro, invocam ao Senhor”. Já na primeira carta, Paulo dera exortação idêntica a Timóteo, acrescida de outros termos de grande valor: “Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas e segue a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a paciência, a mansidão” (1 Tm 6.11). A repetição de tal recomendação reflete o cuidado e a preocupação de Paulo com a integridade espiritual do jovem obreiro. O salmista também tinha essa visão acerca de que companheiros um servo de Deus deve buscar: “Companheiro sou de todos os que te temem e dos que guardam os teus preceitos” (SI 119.63). Certamente, as amizades ruins, mesmo na igreja local, têm sido motivo de desvio e morte espiritual para muitos crentes, em especial jovens e adolescentes.

III - PERSEVERANÇA NA PALAVRA E TRATO COM DISSENSÕES

1. Rejeitando “Questões Loucas”

Após ensinar sobre o que Timóteo deveria cultivar e obedecer, e também rejeitar, Paulo acrescenta que ele deve rejeitar questionamentos que não produzem nem agregam valor espiritual, moral ou cultural, que valorize o conhecimento e a vida cristã. “E rejeita as questões loucas e sem instrução, sabendo que produzem contendas” (2 Tm
2.23). Eram as questões e proposições levantadas pelos falsos mestres ou hereges, que assediavam os irmãos na igreja de Éfeso. Os hereges, julgando-se “doutores da lei”, não entendiam o que diziam ou afirmavam. Mas produziam enormes contendas, lançando uns contra outros, provocando desunião e intrigas entre os próprios crentes.

2. O Servo do Senhor não Deve Contender

No contexto das epístolas pastorais, via de regra, a expressão “servo do Senhor” é mais aplicada aos ministros da Palavra, ou aos líderes das igrejas, principalmente aos que se dedicam ao ensino. Não raro, nas igrejas, aparecem irmãos, que possuem cursos de Teologia, ou de outras áreas acadêmicas, os quais levantam argumentos pessoais contra doutrinas já consagradas ou estabelecidas ao longo dos anos nas igrejas cristãs. Nada temos contra esses cursos, pois, pela graça de Deus, possuímos alguns deles, que muito têm enriquecido nosso ministério de ensino. Mas referimo-nos a ensinadores presunçosos, que procuram angariar simpatia de grupos de crentes para si, a fim de formarem uma facção dissidente no meio dos irmãos. Quanto confrontados pela liderança local, tornam-se opositores velados ou declarados, e, muitas vezes, conseguem fazer dissensões ou divisões. Tais “doutores” andam na contramão do Salmo 133, que diz que é “bom” e “suave”, “que os irmãos vivam em união”. Discordar de algo que merece reparos é natural, mas provocar dissensão e contenda não é coerente com o amor cristão.
Diante dos fatos que conhecia, Paulo exorta a Timóteo a evitar tais contendas e litígios, envolvendo a doutrina, e as provocações dos contendores que surgem no meio da igreja local: “E ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor” (2 Tm 2.24). Conselho sábio, de um pastor experiente, culto e bem firmado na sã doutrina cristã, a um jovem obreiro, que ainda teria muito o que aprender, ao longo dos anos de seu ministério.
Paulo diz que “não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos”. Há casos, reconhecemos, em que a liderança da igreja comporta-se à altura das situações de litígio, usa de mansidão, de compreensão e bondade, mas os opositores querem mesmo é fazer a divisão, abrir uma igreja, criar um ministério dissidente, e tornarem-se “pastores-presidentes”. Nesse caso, é melhor deixar com Deus, que a tudo julga e a todos avalia com sua reta justiça. O líder cristão nunca deve fazer “o jogo” dos dissidentes. Diz provérbios: “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira” (Pv 15.1).

3. Instruindo com Mansidão

Completando seu ensino quanto aos que se levantam contra a liderança da igreja, por diversas razões, Paulo diz a Timóteo como deve o líder se comportar. Não precisa contender, atendendo às provocações dos falsos mestres ou dos dissidentes, os quais agem por ação maligna para causar descontentamento, inquietação e desunião no meio dos irmãos: “instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em cuja vontade estão presos” (2 Tm 2.25,26). O obreiro precisa saber administrar esse tipo de conflitos com opositores.

CONCLUSÃO

A liderança cristã é um desafio de grandes proporções. A igreja, mesmo no sentido local, não é uma empresa, que se rege por leis e regras formais, embasadas nos princípios jurídicos. A igreja local precisa de normas, no sentido da administração eclesiástica, mas sua Lei Maior é a Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada. Na administração das igrejas, por vezes, surgem conflitos de ordem espiritual, doutrinária ou humana. Daí por que há necessidade de preparo e capacitação de líderes, que saibam não só ministrar o ensino, mas, com o uso adequado dos princípios bíblicos, resolver questões diversas que podem desestabilizar o ministério e a própria liderança. Mas Paulo, em suas cartas a Timóteo, nos dá preciosos ensinamentos sobre como tratar os conflitos nas igreja

fote: euvouparaebd

sábado, 15 de agosto de 2015

Eu Sei em Quem Tenho Crido - Lição 7


Na primeira carta a Timóteo era evidente a preocupação do apóstolo Paulo em alertar a igreja em Éfeso com relação aos falsos mestres e seus ensinos perigosos contra a fé cristã. Na segunda carta, no entanto, podemos perceber que ele se dedica a ensinar sobre diversos assuntos, de caráter específico e bem pessoal para com o seu discípulo amado. Paulo começa a segunda carta lembrando a sua origem e firmeza no evangelho, e demonstra o cuidado extremado que tinha para com a vida espiritual de Timóteo, lembrando, também, a origem do discípulo, oriundo de uma família cristã exemplar.
Escrevendo da prisão, Paulo demonstra seu caráter cristão fortalecido na fé em Jesus. Quando muitos, sem estarem presos, não conseguem manter-se firmes na fé, Paulo manifesta sua fortaleza de caráter e personalidade cristãos. A prisão é lugar que destrói a muitos, levando-os ao desespero e à descrença. No entanto, Paulo comprova que podia estar preso fisicamente, confinado a uma cela romana, mas seu espírito e sua fé estavam perfeitamente livres para continuar servindo a Deus e que “a palavra de Deus não está presa” (2 Tm 2.9). Ele mostra que valeu a pena ter contribuído para a formação de um jovem obreiro, o qual, em seu lugar, o representava tão bem, a ponto de ser seu embaixador junto à igreja em Éfeso.
Paulo concita Timóteo a não se envergonhar do evangelho, nem dele, seu mestre, pelo fato de estar na prisão. Certamente, ele já tinha a consciência de que um discípulo de Cristo não pode envergonhar-se dEle (Mt 10.32,33). Paulo declara solenemente sua certeza e firmeza na fé, estimulando Timóteo a não fraquejar em qualquer circunstância: “[...] por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho, porque eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele Dia” (2 Tm 1.12). Um exemplo de fé para todos os obreiros, em todos os tempos. Nunca se deve desanimar, mesmo quando as circunstâncias forem adversas.

I - ORAÇÕES E AÇÕES DE GRAÇAS

1. Intercessão por Timóteo

O pastor Paulo sabia das necessidades de Timóteo, e orava por ele, intercedendo por sua firmeza e vitória espiritual, ante as lutas que enfrentava como um jovem obreiro, ainda sem a experiência necessária para saber conduzir-se em situações de maior desafio à liderança. Ele passa a expressar seu cuidado, dizendo que orava sem cessar, “noite e dia” (2 Tm 1.3). Será que nos dias presentes os pastores mais antigos oram pelos mais novos com verdadeiro amor? Sem dúvida, nos dias de hoje, faz-se necessário ainda mais esse cuidado com os novos obreiros do Senhor.
Muitos deles ressentem-se da falta de interesse dos que os consagraram ou sobre eles impuseram as mãos, no dia da consagração ou separação para o ministério. Devemos seguir o exemplo de Paulo, que, tendo enviado Timóteo para supervisionar a igreja em Éfeso, não deixou seu “filho na fé” (1 Tm 1.2) entregue a si mesmo, nas pesadas tarefas que havia de desenvolver. Lembremos que, para uma carta chegar às mãos de um destinatário, àquela época, muitos dias ou até meses levariam para chegar ao destino.

2. A Sensibilidade de Paulo

Paulo era um dos expoentes máximos dos apóstolos de Cristo. Suas qualificações ministeriais são reconhecidas por todos os estudiosos e intérpretes do Novo Testamento. Mas não se descurava do lado humano do ministério. Um exemplo para a liderança cristã. Há casos em que o obreiro é (ou julga-se) tão importante, que se esquece dos aspectos humanos e emocionais da igreja e dos seus liderados. E dirigem a igreja local como se fosse uma organização técnica, racional e fria. Há casos em que, se o obreiro “não atingir as metas”, geralmente financeiras, pode ser “dispensado” sem a menor consideração. Isso não deve ser característica de um ministério cristão.
Paulo diz a Timóteo, depois de algum tempo cumprindo a missão em Éfeso (1 Tm 1.3; 2 Tm 1.18), que desejava vê-lo de perto, e se lembrava de suas lágrimas, para ser confortado com sua presença. Lembremos de que Paulo estava preso, em meio à perseguição de Nero aos cristãos (2 Tm 1.16,17); fora abandonado por muitos amigos (2 Tm 1.15); e sentia que seu ministério aproximava-se do fim. Nessa seção da carta, podemos perceber, de um lado, as necessidades emocionais de Paulo; e o cuidado e o afeto que o velho pastor tinha por seu discípulo mais novo. De outro lado, percebemos que Timóteo era um obreiro igualmente sensível e humano. Ele derramava lágrimas, em algumas ocasiões, quando comungava com Paulo os seus sofrimentos ou decepções no ministério. Chorar faz bem, quando as lágrimas são de alegria, ou de emoções incontidas, diante das adversidades. Tranquiliza e equilibra a mente e o corpo. O próprio Senhor Jesus chorou, ao ver a dureza dos seus concidadãos, em Jerusalém (Jo 11.35).

3. A Formação Familiar de Timóteo

Timóteo era um jovem obreiro de caráter exemplar. Seu discipulado começou no lar, com o exemplo de sua avó, Loide, e de sua mãe, Eunice, ambas judias, mas convertidas ao evangelho. Seu pai era grego. Não há informação quanto a ele ter ou não se convertido ao evangelho.
Não temos a menor dúvida de que a formação familiar de Timóteo incluía o ensino da sã doutrina, do culto no lar e a valorização da piedade cristã. Em seu crescimento espiritual, cumpriu-se o que a Bíblia diz: “Instrui o menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele” (Pv 22.6). Para isso, faz-se necessário que a adoração a Deus, no lar, ou o culto doméstico, seja valorizada. Uma recomendação que fazia parte da educação judaica, desde tempos antigos. “Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma, e atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por testeiras entre os vossos olhos, e ensinai-as a vossos filhos, falando delas assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te; e escreve-as nos umbrais de tua casa e nas tuas portas” (Dt 11.18-20). A educação familiar de Timóteo serve de exemplo para as famílias cristãs atuais.

II - A CONVICÇÃO EM DEUS

1. A Imposição de Mãos

Paulo conclui essa parte da sua segunda carta a Timóteo fazendo referência ao “dom de Deus”, que nele existia, pela imposição de mãos do seu mentor espiritual “Por este motivo, te lembro que despertes o dom de Deus, que existe em ti pela imposição das minhas mãos” (2 Tm 1.6). Esse “dom” (gr. charisma) era sem dúvida o “dom” para o ministério. A imposição de mãos sempre foi um ritual de grande valor, na vida ministerial da igreja cristã.1 Jesus usou as mãos para efetuar vá- rias curas (Mc 6.3; Lc 4.40). Saulo foi curado pela imposição de mãos de Ananias (At 9.17). Jesus impôs as mãos e abençoou crianças (Mc 10.16); o batismo com o Espírito Santo era ministrado com imposição de mãos (At 19.6), como uma das formas de seu recebimento. A consagração de obreiros era solenemente realizada com imposição de mãos do ministério ou do presbitério (1 Tm 4.14; 2 Tm 1.6), prática que é seguida, hoje, em quase todas as igrejas evangélicas.

