NÚMEROS Capítulos 22—25
1. Quem
é Balaão? Balaão era de Petor, na Mesopotâmia, perto do rio Eufrates
(22:5). Seus poderes sobrenaturais eram altamente estimados pelos moabitas e
pelos midianitas (22:6). E um dos mais misteriosos e estranhos personagens da
Bíblia. Era profeta de Deus
ou meramente um adivinho em cuja boca o
Senhor colocou suas palavras? Tinha certa comunhão com Deus (22:8-12), sabia
algo da justiça divina (Miquéias 6:5), e algo sobre a vida além-túmulo (23:10),
ouvia os ditos de Deus, via "a visão do Todo-poderoso" (24:4), e não
falaria o que Deus não lhe dissesse (22:18). Por outro lado, parece que às
vezes buscava agouros ou sinais a respeito do futuro (24:1). Daí se infere que
tinha dom de profecia, mas seu conhecimento de Deus estava obscurecido, em
certa medida, pelos conceitos pagãos.
2. Balaão vacila: Capítulo 22. Balaque temia os israelitas e de acordo
com os midianitas enviou a Balaão a mensagem de que viesse a fim de amaldiçoar
a Israel. Assim sucede muitas vezes que o adversário procura encontrar um
crente com o intuito de usá-lo contra o avanço do povo de Deus. No princípio
Balaão se nega a ir com a delegação de Balaque porque Deus lhe havia proibido
amaldiçoar a Israel, pois era o povo bendito. Mas ao ver a segunda delegação
composta de personagens importantes, de novo perguntou a Deus, pois desejava
amaldiçoar a Israel para receber o pagamento de Balaque. Desta vez Deus lhe deu
permissão para acompanhar os mensageiros do rei, mas sob a condição de que
faria o que o Senhor lhe ordenasse.
Surgem algumas perguntas quanto ao
incidente em que o anjo do Senhor estorvava a viagem do profeta. Mudou Deus de
idéia ao permitir que Balaão acompanhasse a segunda delegação moabita quando o
havia advertido de que não fosse com a primeira? Depois, arrependeu-se Deus de
haver-lhe dado permissão e por isso enviou o anjo para detê-lo? A resposta encontra-se
em 23:19. Parece que não era a vontade diretiva de Deus que Balaão fosse com
eles, mas tão-só a sua vontade permissiva. Provavelmente permitiu que Balaão
acompanhasse os moabitas para demonstrar a Balaque o caráter singular de Israel
e o poder divino para frustrar toda adivinhação contra o povo de Deus. Balaão
foi repreendido porque interpretou a permissão divina de ir com os príncipes
como se fosse permissão de amaldiçoar a Israel. Ele foi motivado pelo dinheiro
de Balaque.
Em segundo lugar, como é possível que a
jumenta de Balaão falasse? O animal não é capaz de falar nem de raciocinar. É
evidente que foi um milagre de Deus. Se Satanás podia falar por meio da
serpente no Éden, acaso Deus não pode falar por uma jumenta? Em todo o
incidente, Deus ensina a Balaão que só lhe é permitido falar o que ele próprio
transmite.
3.
As profecias de Balaão: Capítulos
23 e 24. Balaão profetizou quatro vezes prognosticando a prosperidade futura de
Israel e a destruição de seus inimigos. As profecias de Balaão são as
seguintes:
a) Israel não era apenas uma nação entre
outras muitas nações, mas "um povo que habita à parte" (Bíblia de
Jerusalém). Gozaria da
grande bênção de ter uma descendência
numerosa (23:7-10).
b)
Deus é imutável e não muda de idéia como o fazem os homens, portanto
abençoaria a Israel dando-lhe força irresistível para derrotar seus inimigos.
Deus não via o mal em Israel, pois via os israelitas através do pacto, e as
maldições e adivinhações não surtiriam efeito contra o seu povo (23:18-24).
Os crentes podem lançar mão das promessas
de Números 23:21 e 23. Deus vê seu povo não tal como é, mas através da justiça
provida por seu Filho. Com os justos as maldições dos espíritas e adivinhos não
têm poder.
c)
Israel se estenderia amplamente e obteria domínio irresistível sobre as
nações inimigas (24:3-9).
d)
Levantar-se-ia em futuro longínquo um rei brilhante em Israel que
conquistaria Moabe e Edom. Amaleque seria arruinado eternamente e inclusive a
Síria pereceria (24:15-24).
A quem se refere a "estrela que
procederá de Jacó" e o "cetro que subirá de Israel"? Muitos
estudiosos da Bíblia crêem que o rei Davi cumpriu esta profecia pois ele
conquistou Moabe e Edom (II Samuel 8:2, 14). Outros estudiosos julgam que a
profecia se refere primeiro a Davi e depois ao Messias, Jesus Cristo. Neste
contexto a "estrela" significa um governador brilhante. Comenta uma
nota da Bíblia de Jerusalém: "A estrela é, no antigo Oriente, sinal de um
Deus e, por conseqüência, de um rei divinizado." Através dos séculos a
igreja cristã tem interpretado a profecia como messiânica.
4.
O ensino de Balaão: Capítulo
25. Ao fracassar em seu intento de prejudicar a Israel mediante a maldição,
Balaão recorreu a outro estratagema. Aconselhou Balaque a induzir os israelitas
a participar das festas religiosas dos midianitas e a cometer fornicação com
eles (Apocalipse 2:14). Sabia que Deus julgaria essa falta de santidade e assim
Balaão conseguiria seu propósito perverso. A ação enérgica de Finéias deteve a
mortandade resultante e conseguiu para ele e seus descendentes a promessa do
sumo sacerdócio.
5.
Lições práticas:
a) Balaão representa o crente que cumpre
a letra da lei mas viola seu espírito. Não falaria o que Deus não lhe dissesse,
mas queria fazer o mal. Quis que Deus mudasse de idéia e lhe permitisse fazer
sua própria vontade. Então, não podendo amaldiçoar ao povo de Deus por palavra,
procurou prejudicá-lo ensinando os midianitas a colocar tropeços diante deles.
b) Balaão é uma amostra do profeta
mercenário que deseja negociar com seu dom: "Amou o prêmio da
injustiça" (II Pedro 2:15).
c)
Balaão, em seu trato com os midianitas, exemplifica a má influência dos
mestres insinceros que procuram fazer avançar a causa
da igreja aconselhando-a a fazer aliança
com o mundo e os mundanos (31:16; Apocalipse 2:14).
d)
O relato de Balaão ilustra quão vazio é em uma pessoa o conhecimento de
Deus se não estiver acompanhado do sincero desejo de obedecer-lhe. Balaão
desejava morrer a morte dos retos, mas não queria viver uma vida reta. Em
conseqüência, morreu nas mãos dos israelitas na guerra contra Midiã (31:8).
e)
Ensina-nos que nada pode prevalecer contra os propósitos de Deus nem
contra seu povo. Além disso, Deus faz que a ira do homem0
louve (Salmo 76:10).
Rerison Brazão: