Nunca devemos subestimar a dívida de
gratidão que temos com os judeus, pelo seu extremo cuidado na preparação e na
preservação dos Manuscritos Antigos, nem das regras impostas a cada escriba,
algumas das quais são:
- O pergaminho tinha
de ser feito de pele de animais.
- Cada palavra era
contada e mesmo cada letra.
- A peça toda era
destruída imediatamente se um erro fosse encontrado.
- Cada cópia precisava
ser feita a partir de um manuscrito autêntico.
- A escrita era feita
com tinta negra, preparada por uma receita especial.
- Era necessário que
os escribas pronunciassem cada palavra em voz alta antes de escrevê-la, e
em caso algum podiam escrever de memória.
- Os escribas
precisavam limpar suas canetas antes de escrever o Nome de Deus, e banhar
o corpo inteiro antes escrever “JEOVÁ”.
Em vista desse cuidado extremo, da parte dos judeus,
para preservar perfeitamente as Escrituras Sagradas, podemos ter plena
confiança de que Deus tem guardado sua Palavra através dos séculos, desde
quando Moisés escreveu as primeiras palavras (Ex.24.4), até o último trabalho
de João, e também durante os séculos da dispensação da graça.
Nos tempos de Cristo, os judeus tinham a mesma
reverência para com a Palavra de Deus, e Jesus pôs o seu selo de aprovação
sobre as três divisões das escrituras
hebraicas (Lc.24.27 / Jo.12.14 / 1Co.2.12-13). Portanto, tanto o Antigo quanto
o Novo Testamento também, foram copiados com muita reverência pelos cristãos
dos primeiros séculos. Podemos confiar na inspiração e autoridade da Bíblia.
A reverência dos judeus pode ser ilustrada pelas
palavras de um ancião rabino a um jovem escriba: “Tem cuidado como trabalhas,
porque tua obra é uma obra celestial. Cuidado para não omitir nem aumentar uma
só letra de teus manuscritos, porque fazendo isto, tu serás um destruidor do mundo”.
As línguas da Bíblia
As línguas falada e escrita constituem um estudo muito interessante,
mas de difícil acesso a leigos, como é
de se esperar.
Não sabemos ao certo, se a linguagem
falada, antes do dilúvio, era ideográfica, ou pictográfica – ou seja,
constituída de uma série de desenhos, transmitindo idéias.
Partindo
dessa idéia, o chacal representaria esperteza ou habilidade, uma mulher tocando tamborim ou um homem dançando significaria alegria, o
braço de um homem segurando um pedaço de pau significaria força, etc..
Mais tarde, esses desenhos passaram a
representar sons equivalentes a letras ou sílabas. Por exemplo: uma águia A;
uma perna – P; um leão – L; ou uma casa – C.
O escrito ideográfico foi realmente o que deu origem
ao cuneiforme, encontrado em abundância, em muitas tabuinhas de barro
descobertas, dentro e ao redor da antiga Babilônia.
O escrito cuneiforme consiste de
letras ou sílabas em forma de cunhas ou pontas de flechas, sendo predominante
na Babilônia, Assíria e Pérsia, até o
tempo de Cristo.
Quanto a mais antiga linguagem falada
no mundo, temos certeza de que até o tempo de Babel era uma somente (Gn.11.6).
É provável que depois da confusão das línguas, os descendentes de Sem, Cão e
Jafé espalharam-se por diferentes regiões do mundo, desenvolvendo assim,
aquelas linguagens ou dialetos que parecem haver formado a base de todas as
línguas futuras.
A linguagem mais antiga falada depois do dilúvio, de
que temos conhecimento, foi a de ACADE ou AKKAD, que vem a ser a divisão noroeste da antiga Babilônia. É interessante mencionar
que as palavras ADÃO, ÉDEM, SÁBADO parecem ser acadianas e não hebraicas. Essa
linguagem parece ter sido usada até o tempo de Abraão (2000 a.C.), passando a
ser, a partir daí, linguagem morta. Mais tarde, a linguagem semítica babilônica
tomou seu lugar e continuou sendo usada
até o tempo de Nabucodonosor.