2. O Espírito de Fortaleza, de Amor e de Moderação

“Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação” (2 Tm 1.7). Não obstante a tradução do termo “espírito” estar em letra minúscula, refere-se à presença do Espírito Santo na vida do jovem obreiro. Esse “espírito” ou essa presença, não é de “temor”. Mas é espírito de “fortaleza, e de amor, e de moderação”. Aqui, vemos algo muito sublime. O Espírito Santo é Espírito de fortaleza, mas suas ações e atividades são feitas com equilíbrio. O poder do Espírito Santo atua com “fortaleza” e, ao mesmo tempo, com “amor” e “moderação”. Há lugares, em que, em determinados eventos ou reuniões, há um verdadeiro escândalo de falta de equilíbrio, no uso dos dons espirituais.
A falta do discernimento espiritual tem levado igrejas inteiras ao histerismo sensacionalista, que em nada glorifica ao Senhor.

1 A imposição de mãos não se fazia apenas na Igreja Primitiva. Povos pagãos usavam a imposição de mãos como um ato místico e sagrado. Na índia, em Roma, no Egito, na Babilônia e em muitos lugares, essa prática era comum. Acreditava-se que pelas mãos passava energia que curava e abençoava as pessoas.
Diante dessa declaração enfática sobre o poder do Espírito Santo, na vida dos crentes, Paulo exorta Timóteo, dizendo:
Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes, participa das aflições do evangelho, segundo o poder de Deus, que nos salvou e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos dos séculos, e que é manifesta, agora, pela aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte e trouxe à luz a vida e a incorrupção, pelo evangelho. (2 Tm 1.8-10)
Essa exortação nos mostra que o crente em Jesus não deve jamais se envergonhar dEle nem dos seus pastores que dão suas vidas pela igreja do Senhor.
O apóstolo concitou Timóteo a participar “das aflições do evangelho”. Ele sabia o que falava, não por ouvir dizer, ou por teoria ou retórica humana. Paulo passou pelo fogo do sofrimento pelo amor a Deus e à sua obra.
Timóteo tinha conhecimento das experiências de Paulo, em suas jornadas em prol da igreja do Senhor Jesus. Mais do que qualquer outro apóstolo, ele sofreu de modo intenso para cumprir sua missão. Ele lembrou tais fatos a Timóteo, para que o jovem obreiro não se envergonhasse de Deus nem do seu pastor ante os inúmeros momentos de tribulações que experimentara. Sua certeza da vitória, não obstante as circunstâncias adversas se levantarem, quais ondas num mar encapelado, o fez exclamar, num verdadeiro “Cântico de Vitória” (Rm 8.37-39).

3. Doutor dos Gentios

Dando sequência às suas palavras de encorajamento, Paulo diz a Timóteo, exaltando a Cristo: “(...j para o que fui constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos gentios; por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho, porque eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele Dia” (2 Tm 1.11,12). Ele tinha consciência e convicção de sua chamada tríplice, tendo sido constituído para ser “pregador, apóstolo e doutor dos gentios”. Como pregador Paulo tinha o talento e o dom natural da oratória. Exímio orador, poliglota, Deus usou-o com essas qualidades, fazendo dele o maior dos intérpretes do evangelho de Cristo, através de suas mensagens a muitos povos. Como apóstolo, ainda que sendo “grande” em sua estatura espiritual e ministerial, considerava-se a si mesmo “o menor dos apóstolos” (1 Co 15.9).
Como “doutor dos gentios”, reconheceu que, em si mesmo, recebeu, da parte de Deus, conhecimentos e sabedoria que não foram dados a outros. Seu “doutorado” foi realizado e concluído na “faculdade da tribulação” (Rm 5.3), nos cursos de especialização em sofrimentos:
Até esta presente hora, sofremos fome e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa, e nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos; somos injuriados e bendizemos; somos perseguidos e sofremos; somos blasfemados e rogamos; até ao presente, temos chegado a ser como o lixo deste mundo e como a escória de todos. (1 Co 4.11-13)
Após sua auto apresentação, Paulo exorta Timóteo a manter-se firme na fé, conservando “o modelo das sãs palavras”, que o jovem discípulo recebeu, da parte de Paulo, “na fé e na caridade que há em Cristo Jesus’ (2 Tm 1.13). E o incentiva, dizendo: “Guarda o bom depósito pelo Espírito Santo que habita em nós” (2 Tm 1.14). O “bom depósito” era o acervo de conhecimentos que Paulo e Timóteo receberam da parte de Deus. É o “tesouro”, guardado em “vaso de barro” que deve glorificar a Deus: “Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós” (2 Co 4.7).

III - UM CONVITE AO SOFRIMENTO POR CRISTO

1. O Fortalecimento na Graça

“Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus. E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros” (2 Tm 2.1,2). Todo cristão precisa ser forte, principalmente no aspecto espiritual. O jovem discípulo de Paulo certamente enfrentava desafios além de suas forças. Obreiro novo, deve ter se defrontado com homens mais idosos e experientes, que não acreditavam no seu potencial. Os falsos mestres que se encontravam em Éfeso devem ter se oposto ao jovem obreiro. Diante dessa realidade, estando tão distante, Paulo lhe diz que devia fortificar-se “na graça que há em Cristo Jesus”. Sem dúvida essa fortaleza deve fazer parte da vida do obreiro em qualquer situação. Muitas vezes, em situações de tranquilidade no ministério, o obreiro pode descuidar-se de buscar o poder de Deus, e fracassar.
Diante das lutas, tribulações e tentações, o crente só vence se tiver a força que vem do alto. Escrevendo aos efésios, Paulo disse: “No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder (Ef 6.10). Fortalecer-se na graça é fortalecer-se no Senhor e na força do seu poder”. Paulo estava sofrendo. Preso e sentindo o abandono de seus amigos, na hora mais triste de sua vida, se ele não tivesse a força do poder de Deus, não teria resistido. Com esse sentimento, Paulo diz a Timóteo que confiasse o que aprendeu com seu pai na fé a homens fiéis e idôneos com capacidade para ensinarem a outros. Se Timóteo demonstrasse fraqueza, não teria credibilidade para dar exemplo a outros.

2. O Bom Soldado de Cristo

“Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo (2 Tm 2.3). A vida cristã é um misto de alegrias e tristezas; de lutas e vitórias. Jesus advertiu seus discípulos, dizendo: “Tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16.33). Há crentes que não experimentam aflições em sua vida porque não se dispõem a viver de acordo com os padrões cristãos. Preferem uma vida de prazeres e satisfações materiais, fogem da luta contra o pecado, o mundo e o Diabo.
E buscam seus interesses pessoais. Para esses, que não se incomodam, mas se acomodam ante os desafios, o desinteresse pelas coisas de Deus os fazem sentir-se melhor. Porém, para os crentes que aceitam tomar a cruz (Mt 16.24), renunciando a si mesmos, a vida cristã e uma luta constante, sem tréguas. Sua vida pode ser comparada à de um soldado, que está na frente da batalha. Como diz Paulo, sofre as aflições como bom soldado de Cristo . E é na luta, nos combates espirituais, “pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd 3), que o servo de Deus se fortalece e acumula experiências que o capacitam a ser mais que vencedor (Rm 8.37).
Um bom soldado, nas forças armadas, engaja-se na vida militar com amor, dedicação, esforço e disciplina rígida. O bom soldado de Cristo também precisa demonstrar sua vocação para fazer parte do Exército de Cristo. Não pode servir a Deus agradando ao mundo. “Ninguém que milita se embaraça com negócio desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra. E, se alguém também milita, não é coroado se não militar legitimamente” (2 Tm 2.4,5). Quantos, na vida cristã, ficaram para trás, caídos à beira do caminho e do campo de batalha, porque não vigiaram nem oraram (Mt 26.41), e se embaraçaram com coisas fúteis e passageiras desta vida.

3. O Lavrador de Cristo e os Sofrimentos da Obra

“O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a gozar dos frutos” (2 Tm 2.6). A agricultura é um dos motivos de inspiração para o uso de figuras de linguagem, em relação à pregação do evangelho. Jesus, o Mestre, usou várias parábolas em seus sermões para mostrar o significado do Reino de Deus ou o Reino dos céus. Na parábola do semeador, Ele demonstrou que o lavrador semeia em todos os terrenos. Figura da pregação do evangelho aos diversos tipos de pessoas, dentre as quais há as que são comparadas a terras que não produzem, e apenas “outra caiu em boa terra e deu fruto: um, a cem, outro, a sessenta, e outro, a trinta” (Mt 13.1-8; ver Jo 15.1; Mt 21.33). Paulo também usou essa metáfora diversas vezes. EJe diz aos coríntios que somos “lavoura de Deus”; “porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus” (1 Co 3.9). Diz a Timóteo que quem deve gozar dos frutos da plantação é o “lavrador que trabalha”.
Depois de convidar Timóteo a sofrer com ele “as aflições de Cristo”, Paulo ressalta que ele próprio muito sofrerá e sofria, na ocasião, por causa do trabalho do Senhor. Estava preso, injustamente, por causa do evangelho. Mas exortou o jovem obreiro, assegurando que o Senhor lhe daria “entendimento em tudo” (2 Tm 2.7), visto que ressuscitou dos mortos, conforme ele pregava (2 Tm 2.8).
E conclui esta parte da missiva, de modo eloquente e vibrante, dizendo a Timóteo: “Portanto, tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna. Palavra fiel é esta: que, se morrermos com ele, também com ele viveremos; se sofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará; se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo” (2 Tm 2.10-13). De um lado, essa conclusão nos mostra que Deus dá a recompensa aos que o servem, em meio às tribulações e aflições da vida. Mas se formos infiéis, ele não corresponde à infidelidade, pois “não pode negar-se a si mesmo”.

CONCLUSÃO


O apóstolo Paulo era homem de fé inabalável. Sofreu como nenhum outro apóstolo experiências dolorosas em seu ministério. Outros apóstolos também sofreram, e foram mortos por amor do evangelho. Mas Paulo, antes de sua morte, passou por momentos de grandes tribulações. Sofreu naufrágio, passou fome, foi espancado, preso em calabouço, foi abandonado por seus amigos e irmãos, além de outras agruras em sua missão. Mas demonstrou ter um caráter firme e decidido, jamais fraquejando ante as pressões e ameaças à sua fé. Demonstrou ter aquela firmeza de Daniel, de Sadraque, de Mesaque e de Abdênego, os quais também não se encurvaram ante as ameaças do Diabo. Por isso, teve autoridade para dizer a Timóteo, referindo-se a Jesus Cristo: “por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho, porque eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele Dia” (2 Tm 1.12).


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Vem ai o 4º Trimestre de 2015

4º Trimestre de 2015 estudaremos "O Começo de todas as coisas

Estudos sobre o Livro de Gênesis.


Sumário


01. Gênesis, o Livro da Criação Divina

02. A Criação dos Céus e da Terra

03. E Deus Criou Homem e Mulher

04. A Queda da Raça Humana

05. Caim Era do Maligno

06. O Impiedoso Mundo de Lamaque

07. A Família que Sobreviveu ao Dilúvio

O8. O Início do Governo Humano

09. Bênção e Maldição na Família de Noé

10. A Origem da Diversidade Cultural da Humanidade

11. Melquisedeque Abençoa Abraão

12. Isaque, o Sorriso da Promessa

13. José, a Realidade de um Sonho


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terça-feira, 4 de agosto de 2015

