Sabedoria de serpente
Na minha
infância, na década de 50, o diretor da escola começava o dia com uma oração
lida no intercomunicador. Na escola jurávamos fidelidade a uma nação "à
sombra de Deus". Na Escola Dominical jurávamos fidelidade às duas
bandeiras: a americana e a crista. Jamais me ocorreu que a América pudesse um
dia apresentar aos cristãos um novo desafio-, como "agraciar" uma
sociedade cada vez mais hostil a eles.
Até a recente história americana — a versão oficial pelo
menos — os dois parceiros, igreja e Estado, dançavam a mesma valsa. A religião
é tão penetrante que os Estados Unidos já foram descritos como uma nação com a
alma de uma igreja. The Mayflower Compact [O pacto do Mayflower]
especificava que o alvo dos peregrinos era "assegurado para1 a
glória de Deus e avanço da fé cristã e honra de nosso Rei e pátria".
Nossos fundadores pensavam que a fé religiosa era essencial para uma democracia
funcionar. Nas palavras de John Adams, "nossa constituição2 foi
feita apenas para um povo moral e religioso. Ela é totalmente inadequada para o
governo de qualquer outro povo".
Na maior parte de nossa história, até a Suprema Corte fazia
eco ao consenso cristão. Em 1931, a corte declarava: "Somos um povo
cristão,3 garantindo reciprocamente uns aos outros direito igual de
liberdade religiosa e reconhecendo com reverência o dever de obedecer à vontade
de Deus". Em 1954, Earl Warren, um presidente do Supremo Tribunal famoso
entre os conservadores, disse em um discurso: "Creio4 que
ninguém pode ler a história do nosso país sem perceber que a Bíblia e o
espírito do Salvador têm sido, desde o início, nossos mentores". As
constituições das colônias originais, ele acrescentou, apontavam todas para o
mesmo objetivo: "uma terra governada por princípios cristãos".
- Nós vivemos entre lembretes diários de nossa herança
cristã. Os próprios nomes das agências do governo — o serviço civil e o ministério
da justiça — apresentam implicações religiosas. Os americanos reagem
rapidamente a desastres, protegem os direitos dos incapacitados, param para
ajudar motoristas encalhados, doam bilhões de dólares para caridade — estes e
muitos outros "hábitos do coração" refletem uma cultura nacional que
cresceu a partir de raízes cristãs. Apenas alguém que viaja para o estrangeiro
pode apreciar o fato de que nem todas as culturas incluem tais nuanças da
graça.
Sob
a superfície, naturalmente, a história conta uma história diferente. Os
americanos nativos quase foram exterminados neste país "cristão".
Mulheres tiveram negados seus direitos básicos. "Bons cristãos" no
Sul espancavam seus escravos sem uma pontinha de remorso. Tendo sido criado no
Sul, sei que os afro-americanos como um grupo não olham para trás com nostalgia
para os "piedosos" dias de nossa história primitiva. "Eu teria
sido um escravo naquele tempo", John Perkins nos relembra. Para essas
minorias, a mensagem da graça se perdeu.
Atualmente, poucas pessoas confundem a igreja e o Estado nos
Estados Unidos. E a mudança aconteceu com uma rapidez de deixar sem fôlego
qualquer um que nasceu nos últimos trinta anos, ficando a imaginar de que
consenso cristão estou falando. É incrível que as palavras "à sombra de
Deus" foram acrescentadas ao Juramento de Fidelidade apenas em 1954, e a
frase "Em Deus nós confiamos" veio a ser o lema oficial da nação em
1956. Desde então, a Suprema Corte baniu as orações nas escolas e alguns
professores tentaram proibir seus alunos de escrever a respeito de alguns temas
religiosos. O cinema e a televisão raramente mencionam os cristãos, exceto para
depreciá-los, e os tribunais rotineiramente arrancam símbolos religiosos dos
lugares públicos.
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