terça-feira, 28 de agosto de 2018

Por que PERDOAR?



Participei  de uma discussão animada a respeito da questão do perdão na semana em que Jeffrey Dahmer morreu na cadeia. Dahmer, um assassino em grande escala, havia violentado e depois matado dezessete jovens, canibalizando-os e guardando partes dos corpos em sua geladeira. Sua prisão provocou um abalo no departamento de polícia de Milwaukee, quando se ficou sabendo que os policiais haviam ignorado os desesperados rogos de um adolescente vietnamita que tentou escapar fugindo, nu e sangrando, do apartamento de Dahmer. Esse garoto também veio a ser vítima de Dahmer, um dos onze corpos achados em seu apartamento.
Em novembro de 1994, Dahmer foi assassinado, espancado até a morte com um cabo de vassoura por um colega de cadeia. O noticiário da televisão naquele dia incluiu entrevistas com os entristecidos parentes das vítimas de Dahmer, muitos dos quais disseram que lastimavam o assassinato de Dahmer apenas porque dera fim à sua vida cedo demais. Ele tinha de sofrer, sendo forçado a viver mais tempo e pensar nas coisas horríveis que havia feito.
Uma rede de televisão apresentou um programa gravado algumas semanas antes da morte de Dahmer. O entrevistador perguntou-lhe como pudera fazer aquelas coisas pelas quais fora condenado. Dahmer disse que naquela ocasião não cria em Deus, e por isso não se sentia culpado de nada. Ele havia começado com pequenos crimes, experimentando pequenos atos de crueldade, e então continuou cada vez mais. Nada o restringia.
Dahmer, depois, contou de sua recente conversão religiosa. Ele fora batizado na cadeia e estava passando todo o seu tempo lendo material religioso que lhe fora dado por um pastor da cidade. A câmera passou para uma entrevista com o capelão da cadeia, que afirmava que Dahmer havia realmente se arrependido e era um dos seus mais fiéis discípulos.
A discussão em meu pequeno grupo tendia a se dividir entre aqueles que haviam apenas assistido aos telejornais a respeito da morte de Dahmer e aqueles que haviam também assistido à entrevista com Dahmer. O primeiro grupo via Dahmer como um monstro e repudiavam sem restrições quaisquer notícias a respeito de uma conversão na cadeia. As fisionomias angustiadas dos parentes impressionaram-nos profundamente. Uma pessoa comentou: "Crimes como esses não podem ser perdoados nunca. Ele não podia estar sendo sincero".
Aqueles que assistiram à entrevista com Dahmer não tinham tanta certeza. Eles concordavam que seus crimes foram hediondos além da imaginação. Mas ele parecia contrito, até mesmo humilde. A conversa retornou à questão: "Alguém pode ficar de fora do perdão?". Ninguém naquela tarde saiu sentindo-se inteiramente satisfeito com as respostas.
O escândalo do perdão confronta qualquer pessoa que concorde com um cessar-fogo moral apenas porque alguém diz "Sinto muito". Quando me sinto ofendido, posso imaginar uma centena de motivos contra o perdão. Ele precisa aprender uma lição. Não quero incentivar o comportamento irresponsável. Vou deixá-la em banho-maria por um tempo; vai-lhe fazer bem. Ela precisa aprender que suas atitudes têm conseqüências. Fui ofendidonão preciso dar o primeiro passo. Como posso perdoar se ele nem mesmo está arrependido?'Eu controlo meus argumentos até que aconteça alguma coisa que derrube a minha resistência. Quando, finalmente, amoleço a ponto de conceder o perdão, isso parece uma capitulação, um salto da lógica fria para um sentimento piegas.
Por que, afinal, dei um salto desses? Já mencionei um fator que me motiva como cristão: na qualidade de filho do Pai, recebo ordens de perdoar. Mas os cristãos não têm o monopólio do perdão. Por que alguns de nós, cristãos e não cristãos igualmente, escolhemos esta atitude nada natural? Posso identificar pelo menos três motivos pragmáticos, e quanto mais penso nesses motivos para o perdão, mais reconheço neles uma lógica que parece fundamental, e não apenas "difícil".
Primeiro, o perdão é a única alternativa que pode deter o ciclo da culpa e da dor, interrompendo a cadeia da ausência de graça. No Novo Testamento, a palavra grega mais comum utilizada para o perdão significa, literalmente, soltar, jogar para longe, libertar-se.    

                                                 Philip Yancey

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