Conselhos Gerais - Lição 6








No capítulo anterior, terminamos observando que Paulo se referia aos cuidados que Timóteo deveria ter com pessoas idosas, com jovens e especialmente com as viúvas, a quem ele destinou boa parte de seus conselhos pastorais. Em seguida, de modo aparentemente desconexo com o pensamento que seguia em sua carta, o apóstolo passa a doutrinar sobre os presbíteros, como líderes das igrejas locais, e o cuidado que os crentes devem ter para com eles, como também, outra vez, passa a dar conselhos importantes à igreja cristã sobre o relacionamento entre patrões e empregados, e para a igreja em geral.
Paulo era um fazedor de líderes. Ele se preocupava com a formação de uma liderança cristã consciente de sua grande missão, especialmente naqueles tempos, em que a Igreja de Cristo estava sendo formada. A missão dos presbíteros era de grande valor e necessidade nos primórdios da expansão da Igreja no mundo.
Face à importância da missão dos líderes nas igrejas, Paulo recomenda que os mesmos tenham a consideração e o respeito por parte da comunidade, visto que aqueles líderes deixaram sua vida profissional ou particular para se dedicarem, em tempo inteiro, à obra do Senhor. Não havia a menor ideia de estruturas que garantissem assistência material ou previdência social para o final de suas missões. Tudo era feito por fé, atendendo ao chamado divino. Ele exortou de forma direta e oportuna: “Digno é o obreiro do seu salário” (1 Tm 5.18). Seguia o ensino de Cristo aos 70 discípulos, enviados como verdadeiros evangelistas aos mais diversos lugares, quando fossem acolhidos em alguma casa: “E ficai na mesma casa, comendo e bebendo do que eles tiverem, pois digno é o obreiro de seu salário. Não andeis de casa em casa” (Lc 10.7).
Além de exortar sobre o tratamento que deveria ser dado aos presbíteros, naquelas circunstâncias e condições, Paulo passa para outro tipo de conselho pessoal a Timóteo, preocupado com sua atuação como líder com delegação para escolher outros líderes, necessários ao ordenamento da vida ministerial e organizacional da igreja. Ordena que Timóteo deve ter muito cuidado, na ordenação ou consagração de obreiros, sobre quem não se deve impor as mãos de modo precipitado (1 Tm
5.22). E revela outra faceta de um líder que, além de se preocupar com o trabalho, com a igreja, com a missão, dá valor à pessoa do liderado, ou do seu discípulo, orientando-o quanto aos cuidados com a saúde de Timóteo. Ao que parece, o jovem obreiro sofria de enfermidades no estômago, e Paulo dava uma receita caseira para aliviar seus problemas (1 Tm 5.23). Uma grande lição para os pastores-líderes de hoje.
No trecho seguinte de sua carta, Paulo volta-se para o relacionamento entre servos cristãos e seus patrões não crentes ou cristãos. E um verdadeiro preceito de relações humanas no trabalho, sob a ótica de um líder que não via só o lado espiritual dos crentes, mas seus relacionamentos e problemas de ordem humana e emocional. Em seguida, o apóstolo dos gentios demonstra sua visão ampla da vida cristã, quando exorta sobre a questão das ambições humanas, do amor ao dinheiro, e do desejo exacerbado na busca de riquezas materiais. Sem dúvida, nessa análise da carta de Paulo a Timóteo, temos muitas lições preciosas para a liderança cristã e para os crentes em geral.

I - AOS MINISTROS DE CRISTO

O apóstolo Paulo demonstrava seu cuidado e zelo pelo ministério e pelos obreiros cristãos. No texto em análise, revela seu interesse no bem-estar espiritual e também humano e social dos que se dedicam à obra do Senhor, de modo especial aqueles que o fazem com dedicação exclusiva e vivem do evangelho.

1. O Obreiro É Digno do seu Salário

A igreja em Éfeso enfrentava muitos problemas desde a sua fundação. As heresias gnósticas e outras ameaçavam solapar a unidade entre os crentes, mediante a semeadura de doutrinas estranhas. Ao que parece, Paulo sentiu a necessidade de doutrinar sobre o sustento dos obreiros que se dedicavam à obra em tempo integral, tendo deixado suas atividades seculares para trás. “Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina” (1 Tm 5.17). Boa parte dos líderes era formada por anciãos, escolhidos pela liderança da Igreja para cuidarem do rebanho em formação. Assim como os apóstolos do Grupo dos Doze deixaram tudo para seguir a Cristo, ao longo da formação da Igreja, muitos que se convertiam sentiam o chamado de Deus para se dedicar aos misteres da obra do Senhor.
Porém, para que os líderes da igreja em seus primórdios pudessem dedicar-se à árdua tarefa de cuidar do rebanho, que crescia a cada ano, era necessário apoio financeiro para seu sustento e de sua família. Não dá para imaginar o que os primeiros obreiros do Senhor passaram na árdua tarefa de dedicar-se à obra do Senhor em tempo integral. As condições de vida para todos os que não pertenciam à “classe nobre” da sociedade eram muito difíceis. A sobrevivência dependia das contribuições, ofertas e dízimos nas igrejas. Os cristãos em geral faziam parte das classes mais humildes, pois era muito difícil um rico ou abastado interessar-se pelo cristianismo. Jesus mesmo enfatizou essa dificuldade (Mt 19.24). Mas a solidariedade cristã sempre foi demonstrada, quando as pessoas eram tocadas pelo Espírito Santo para contribuir com a igreja, incluindo a manutenção dos obreiros e de suas famílias.
É possível que Paulo tenha observado alguma dificuldade de compreensão nesse aspecto, e incluiu em sua carta a recomendação a Timóteo para que fizesse saber aos crentes que era uma obrigação cristã contribuir para as necessidades da igreja e de seus obreiros, especialmente dos que se dedicavam em “tempo integral”. E usou a figura de um “boi que debulha” (1 Tm 5.18). Esse cuidado de caráter social fazia parte das recomendações de Paulo. Aos coríntios, ele fez observações idênticas, revelando seu zelo pela manutenção dos obreiros (Ver 1 Co 9.6- 10). Ele seguia a visão de Cristo, quando enviou os setenta discípulos em missão evangelizadora. (Cf. Lc 10.7)
Esse cuidado de Paulo é legítimo. Nos dias presentes, sem a menor dúvida, é assunto que deve ser levado em consideração. Os obreiros que têm dedicação exclusiva na obra do Senhor são dignos de “seu salário”, ou de sua “renda eclesiástica”, “prebenda”, seja qual for a denominação da remuneração devida aos que se dedicam à administração da “Casa do Senhor”, na igreja local.
Paulo conclui suas admoestações à igreja de Corinto, demonstrando que os obreiros que se ocupam integralmente da obra precisam ser bem cuidados, reconhecidos e assistidos. E termina, dizendo: Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho” (1 Co 9.14 - grifo nosso). Viver do evangelho significa ter seu sustento como resultado do seu trabalho, dedicado à pregação da Palavra, ao cuidado com a igreja local, ao ensino e ao discipulado, ao aconselhamento cristão, à assistência dos enfermos e carentes, ã visitação e muito mais.

2. O Trato com o Presbitério

Os presbíteros, ou “anciãos”, eram os líderes das igrejas cristãs em seus primórdios. Como tais, sua missão era muito grande, e a eles deveria ser dado um tratamento diferenciado, não por serem mais importantes que os demais obreiros, mas por terem mais responsabilidades (Lc 12.48).

1) Acusação contra os presbíteros

Os presbíteros, bispos ou pastores não são isentos de falhas. Podem, de uma forma ou de outra, cometer deslizes ou pecados em suas vidas, se não vigiarem e orarem (Mt 26.41). Nenhum obreiro pode arrogar-se o direito de ser infalível. Quem pensa assim é mais vulnerável do que os que se consideram fracos e sujeitos a erros, pois estes procuram precaver-se. Porém, o apóstolo adverte para o cuidado que a igreja deve ter com relação à possível acusação contra os líderes da igreja local. E dá duas orientações importantes. Primeiro, acerca das acusações, e diz: “Não aceites acusação contra presbítero, senão com duas ou três testemunhas” (1 Tm 5.19).
Como bom conhecedor do Antigo Testamento, Paulo sabia que, na Lei de Moisés, uma acusação contra qualquer pessoa só poderia ser aceita se fosse por mais de uma testemunha (Dt 19.15).
Com base nesse preceito legal, Paulo exortou a Timóteo, para a igreja em Éfeso, que fosse observado esse critério. O Direito Romano também absorveu essa diretriz, no estabelecimento de um processo disciplinar contra alguém. Paz-se necessária a existência de pelo menos duas testemunhas (ou provas documentais ou materiais) para que uma acusação seja aceita. Do contrário, ainda que o acusado tenha praticado alguma transgressão, ao mesmo não poderá ser imputada a culpa.
Se o presbítero for culpado de algum pecado e não o confessar, por não existirem duas testemunhas, e se aproveitar disso para encobrir o seu erro, comete grande atentado contra sua vida espiritual. Primeiro, porque pecou. Depois, porque encobriu, prevalecendo-se do desconhecimento público de seu pecado. Para Deus, nada há encoberto. A Bíblia diz: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia” (Pv 28.13). Assim, se o obreiro peca, a melhor atitude e decisão é confessar o seu pecado e abandonar a prática ilícita, ainda que venha sofrer a disciplina e a perda de suas funções. Encobrir não é a solução própria para um cristão. “Deus não tem o culpado por inocente” (Nm 14.18; Na 1.3).

2) A repreensão aos presbíteros

“Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor” (1 Tm 5.20). Essa é uma questão sensível, principalmente nos dias presentes, quando há uma tendência para o acobertamento de faltas de líderes ou dos crentes em geral, e também a possibilidade de alguém que resolva levar os casos de disciplina à justiça comum. No comentário anterior, Paulo diz que não se deve aceitar acusação não comprovada por testemunhas. Aqui, vemos seu ensino quanto à disciplina dos que “pecaram”, ou seja, contra quem há fatos comprovados que desabonam sua conduta. Os comentaristas bíblicos, baseados literalmente no que Paulo ensinou, entendem, em sua maioria, que, uma vez comprovada a falta de um presbítero, o mesmo deve ser repreendido “na presença de todos”.
Entendemos que, se um presbítero peca, ainda que uma única vez, principalmente, sendo um líder de uma congregação ou igreja, deve ser afastado das funções, e punido com a suspensão de comunhão ou até excluído da igreja. Ao disciplinar alguém, o pastor assume o papel de juiz, de magistrado, diante de Deus. E precisa ter muito cuidado, para agir conforme “a reta justiça” e não “segundo a aparência” 0o
7.24). Esse julgamento deve ser feito criteriosamente, “diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, e dos anjos eleitos, [...] nada fazendo por parcialidade” (1 Tm 5.21).

3) A restauração de presbíteros

“A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios; conserva-te a ti mesmo puro” (1 Tm 5.22). De um lado, há quem entenda que a “imposição de mãos” refere-se à consagração dos presbíteros. No entanto, o texto em análise não se refere a consagrações, e, sim, à disciplina dos presbíteros. O versículo 22 indica que a exortação de Paulo diz respeito à restauração dos presbíteros pecantes, diante dos quais não deve haver precipitação em restaurá-los no ministério. A expressão “nem participes dos pecados alheios” parece indicar isso. A restauração de obreiros deve ser vista como medida de alto significado cristão. O amor e a misericórdia são características fundamentais da igreja cristã. Muitas vezes, pelo cometimento de uma única falta, um obreiro é defenestrado para sempre do ministério, sem qualquer chance de ser recuperado. Dependendo de seu erro, a restauração pode ser considerada, mesmo que não seja para a direção de uma igreja, mas para o exercício de outras funções ministeriais.
De qualquer maneira, o ministério deve ter cuidado. Primeiro, para não consagrar pessoas despreparadas para o presbitério. Em segundo lugar, a igreja local precisa ter muito cuidado na disciplina ou na restauração de obreiros pecantes. Eles precisam, antes de tudo, dar provas de seu arrependimento sincero, com frutos que indiquem mudança de atitudes em sua vida. Ambas as aplicações ao texto são plausíveis.

4) Parêntese sobre a saúde

“Não bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades” (1 Tm 5.23). Um pastor amoroso preocupa-se com o bem-estar de seus liderados. Paulo sabia que Timóteo era um jovem obreiro que sofria de algumas enfermidades gástricas. E fez recomendação informal sobre uma terapia alternativa para aliviar seus problemas estomacais. O apóstolo aconselha Timóteo a tomar “um pouco de vinho”, por causa de suas enfermidades gástricas. Esse texto não deve ser usado para justificar a ingestão de bebidas alcoólicas. De acordo com a Bíblia de Estudo Pentecostal, “se Timóteo tivesse o costume de beber vinho, não teria sido necessário Paulo aconselhá-lo a tomar um pouco de vinho com propósitos medicinais (ver 3.3 nota)”.1 De acordo com essa explicação, provavelmente, Timóteo teria distúrbios gástricos, devido ao álcalis na água. A alcalinidade da água poderia ser amenizada com o uso de um pouco de vinho. No Nordeste do Brasil, essa mistura é chamada de “sangria”, feita com vinho, misturado com água, o que anula seu teor alcoólico.
Ainda de acordo com a Bíblia de Estudo Pentecostal: “O vinho usado para o estômago, de acordo com antigos escritos gregos sobre medicina, costumava ser do tipo não embriagante”. Se alguém tinha enfermidade estomacal, o escritor Ateneu declarava: “Que tome vinho doce, ou misturado com água, ou aquecido, especialmente do tipo chamado protropos (o suco de uvas antes de espremê-las), por ser bom para o estômago, porque o vinho doce (oinos) não deixa a cabeça pesada”.2 Uma fonte interessante sobre esse “medicamento” caseiro é o Comentário Judaico do Novo Testamento, que diz: “A água era muitas vezes impura, transmitindo doenças; já com o vinho, a possibilidade de acontecer isso era menor. O próprio vinho era em geral diluído em três a seis partes de água”.3
O estado de saúde de Timóteo contraria algumas heresias modernas, segundo as quais um crente fiel não pode ter doenças, pois Cristo já as levou sobre a cruz. “Eles ensinam que “todo cristão deve esperar viver uma vida plena, isenta de doenças” e viver de 70 a 80 anos, sem dor ou sofrimento. Quem ficar doente é porque não reivindica seus direitos ou não tem fé. E não há exceções. Pregam que Isaías 53.4,5 é algo absoluto. Fomos sarados e não existe mais doença para o crente. E, se o crente não for curado pela oração da fé, é por dois motivos: está em pecado, ou não tem fé!” Esse ensino tem levado muitos crentes incautos ao desespero, quando veem pessoas da família falecerem depois de orações em que é determinada a cura e o doente não resiste a enfermidade e morre.

Quanto à expiação e a cura, devemos ressaltar o seguinte:
No entanto, a salvação envolve, imediatamente, o espírito e a alma. Quanto ao corpo, não há um efeito imediato, pleno, quanto à libertação dos males decorrentes do pecado. Isso porque, enquanto o espírito e a alma (o homem interior - cf. 2 Co 4.16) são salvos no momento da confissão a Cristo, o corpo ainda aguarda a redenção plena, conforme diz a Bíblia, sobre o gemido da criação: “E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.23 - grifo do autor).
A Bíblia diz: “No mundo, tereis aflições” (Jo 16.33). O apóstolo Paulo viveu doente (ver 1 Co 4.11; G14.13), passou fome, sede, nudez, agressões, etc. Seus companheiros adoeceram (Fp 2.30). Timóteo tinha uma doença crônica (1 Tm 5.23). Trófimo ficou doente (2 Tm 4.20). Essas pessoas não tinham fé? Estavam em pecado?4
De forma alguma. O que acontece ao ímpio, em termos físicos, humanos ou terrenos, pode acontecer ao justo. Mas graças a Deus que, ao final, na eternidade, diante de Deus, há diferença entre o salvo e o perdido (Ml 3.17,18).

II - AOS EMPREGADOS E PATRÕES

1. Os Deveres dos Servos

No Império Romano, havia poucas classes sociais. A maioria dos que se tornavam cristãos pertencia às classes mais humildes, geralmente dos plebeus, dos servos, dos escravos ou dos gentios. Mas alguns convertidos eram oriundos de classes nobres, e tinham servos a seu serviço. Como também havia servos cristãos, sob as ordens de senhores crentes ou não. Como era bem informado da situação social das comunidades cristãs, nas igrejas sob seu pastoreio, Paulo não deixou de lado a questão do relacionamento entre servos e patrões. Para os que tinham senhores não crentes, ele ensinou que “Todos os servos que estão debaixo do jugo estimem a seus senhores por dignos de toda a honra, para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados” (1 Tm 6.1).

2. Servos de Senhores Não Crentes

Paulo era bastante cuidadoso quanto ao tratamento humano na igreja local. Escrevendo aos colossenses, ele disse: “Vós, servos, obedecei em tudo a vosso senhor segundo a carne, não servindo só na aparência, como para agradar aos homens, mas em simplicidade de coração, temendo a Deus” (Cl 3.22). Nesse texto, ele exorta de modo geral aos servos cristãos para que obedeçam a seu “senhor segundo a carne”, sem fazer distinção da sua condição espiritual (crentes ou não). Notemos que a orientação do apóstolo é a de que os servos (ou escravos, à época) crentes se comportem, no trabalho, de forma consciente, “não servindo só na aparência, como para agradar a homens”, mas pelo fato de serem tementes a Deus. Orientação que é corroborada por Paulo, definindo um verdadeiro “princípio de ética cristã”, para a igreja de Colossos: “E, tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor e não aos homens” (Cl 3.23).

3. Servos de Senhores Crentes

Da mesma forma, Paulo indica o comportamento dos servos cristãos, em relação aos seus patrões crentes: “E os que têm senhores crentes não os desprezem, por serem irmãos; antes, os sirvam melhor, porque eles, que participam do benefício, são crentes e amados. Isto ensina e exorta” (1 Tm 6.2). Se em relação aos senhores não crentes os servos cristãos deveriam ter um comportamento adequado à sua fé, em relação aos que tinham senhores crentes, deveriam servir com muito mais dedicação e zelo, pelo fato de serem “crentes e amados”. Esse ensino deve ser observado por todos os cristãos, em todas as igrejas. Devem respeitar e honrar todas as pessoas, mesmo as descrentes. Porém, têm o dever de dar prioridade e consideração aos que são irmãos em Cristo, sejam senhores, sejam servos ou empregados.
O texto em apreço trata do comportamento dos servos ou empregados cristãos perante seus patrões. Mas cremos ser oportuno lembrar que os senhores ou patrões crentes em Jesus devem ter comportamento ético compatível com a ética cristã.

III - CONSELHOS GERAIS

1. Aos que Não Respeitam a Sã Doutrina

A sã doutrina é o conjunto de ensinos proferidos por Nosso Senhor Jesus Cristo em sua fonte primária, que são os Evangelhos. Ainda que haja as chamadas “variantes textuais”, em que um escritor inseriu alguma expressão que não consta dos originais, os Evangelhos merecem credibilidade por se tratarem de relatos e escritos, considerados com consistência e autenticidade como inspirados pelo Espírito Santo. Em primeira mão, é deles que podemos extrair a “sã doutrina”. Ao lado dos Evangelhos, há também os ensinos dos apóstolos de Jesus, em suas epístolas, as quais também merecem crédito, “porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2 Pe 1.21).
Porém, como acontecia na igreja em Éfeso, sempre houve algum ensinador, “mestre” ou “doutor”, que resolveu ministrar ensinos “diferentes”, “inovações doutrinárias”, muitas vezes “espetaculares”, que, em vez de edificar, causam confusão no meio dos crentes.
Paulo considera tais ensinadores de falsas doutrinas como soberbos, presunçosos, que acham que são mais entendidos que os demais obreiros, promotores de contendas. Invejosos, que difundem blasfêmias, corruptos, que acham que “a piedade seja causa de ganho”.

2. Aos que Desejam Riquezas Materiais

Após mostrar que os que não obedecem à Palavra de Deus são soberbos, invejosos, causadores de dissensões e oportunistas, que querem que “a piedade seja causa de ganho”, Paulo acrescenta ensinamento importante sobre a vida cristã ou “a piedade”. “Mas é grande ganho a piedade com contentamento. Porque nada trouxemos para este mundo e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes” (1 Tm 6.6-8). De fato, a vida cristã só tem sentido se o crente viver com contentamento, alegre e feliz, na presença do Senhor. Paulo lembra que “nada trouxemos para este mundo” e “nada podemos levar dele”. E a mesma visão que Jó teve séculos antes, quando, em meio à sua tribulação terrível, exclamou: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1.21).
A carta de Paulo a Timóteo dedica espaço bem significativo aos que buscam riquezas, com advertências que devem ser consideradas por todos os que querem viver segundo os princípios cristãos:
 “Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1 Tm 6.9,10).
Quando a riqueza do crente é fruto de trabalho honesto, digno, que glorifica a Deus, certamente é uma riqueza que é fruto da bênção do Senhor. Mas Paulo se refere aos “que querem ser ricos”, ou que vivem buscando bens materiais, acima dos bens espirituais, que não dão valor às coisas de Deus. São como o rico da parábola, de quem Jesus disse: “Assim é aquele que para si ajunta tesouros e não é rico para com Deus” (Lc 12.21).
Nesse texto, o apóstolo enfatiza que “o amor do dinheiro”, ou melhor, “o amor ao dinheiro” é “a raiz de toda espécie de males”. À primeira vista, parece um exagero. Mas o amor ao dinheiro, ou a avareza, tem contribuído para muitas misérias morais e sociais. E pelo amor ao dinheiro que os inescrupulosos agem de má fé, prejudicando a tantas pessoas.
Os pastores, que usam o púlpito, ou a mídia, para praticarem “propaganda enganosa”, “vendendo” milagres e curas, são corruptos, e o fazem por amor ao dinheiro.
Mas vale salientar que Deus jamais divinizou a pobreza, nem jamais demonizou a riqueza. Mas a Palavra de Deus encara a busca pelas riquezas como fator de empecilho ao melhor relacionamento com Ele. Jesus foi realista quando disse: “E outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no Reino de Deus” (Mt 19.24).
O Mestre não disse que é impossível um rico ser salvo. De forma alguma. Mas acentuou que é difícil. Não por causa da riqueza em si, mas pela atitude mental que a maioria dos ricos tem em relação à vida espiritual. A riqueza faz muitos se sentirem autossuficientes, orgulhosos, arrogantes e confiantes no poder econômico e financeiro. Os bens materiais propiciam mais oportunidades para uma vida desregrada. Haja vista o desperdício de dinheiro na prostituição, no adultério, nos jogos, nos vícios e em tantos prazeres humanos e passageiros da vida.

3. Conselhos aos que São Ricos

1. A esperança vã nas riquezas

O ensino de Paulo é prescritivo em relação aos que já são ricos, alertando que as riquezas são incertas. “Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos” (1 Tm 6.17).

2. A prática do bem
No mesmo trecho de sua carta, Paulo acrescenta outros conselhos sábios em relação ao comportamento do crente que possui riquezas, mesmo concedidas por Deus. Ele diz que tais pessoas “façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis” (1 Tm 6.18). Fazer o bem é resultado do fruto do Espírito chamado de “benignidade”, a qualidade de quem faz o bem. As boas obras não salvam ninguém (Ef 2.8,9), mas são necessárias ao bom testemunho cristão; fazem parte da vida cristã; um salvo deve enriquecer “em boas obras”. E serem generosos para com os menos favorecidos. Isso fala de altruísmo, ou seja, a preocupação com os outros, em oposição ao egoísmo, que leva o homem a pensar primeiro em si próprio. A igreja que só prega o evangelho com palavras pode perder influência no meio em que se encontrar. O evangelho integral é aquele que proclama a palavra (Kerigma), mas pratica a diaconia, ou o serviço cristão em favor do próximo. A diaconia foi criada em função do atendimento aos problemas sociais na Igreja Primitiva (At 6).
3. 0 bom tesouro do crente
“[...] que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna” (1 Tm 6.19). Entesourar “bom fundamento” significa a prática de bom testemunho e ações de caráter cristão, que são base para um futuro sólido, fundamentado nos princípios cristãos. O crente sábio não entesoura para esta vida, mas para a futura (Mt 6.19-21). Se alguém põe o seu coração nos recursos materiais, seu tesouro está nisso. Em coisas vulneráveis, sujeitas às instabilidades dos bens materiais. Mas, se põe seu coração nas coisas que são de cima” (Cl 3.1,2), tem uma riqueza espiritual, eterna.

CONCLUSÃO


Neste capítulo, vimos como Paulo era cuidadoso em sua missão pastoral. Ele se preocupava com diversos assuntos, de interesse da igreja, de sua liderança e de seus membros. Deu especial importância à manutenção dos obreiros, discorreu sobre a questão da disciplina dos líderes, especialmente dos presbíteros que vierem a falhar. De forma bem clara, doutrinou sobre o relacionamento humano, na igreja local, entre servos e senhores. É uma das marcas relevantes da teologia paulina o cuidado com as relações humanas entre cristãos e não cristãos. E conclui o texto, dando orientações sobre o trato com os bens ou recursos materiais. São conselhos tão sábios que devem ser observados mesmo nos dias presentes, quando esperamos a volta de Jesus.

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