O observador mais superficial do conteúdo
da Bíblia verificará que quase 80% do livro sacro é o Velho Testamento. Se a
Bíblia toda é realmente a palavra de Deus aos homens, torna-se patente que o
Velho Testamento merece muito mais atenção do que normalmente recebe. Em todos
os países, inclusive no Brasil, o povo de Deus precisa redescobrir a
significação e a atualidade do Velho Testamento. É verdade que a escola
dominical oferece certo ensino nesta área, mas se limita geralmente ao
conhecimento dos dados históricos. A interpretação desses dados é o trabalho do
exegeta. Acontece, porém, que a maioria dos sermões oferecidos ao povo de Deus
se baseia, quase exclusivamente, no Novo Testamento. Os Salmos gozam de grande
popularidade e representam talvez a leitura mais conhecida do Velho Testamento.
A parte mais negligenciada parece ser os profetas menores, e por esta razão o
autor preparou estudos bíblicos baseados neles, que foram apresentados aos
estudantes da ABU e da ABS. O interesse suscitado no meio estudantil levou o
autor a preparar, em forma permanente, este livrinho para o público maior.
O conhecimento das condições
sócio-econômicas, políticas e religiosas da época dos profetas é indispensável
à compreensão da mensagem profética. Quando as referidas condições se
assemelham às nossas, não obstante a passagem dos séculos, então os profetas de
ontem falam hoje, e o Velho Testamento se atualiza de uma maneira notável e
também proveitosa.
Neste opúsculo segue-se quase sem mudança
a ordem dos livros dos profetas menores adotada na Bíblia.
Desde o século VIII a.C. até o século V
a.C., os profetas menores exerceram um ministério dirigido ao povo de Deus, no
período das maiores crises. Cinco deles profetizaram antes da queda de Samaria
em 722 a.C., quando a nação ao norte, Israel, foi levada para o exílio na
Assíria. Neste mesmo período antes do exílio de Israel na Assíria, Deus
levantou Isaías, o mais sublime de todos os profetas. Depois da queda de
Samaria, o profeta Naum predisse a destruição de Nínive, capital da Assíria, o
que se cumpriu em 612 a.C.
A pequena nação ao sul, Judá, não aprendeu
a lição de Israel, por razões semelhantes, ela seria invadida e destruída pelos
babilônicos cerca de 140 anos depois. Pelo fato de ser custódia do sagrado
templo do Senhor, Judá achava absolutamente inacreditável a profecia ameaçadora
da queda de Jerusalém. Jeremias, o profeta chorão, apoiado pelos dois profetas
menores, Habacuque e Sofonias, advertiu debalde o povo de Deus, e em 587 a.C.
Jerusalém e o templo foram arrasados.
No período de 70 anos de exílio na Babilônia
que se seguiu, Daniel e Ezequiel, profetas maiores, foram os principais
porta-vozes do Senhor. O livrinho de Obadias tem o seu lugar no começo desse
período exílico, e por conseguinte o capítulo dedicado neste livro à sua
profecia é colocado depois de Sofonias, e não no lugar tradicional entre Amós e
Jonas.
Os três últimos profetas menores, Ageu,
Zacarias e Malaquias, pertencem ao período pós-exílico, isto é, após o ano 538
a.C., em que Ciro permitiu a volta dos judeus para a terra da promissão. Neste
período os três profetas prepararam o povo para a realização da maior de todas
as promessas divinas, a vinda do Messias.
Em certos casos é difícil estabelecer uma
data segura para a composição de uma profecia. Os livros de Joel, de Jonas e de
Naum são exemplos disso. Sendo a evidência cronológica interna às vezes
inadequada, os eruditos adotam datas variadas baseadas no estilo utilizado e em
considerações críticas. Embora sendo um assunto altamente relevante, a questão
da data não diminui a significação espiritual e moral do recado profético. Para
fins deste estudo, o autor adotou as datas conservadoras.
No cânon hebraico do Velho Testamento, os
doze profetas menores formam um livro, ou coleção de escritos sacros denominada
“Os Doze”. Na versão grega da Septuaginta, a mesma coletânea tem como título
“Os Doze Profetas”. Nos séculos que precedem o nascimento de Jesus Cristo, os
judeus piedosos se alimentavam das gloriosas promessas messiânicas contidas no
livro “Os Doze”. Assim o Velho Testamento termina com “Os Doze” e sua
refulgente esperança num messias todo-poderoso. É altamente sugestivo que, após
o longo silêncio do período intertestamentário, o Novo Testamento se abre com
Jesus Cristo e a escolha dos doze apóstolos como pregoeiros da boa nova da Salvação.
Esta relação histórica, entre as promessas dos Doze no fim do Velho Testamento,
e a sua realização através da missão dos Doze no início do Novo Testamento, deve
despertar no povo de Deus o afã de conhecer mais profundamente os escritos
inspirados dos doze profetas menores, que ainda nos falam hoje. E então a
palavra dos profetas menores será uma mensagem de justiça e esperança para
hoje, para o homem deste final de século 21.
ESQUEMA CRONOLÓGICO APROXIMADO
Os 4 Profetas Maiores
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Os 12 Profetas Menores
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Acontecimentos
Políticos
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DOMINAÇÃO DA ASSÍRIA
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Isaias |
Oséias
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Queda de Samaria, 722 a.C.
Exílio de Israel na Assíria
Queda de Nínive, 612 a.C.
Fim do Império Assírio
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Joel
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Amós
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Jonas
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||
Miquéias
|
||
Naum
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DOMINAÇÃO DA BABILÔNIA
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JEREMIAS
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Habacuque
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Queda de Jerusalém, 587 a.C.
|
Sofonias
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EXÍLIO DE JUDÁ
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EZEQUIEL
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Obadias
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Na Babilônia durante 70 anos
Queda da Babilônia, 539 a.C.
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DANIEL
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DOMINAÇÃO DA PÉRSIA
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Ageu
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O rei persa Ciro toma a Babilônia, e em 538 a.C. autoriza a
volta do exílio. Restauração do templo, 517 a.C. Espera do Messias, 450 a.C.
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Zacarias
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||
Malaquias
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