quarta-feira, 1 de março de 2017

A prova suprema


— Amas-me?
A pergunta era surpreendente. O pequeno grupo, assenta­do ao redor do fogo, na praia do mar da Galiléia, olhou depressa para quem falava. Ele fitava os olhos em um só, esperando a resposta. Era bem cedo de manhã e a luz vinda do oriente despertava as trevas da noite. Além do barulho das ondas da praia, ouvia-se somente o grito ocasional de alguma ave do mar, que quebrava o silêncio da manhã.
Durante toda aquela comprida noite os homens lançaram as suas redes sem resultado algum. Ao amanhecer o novo dia apareceu na praia uma figura misteriosa. O desânimo e a fadiga deram lugar ao medo. Esforçando os olhos, penetra­ram a cerração da manhã e, finalmente, reconheceram o que no princípio parecia um fantasma.
— É o Senhor!
No mesmo instante, Pedro — com o seu grande coração cheio de remorsos e de uma devoção quase sobrenatural — jogou-se na água, e com os esforços de seus grandes braços logo chegou à praia. Os outros seguiram-no. A rede foi recolhida. As brasas ardiam, e os peixes assavam. Nenhuma palavra foi dita até que o próprio Mestre fez um simples convite: "Vinde e comei".
Sentaram-se e alimentaram-se. Todos guardavam silên­cio. Temor e reverência faziam com que ficassem calados. E, finalmente, Jesus quebrou o silêncio com as palavras de nosso texto:
AMAS-ME?
É a Pedro que ele se dirige, o grande e impulsivo Pedro; o discípulo que tão recentemente o negara, que "saiu e chorou amargamente". Agora vai ser posto à prova. Precisa fazer uma confissão tríplice da sua devoção por causa da tríplice negação. Seria provado pela mais alta norma, "a suprema prova".
— Simão, filho de Jonas, amas-me?
Ele está procurando o amor mais sublime e não somente o amor emocional. Mas Pedro não mais confia em si mesmo. Falhou uma vez; poderia falhar de novo. Portanto, com medo de fazer a confissão mais nobre, Simão usou uma palavra que significava o mero amor emocional ou simpatia pessoal:
— Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo. (Em grego a
palavra não é a mesma que Jesus usou.)
Outra vez é feita a mesma pergunta. A resposta também é a mesma. Então o Mestre aceita as palavras de Pedro, compreendendo que Pedro não estava disposto a confessar o amor que ele desejava, e pela terceira vez pergunta:
— Simão, filho de Jonas, tu me amas?
Pedro, o grande e nobre Pedro, com o seu coração que­brantado por grande tristeza, por ver que o Senhor duvidava dele, replicou, com o coração pulsando e os lábios tremendo:
— Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo.
Temos chamado esta pergunta de "PROVA SUPREMA". Mas considerando todos os fatos, será que foi a prova mais alta de devoção e lealdade, a mais importante confissão que os lábios humanos podem proferir? Não haverá uma maior ainda? Será que Jesus errou? A vida de Pedro não parece indicar nenhum erro nisso. Jesus não parece pensar assim. De fato, ele estava disposto a basear tudo nesta simples pergunta. Sabia o que estava fazendo, sabia que estava fazendo a pergunta mais importante de todas as línguas.
Hoje em dia, depois de transcorridos dezenove séculos, podemos ainda considerar esta pergunta a "PROVA SUPRE­MA" de nossa vida espiritual.
Há três coisas na frase 'Tu me amas?”que provam que ela é a "prova suprema":

1) A Prova Suprema do Discípulo

Dia após dia, através dos séculos, Jesus Cristo tem chamado homens e mulheres ao seu encontro, não pela força, nem pelo medo, mas pelo amor. Satanás estaria bem contente por ver Jesus possuir os reinos do mundo, contanto que estivesse sujeito a ele. Mas Jesus sabia que não era a vontade do Pai forçar os homens a obedecê-Lo.
Não! Ele atrai, não obriga; dirige, não constrange; os homens devem escolhê-lo voluntariamente; devem ser ga­nhos pelo amor. Esta união seria mais íntima, mais forte, a mais durável do que uma obediência forçada poderia ser.
O amor o trouxera ao mundo; o amor levou-o a morrer pela raça humana perdida e o amor atrairia os homens e as mulheres a ele. Qualquer voto de fidelidade poderia ser mais simples do que a prova que ele escolheu — "Tu me amas?"

2) A Prova Suprema da Conduta

Não é mais necessário fazer a velha pergunta acerca de nossa atitude para com as coisas mundanas: "É pecado fazer isto?" ou "Pode o crente fazer isto?" Simplesmente aplicamos a "prova suprema" a todas as nossas ações.
A questão não é se é certo ou errado participar de diversões duvidosas. O homem que se torna cheio do Espírito de Deus e saturado com o amor de Cristo, deseja viver e agradar ao que ganhou as afeições do seu coração. Dessa forma, não há lugar para o pecado, não há lugar para o mundo, e ele não tem desejo algum por estas coisas em que as pessoas não salvas se deleitam. Será que o homem prejudicará as pessoas que verdadeiramente ama? Certamente não. Portanto, a "prova suprema" de tudo é o amor.

3) A Prova Suprema do Serviço

O incentivo do serviço verdadeiro é o "amor" e não a "obrigação". O seguidor do Senhor Jesus Cristo serve a seu Mestre porque o ama, e não por obrigação.
Que foi que levou David Brainerd aos índios selvagens do grande deserto? Que foi que o levou a deixar sua casa aos vinte e quatro anos de idade e habitar sozinho no coração dos grandes bosques do interior. O que foi que o fez prosseguir mês após mês — mesmo depois de ser vítima da tuberculose, estar fraco e doente como resultado da falta de alimentação, das longas viagens a cavalo e das muitas noites passadas na matas suportando chuvas torrenciais — à procura dos índios para lhes dizer que Deus os amava de tal maneira que deu o seu Filho, seu único Filho, para morrer por eles? O que, pergunto? Obrigação? Longe de nós tal pensamento! Ne­nhum homem se sente obrigado a tal vida. Não! Era "amor". David Brainerd amava ao Senhor e manifestou o seu amor.
Assim também fizeram Judson, Livingstone, Morrison, Taylor, Carey, e todos os grandes missionários do passado. Sim, meu irmão, e assim será com você, se verdadeiramente o ama. Você provará isso por serviço prestado voluntaria­mente com alegria. Até dará a sua vida se necessário for. Você o ama?

Se Jesus Cristo aparecesse em nosso meio neste momen­to, e pessoalmente nos apresentasse a pergunta 'Tu me amas?”a cada um de nós, qual seria a nossa resposta? Como responderíamos a ele? Como seríamos analisados! Será que procuraríamos escapar às suas perguntas? Ou será que verdadeiramente amamos a Jesus Cristo? "Nós o amamos", declarou João. Você o ama? Eu o amo?

Nenhum comentário:

Postar um comentário