O Amor do Senhor (Cap. 1)
Malaquias proferiu sua
mensagem aos seus contemporâneos no estilo tradicional dos grandes profetas do
passado. Era profecia contra Israel! (1.1). Israel, apesar de tanto
sofrer no exílio, não aprendera a lição espiritual. A desobediência a Deus
acarreta infalivelmente o sofrimento e o juízo divino. Mesmo assim, Malaquias
reafirmou logo de início que Deus ama o seu povo. "Eu vos tenho
amado", diz o Senhor. Isto, sim, é uma boa nova em todos os séculos:
apesar dos pesares, Deus nos ama. Quão trágico é quando o povo eleito nutre
dúvidas quanto a esse amor infinito! "Em que nos tem amado?",
inquiriu Israel. Como se não bastasse Deus tê-lo libertado da escravidão da
Babilônia, Israel ficou insatisfeito, desejando uma prosperidade maior. Deus
devia dar muito mais! Assim raciocinava a terceira geração de crentes. Davam
mais valor às coisas materiais, negligenciando as espirituais.
A escolha de Deus se entende
nestes termos. Esaú, o primogênito, foi rejeitado, e Jacó aceito. Deus indaga:
"Não foi Esaú irmão de Jacó? Todavia, amei a Jacó" (1.2). Toda a
história subseqüente da descendência de Esaú se explica pelo sistema de valores
dele. No palco deste mundo, a vida humana interpreta os princípios fundamentais
da Bíblia, os quais a história das nações corrobora. Edom (1.4), terra dos
descendentes de Esaú, nunca poderia inverter as conseqüências dos princípios
estabelecidos pelo eterno Deus.
Israel achou muito certo o
julgamento de Edom, por ter se unido à Babilônia contra Israel, no tempo da
queda de Jerusalém. O povo achava certo que Deus julgasse Edom conforme os seus
estatutos inquebráveis, mas não se conformava com a idéia de que seria justo o
julgamento de Israel pelas mesmas leis. E sempre mais cômodo apelar para o
juízo divino contra "os pecadores": os corruptos, os tubarões, os
lascivos, mas nunca contra nós! O mesmo Deus que julgará o mundo, também
chamará a igreja ao tribunal de Cristo (Rm 14.12). São poucas as pregações
baseadas em 1 Coríntios 3.15! O povo de Deus não quer saber do julgamento do Senhor
para si, só para os outros. Todo verdadeiro profeta adverte o povo de Deus,
tanto como "os pecadores", que seremos todos julgados.
Em Israel, todo o mundo sabia
repetir de cor os dez mandamentos. O primeiro mandamento com promessa é o
quinto: "Honra a teu pai e a tua mãe". Através do seu servo Malaquias
Deus se queixou dos dirigentes do povo que se diziam ser "os filhos de
Deus". Se Deus era de fato o pai deles, como se explicava a triste verdade
que eles não lhe davam a honra que merecia? Os filhos de Deus não estavam dando
honra ao Pai do céu! (1.6). Fingindo inocência, lhe replicaram: "Em que
desprezamos nós o teu nome?" Neste diálogo com o Senhor, Deus apontou para
o tipo de animal que eles lhe ofereciam como sacrifício. Animais coxos e
enfermos eram trazidos, que eles nunca ousariam oferecer ao digníssimo
governador do estado de Israel. Vinham assim indignamente à mesa do Senhor
(1.7). No Novo Testamento, Paulo indica o mesmo perigo: "Examine-se pois o
homem a si mesmo e assim coma do pão e beba do cálice; pois quem come e bebe,
sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si (1 Co 11.28, 29). Em todas as
épocas existe o perigo de pecar contra o Senhor pela maneira como o cultuamos.
Não é verdade que em geral há muita irreverência, muita superficialidade e até
leviandade nos cultos mais solenes? A Igreja de hoje se assemelha ao povo de
Israel nisso, que em bom número de casos está disposta a adotar atitudes de
mais respeito e honra para com a presença de chefes políticos do que para a
celebração da santa ceia do nosso Senhor Jesus Cristo. Com franqueza
perturbadora, Deus declarou a Israel: "Eu não tenho prazer em vós"
(1.10).
A falta de reverência em
Israel levou o Senhor a afirmar que Seu nome é grande entre as nações (1.11).
Se Israel não satisfizer o coração do seu Deus, ele chamará os desprezados
pagãos, os gentios, para que o honrem. Mais uma vez, a promessa da entrada dos
gentios no plano da salvação é revelada. Os planos divinos não admitem a menor
possibilidade de fracasso. Se Israel falhar na sua missão, então Deus levantará
os gentios para cumprir a sua invencível vontade. E se uma igreja qualquer não
cumprir a vontade dele, ele suscitará outra para fazê-la.
é evidente que nos dias de Malaquias os
netos dos crentes que saíram da escravidão babilônica eram de outra laia. Os
avós ainda choravam de gratidão, lembrando os primeiros cultos maravilhosos, e
os grandes sacrifícios oferecidos em Jerusalém, reerguida dos escombros. Era
uma salvação tão grande! Mas, agora, os netos, acomodados, achavam os cultos
enfadonhos. Não agüentavam as pregações que os velhos apreciavam tanto.
Bocejavam no culto, anelando o fim, resmungando: "Que canseira!"
(1.13) Discordavam altaneiramente com muita coisa, e davam muxoxos de
desaprovação. "E me lançais muxoxos, diz o Senhor dos Exércitos". Nas
ofertas, o que se dava não representava o melhor. Dava-se um pouco, do que a
gente não sentia falta. Que contraste com o sacrifício desmedido dos avós, que
tudo deram para reconstruir o testemunho! E possível contribuir para a obra do
Senhor e ser enganador! Quando a cédula de Cr$ 500,00 é da mesma cor da de Cr$
5.000,00 é fácil ... E Deus diz: "Maldito seja o enganador" (1.14).
Ananias e Safira aprenderam esta verdade séculos depois de Malaquias. Pois Deus
é um grande Rei! É o Senhor dos exércitos. E seu nome é terrível.
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