domingo, 29 de janeiro de 2017

SABEDORIA DE SERPENTE ( A guerra cultural está a caminho )



Grande parte da violência aos direitos religiosos brota da rapidez desta deriva cultural. Harold O. J. Brown, um dos primeiros ativistas evangélicos contra o aborto, diz que ele e outros enfrentaram a decisão no caso Roe x Wade como um grito para despertar no meio da noite. Os cristãos consideravam a Suprema Corte como um grupo de sábios muito digno de confiança que tiraram suas conclusões do consenso moral do restante do país. Subitamente, a bomba caiu, uma decisão que dividiu o país ao longo das linhas de frente.
Outras decisões do tribunal — estabelecendo o "direito de morrer", redefinindo o casamento, protegendo a pornografia — fizeram os cristãos conservadores cambalearem. Agora os cristãos estão muito mais propensos a considerar o Estado como antagonista da igreja, não seu amigo. James Dobson5 capta o tom quando diz: "Nada menos do que uma grande guerra civil de valores alastra-se hoje por toda a América do Norte. Dois lados imensamente diferentes e pontos de vista incompatíveis estão presos em um amargo conflito que permeia cada nível da sociedade".
A guerra cultural está a caminho. Ironicamente, cada ano a igreja nos Estados Unidos se aproxima mais e mais da situação enfrentada pela igreja do Novo Testamento: uma minoria ameaçada vivendo em uma sociedade pluralista, paga. Os cristãos em lugares como o Sri Lanka, Tibete, Sudão e Arábia Saudita enfrentam a hostilidade franca do governo há anos. Mas, nos Estados Unidos, com uma história tão compatível com a fé, não gostamos disso.
Como podem os cristãos dispensar graça em uma sociedade que parece estar se desviando de Deus? A Bíblia oferece muitos modelos diferentes de respostas. Elias escondeu-se em cavernas e desencadeou raios sobre o regime pagâo de Acabe; seu contemporâneo Obadias cooperou com o sistema, dirigindo o palácio de Acabe enquanto abrigava os verdadeiros profetas de Deus ao lado. Ester e Daniel foram usados por impérios pagaos; Jonas invocou o juízo sobre outro império. Jesus submeteu-se ao julgamento de um governador romano; Paulo pediu que o seu caso fosse conduzido ao imperador.
Para complicar ainda mais as coisas, a Bíblia nao dá conselho direto aos cidadãos de uma democracia. Paulo e Pedro insistiam com seus leitores que se submetessem às autoridades e honrassem o rei, mas, em uma democracia, nós, cidadãos, somos o "rei". Dificilmente podemos ignorar o governo quando, por direito constitucional, formamos o governo. E se os cristãos formam uma maioria, por que não se proclamar uma "maioria moral" e formar a cultura à nossa semelhança?
Quando uma forma de consenso cristão dominava nos Estados Unidos, essas questões eram menos urgentes. Agora todos nós que amamos nossa fé e também a nossa nação temos de decidir como melhor expressar esse cuidado. Eu ofereço três conclusões preliminares que deveriam ser aplicadas, haja o que houver, no futuro.
Primeiro, deve ter ficado claro que creio que dispensar a graça de Deus é a principal contribuição cristã. Como disse Gordon MacDonald, o mundo pode fazer qualquer coisa que a igreja pode, exceto uma: o mundo não pode demonstrar graça. Em minha opinião, os cristãos não estão fazendo um bom trabalho de dispensação da graça ao mundo, e nós tropeçamos especialmente neste campo da fé e da política.
Jesus não permitiu que nenhuma instituição interferisse no seu amor pelos indivíduos. A política racial e religiosa dos judeus proibia que Ele falasse com uma mulher samaritana, ainda mais com uma que tivesse antecedentes morais duvidosos. Jesus, no entanto, escolheu uma mulher samaritana para ser missionária. Entre os seus discípulos havia um cobrador de impostos, considerado um traidor em Israel, e também um zelote, membro de um partido ultrapatriota. O Senhor Jesus elogiou João Batista, que era contracultural. Encontrou-se com Nicodemos, um fariseu observador, e também com um centurião romano. Jantou na casa de outro fariseu chamado Simão e também na casa de um homem "impuro", Simão, o leproso. Para Jesus, a pessoa era mais importante do que qualquer categoria ou rótulo.
Sei como é fácil ser arrebatado pela política da polarização, gritar nas passeatas para o "inimigo" do outro lado. Mas Jesus ordenou: "Amai a vossos inimigos".6 Para Will Campbell, eles eram os Kluxers racistas que mataram seu amigo. Para Martin Luther King Jr., eram os delegados brancos que atiçavam seus cães sobre ele.

Quem é meu inimigo? Os favoráveis ao aborto? O produtor de Hollywood que polui nossa cultura? O político ameaçando meus princípios morais? O traficante que domina o centro de minha cidade? Se o meu ativismo, ainda que bem motivado, expulsa o amor, então eu entendi mal o evangelho de Jesus. Estou apaixonado pela lei, e não pelo evangelho da graça.
Philip Yancey

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