Números é um dos livros mais humanos e mais tristes da Bíblia. Mostra
como os hebreus fracassaram em cumprir os ideais que Deus lhes havia proposto.
Chegaram aos limites da terra prometida mas tinham a personalidade de um
escravo covarde, dependente e incapaz de enfrentar a perspectiva da luta.
Perderam a pequena fé que haviam tido e quiseram voltar ao Egito. Daí começaram
suas peregrinações que duraram trinta e oito anos. Não obstante, Números relata
detalhadamente só a história do primeiro e a do último, pois nos anos
intermediários de apostasia nada aconteceu de valor religioso permanente. É uma
história trágica de falta de fé, de queixas, murmurações, deslealdade e
rebelião. Como conseqüência, quase toda a geração que havia Presenciado as
maravilhas do livramento do Egito pereceu no deserto sem entrar na
terra prometida. Somente três homens, Moisés, Josué e Calebe, sobreviveram até
ao fim do relato do livro. E somente dois dos três, Josué e Calebe, entraram em
Canaã.
Por outro lado, Deus levantou uma nova geração de
hebreus, lfistruídos nas leis divinas e preparados para a conquista
de Canaã.
1. As murmurações: Dentro em breve Israel desviou seu olhar de
Deus e começou a queixar-se no deserto. Sem dúvida os hebreus sofriam por causa
do sol abrasador, das privações e dos perigos, mas, era isso escusa para
ingratidão, irritação e espírito rebelde? Quão depressa se esqueceram da dura
escravidão do Egito e do milagroso livramento operado por Deus! Encontra-se em
parte a causa do descontentamento, lendo-se 11:4: "E o vulgo" (a Bíblia
de Jerusalém o traduz "a turba") seriam os asiáticos sujeitos à
servidão como os hebreus. Aproveitaram a ocasião do êxodo para escapar do Egito
(Êxodo 12:38). Como os mundanos que estão na igreja de hoje, os estrangeiros
ainda cobiçavam as coisas do Egito porque seu coração estava aí. Fomentaram,
sem dúvida, o descontentamento em muitos dos episódios da passagem pelo
deserto.
As murmurações descritas em Números. Começam nesta
seção com queixas nos extremos do arraial, depois lamentações no próprio
acampamento, e finalmente críticas da parte dos líderes mais fidedignos, Ãarão
e Miriã. Cada vez se destaca Moisés como o intercessor abnegado.
2. A falta de carne e a pesada carga de moisés: Aqui vemos Moisés como
servo de Deus vencido pelo excessivo trabalho e pela frustração de não poder
satisfazer às necessidades do povo. Já se julga impotente, cansado, impaciente
com o povo e desejoso de deixar seu encargo. Muitos dos mais nobres homens de
Deus têm tido, às vezes, a mesma experiência.
Deus solucionou o problema de Moisés comunicando seu Espírito aos
setenta anciãos a fim de que eles pudessem levar algo da carga que Moisés vinha
levando sozinho. Profetizavam. Dar-se-ia o caso de que falassem em outras
línguas como os cento e vinte discípulos no Cenáculo? Quando Eldade e Medade
profetizaram, Josué preocupou--se com a posição de liderança de Moisés. Mas o
nobre líder não sentia nenhuma inveja ou temor de que outro lhe tomasse o
lugar. Seu único desejo era que a obra do Senhor prosperasse. Sua resposta
(11:29) foi profética e se cumpriu no dia de Pentecoste 0oel 2:28; Atos 2:16).
Novamente Deus trouxe, por meio de um vento, codornizes que caíram
exaustas no arraial. Os israelitas, em sua ganância, provavelmente comeram a
carne crua e muitos morreram da praga que sobreveio. De igual maneira, se
persistirmos em pedir coisas materiais que desejamos sem consultar a vontade
de Deus, ele às vezes nos concede estas petições, porém sofremos as
conseqüências espirituais: "E ele satisfez-lhes o desejo, mas fez
definhar as suas almas" (Salmo 106:15).
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