Talvez Abraão, ao deixar a sua terra
natal e ir por ordem de Deus a Canaã, tivesse adotado a linguagem dos
cananitas, entre os quais passou a morar
com seus descendentes. Os judeus mais tarde, durante os anos de cativeiro em
Babilônia, deixaram sua linguagem de puro hebraico e adotaram a chamada
“caldaìca-aramaìca”, que continuou a ser usada até o tempo de Cristo. Essa
linguagem que Abraão adotou era o hebraico. Em Isaías 19.18 inferimos que o
hebraico foi chamado de a língua de Canaã.
Há uma ilustração interessante
acerca do uso concorrente das duas linguagens (Gn.31.47); Labão, que pertencia
a terra em que vivia Abraão, isto é, Harã, falou em caldaico ou aramaico. Jacó
usou a linguagem de Canaã. Labão chamou
ao montão de pedras de Jegar-Saaduta, enquanto Jacó denominou-o Geleede.
É provável que tanto o povo quanto à
linguagem adquirissem o nome hebreu de Héber ou Hiber, descendente de Sete e antepassado
de Abraão (Gn.10.24-25 / Lc.3.35). Héber ou Hiber quer dizer o que vem do outro
lado ou caminhando de um lugar para o outro, e essa é uma característica do
povo hebreu ou judeu. E é curioso observar que
em Gêneses 14. 13 lemos acerca de Abraão, o hebreu. Em Gêneses 39. 14 a
esposa de Potifar disse de José: “Vede, trouxe-nos meu marido este hebreu
para nos insultar".
A linguagem hebraica continuou sendo
falada e escrita pelos judeus até o tempo do cativeiro, quando adotaram a
aramaica. O Antigo Testamento foi escrito em hebraico, exceto estes pequenos
trechos que foram escritos em caldaico: Ed.4.7 / 6.18 / 7.12 – 26 e Dn.2.4
O grego foi a linguagem comum do
império romano. Os judeus, porém, continuaram falando o aramaico em todos os
seus negócios uns com os outros. Entretanto, nas sinagogas, os rabinos sempre
falaram e leram em hebraico, havia sempre um intérprete ao lado para traduzir
para o aramaico o que era dito, caso estivessem presentes judeus que não
compreendessem o hebraico puro.
É provável que o Senhor Jesus, e
outros judeus tenham falado o hebraico, exceto quando abordou uma mulher
siro-fenícia (Mc.7.26). Aqui, é provável que Ele tenha falado em grego, por ser
esta a linguagem dela. Na realidade, as poucas palavras aramaicas proferidas
por Jesus que chegaram até nós, na forma transliterada, são: “Talita cume”
(Mc.5.41) e Eloí, Eloí, lamá sabactâni (Mc.15.34). O Novo Testamento foi
escrito originalmente em grego.
Traduções da Bíblia
Com referência à Bíblia como a temos
agora, devemos lembrar que as línguas do mundo, especialmente do mundo romano,
sofreram modificações durante os últimos dois mil anos, desde que a Bíblia foi
escrita e concluída. Por essa razão, de tempos em tempos, os Oráculos de Deus
têm sido traduzidos por estudantes reverentes e dedicados para a língua
predominante da época.
Os tradutores mais antigos tiveram a
vantagem de fazer seu trabalho a partir dos
documentos mais antigos, dos quais alguns agora, já se perderam,
enquanto os tradutores mais recentes tiveram, por outro lado, o benefício de
uma quantidade maior de documentos que foram descobertos.
Vamos agora traçar as muitas etapas
interessantes da história destas diversas traduções, desde os tempos mais antigos até o presente:
A Versão Septuaginta
Com a morte de Alexandre o Grande, em 323 a.C., o
império foi divido entre seus generais, a Ptolomeu 1 coube o Egito como
quinhão, incluindo a Palestina, em seu domínio. Tendo-se estabelecido em
Alexandria uma grande biblioteca, Ptolomeu pensava que sua biblioteca estava
completa, mas faltavam para completar seu grande acervo as leis dos Hebreus,
até então mantidas em seu idioma original, o hebraico.
Ptolomeu Filadelfo ficou
entusiasmado com a notícia e solicitou ao sumo sacerdote Eleazer que preparasse
uma cópia das referidas leis, feita por homens competentes que pudessem
traduzir para o grego. O rei concedeu grandes privilégios aos judeus, além de
ricos presentes, de modo que seu pedido foi alegremente atendido pelas
autoridades judaicas.
Foram, então selecionados setenta e
dois sábios, sendo seis de cada tribo de Israel, e enviados a Alexandria, aí
sendo recebido com festa pelo rei Ptolomeu. Ao fim dos festejos, aqueles
ilustres representantes da Nação Israelense se isolaram em compartimentos previamente
preparados, e ali traduziram o Antigo Testamento para o grego. Esse
empreendimento ocorreu por volta do ano 250 a.C.. O nome Septuaginta vem de
setenta, por ter sido setenta e dois o número dos que fizeram a tradução.
Considerações acerca da Septuaginta
Não obstante alguns suscitarem
dúvidas quanto à origem e autenticidade dessa tradução, ela deve ser
reconhecida como de boa qualidade por
várias razões, dentre as quais podemos destacar as seguintes:
- A tradução foi feita
por homens escolhidos e de reconhecida competência, pertencentes a todas
as tribos de Israel e procedentes de Jerusalém, havendo até sacerdotes
entre eles, segundo Flávio Josefo, e não por estudantes de Alexandria.
- A tradução não foi
imposta pelo rei Ptolomeu, embora Israel estivesse sob seu domínio. Ao
contrário, houve negociação, na qual Israel obteve grandes vantagens,
entre elas a libertação de 120 mil judeus escravos no Egito. Tais
vantagens não foram exigidas pelos judeus, mas liberalmente concedida por
iniciativa do soberano Filadelfo.
- Tudo nos faz crer
que essa tradução foi providência Divina por dois motivos: Primeiro
- Por força do domínio grego, seu idioma e cultura dominaram as nações. A
tradução, pois tornou possível a leitura da Bíblia por todos os povos. Segundo
- Com a dispersão (depois do cativeiro babilônico), muitos Israelitas em
todo o mundo perderam a identidade de sua língua pátria e passaram a falar
em grego. A Septuaginta os beneficiou, contribuindo para sua integração.
Mesmo depois da queda do domínio grego, que deu lugar
ao império romano, a cultura grega continuou prevalecendo sobre os povos,
inclusive sobre os próprios romanos. Isso levou os escritores do Novo
Testamento a adotarem o grego.
Segundo se sabe, foi nessa versão que os títulos
familiares, pelos quais os livros da Bíblia são conhecidos atualmente, foram
adotados pela primeira vez. A ordem de colocação dos livros que também
conhecemos foi adotada pela primeira vez nessa versão, embora a mesma seja
muito diferente da ordem e que se encontram nas Escrituras hebraicas originais.
Contudo, a Septuaginta do Antigo
Testamento formou a base para muitas versões futuras. As cópias que temos hoje
estão acompanhadas de cópias em grego do Novo Testamento. Os originais dessa
versão estão perdidos. Mas, suas três mais antigas e melhores cópias estão
guardadas. São elas:
- Manuscrito
Vaticano - É conhecido como o
mais antigo documento existente. É propriedade da Igreja Católica Romana e
encontra-se guardado no Museu do Vaticano em Roma, a cerca de 500 anos.
Foi escrito no mais belo estilo, mas não totalmente perfeito, pois faltam
algumas parte do Gêneses, alguns Salmos e uma parte do Novo Testamento -
data do quarto século, aproximadamente (325 d.C.).
- Manuscrito Sinaítico - A história
desse documento é muito interessante: em 1844, o Dr. Tischendorf,
professor público alemão, em viagem a vários países em busca de
Manuscritos Bíblicos Antigos, chegou ao Mosteiro de Santa Catarina, ao pé
do Monte Sinai na Arábia. Ali viu no corredor uma canastra (cesta larga),
cheia de materiais que iam ser usados para ascender o fogo, no fogão. Os
monges lhes disseram que já haviam queimado duas canastras dos mesmos
pergaminhos. O Dr. Tischendorf não poderia disfarçar seu deleite ao
reconhecer um tesouro de inestimável valor. Porém, os monges ignorantes
suspeitaram que havia ali algo que poderiam vender por alto preço e não
deixaram o professor ler os pergaminhos. Os monges não sabiam ler os
pergaminhos e por isso os estavam destruindo.
Venderam ao professor somente 43 folhas
que pensaram não ter nem um valor. Essas folhas contudo, era uma parte do
Antigo Testamento, e, ainda se encontraram na universidade de Leipzig, na
Alemanha. Em 1853, Tischendorf visitou novamente o mosteiro, porém não
encontrou nada.
Em 1859, fez outra visita, dessa vez
comissionada pelo Imperador da Rússia, mas tudo indicava que sua viagem seria
novamente em vão. Porém, ao sair bem
sedo, pela manhã, o mordomo lhe disse que possuía um exemplar da versão dos
Setenta e levou o professor ao seu quarto. Ali, ele retirou um pacote envolto
num pano vermelho. Ao abrí-lo revelou-se aos olhos do visitante encantado, não
somente os pergaminhos do Antigo Testamento, que havia visto quinze anos antes,
como também o Novo Testamento completo.
Permitiram ao professor passar mais uma
noite no Mosteiro, ele então levou os Manuscritos ao seu quarto, a fim
examiná-los. Sentiu que a ocasião era por de mais sagrada para dormir, e passou
a noite inteira copiando tudo o que podia dos tesouros que havia encontrado.
Depois, todo Manuscrito, ou Códice, foi emprestado ao Imperador da Rússia e, no
final de 1859 ele os conseguiu dos monges, sendo levados para a grande
biblioteca russa, tornando-se propriedade do governo da Igreja Ortodoxa do
Oriente.
Durante a Revolução de 1917, esses
Manuscritos caíram em poder dos Bolcheviques ateus. Estes, muito astutos, ao calcularem o preço
dos Manuscritos, os venderam aos protestantes da Inglaterra, que os depositaram
no Museu Britânico de Londres - tiveram que pagar 100 mil libras esterlinas por
eles. Foi a maior compra literária já registrada.
Esse códice também foi escrito muito
cuidadosamente em belo estilo, sobre o couro de cem antílopes. O Novo
Testamento é perfeito, nem uma folha está faltando. Trata-se do segundo mais
antigo documento existente hoje (350 d.C.).
- Manuscrito
Alexandrino - A data desse
manuscrito é de 450 d.C., e faltam neles dez folhas do Antigo Testamento.
Encontra-se atualmente, no Museu Britânico, em Londres. Diz-se que foi
escrito por "Thecla, o mártir". Talvez tenha sido escrito em
Alexandria, no Egito. Em 1621, foi levado a Constantinopla, e em 1624
presenteado ao embaixador britânico, na Turquia, para ser estudado pelo
rei Tiago I da Inglaterra, que posteriormente autorizou a versão de toda a
Bíblia em inglês. O Manuscrito foi aceito por Carlos I em 1627 e guardada
na biblioteca Real. Finalmente, em 1757, o Rei Jorge II doou a biblioteca
da família real à nação, e assim, o famoso Manuscrito chegou ao Museu
Britânico. Esse foi o Manuscrito originalmente usado pelos tradutores
bíblicos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário