domingo, 21 de setembro de 2014

Copiando os Manuscritos Hebraicos



            Nunca devemos subestimar a dívida de gratidão que temos com os judeus, pelo seu extremo cuidado na preparação e na preservação dos Manuscritos Antigos, nem das regras impostas a cada escriba, algumas das quais são: 






  • O pergaminho tinha de ser feito de pele de animais.
  • Cada palavra era contada e mesmo cada letra.
  • A peça toda era destruída imediatamente se um erro fosse encontrado.
  • Cada cópia precisava ser feita a partir de um manuscrito autêntico.
  • A escrita era feita com tinta negra, preparada por uma receita especial.
  • Era necessário que os escribas pronunciassem cada palavra em voz alta antes de escrevê-la, e em caso algum podiam escrever de memória.
  • Os escribas precisavam limpar suas canetas antes de escrever o Nome de Deus, e banhar o corpo inteiro antes escrever “JEOVÁ”.

Em vista desse cuidado extremo, da parte dos judeus, para preservar perfeitamente as Escrituras Sagradas, podemos ter plena confiança de que Deus tem guardado sua Palavra através dos séculos, desde quando Moisés escreveu as primeiras palavras (Ex.24.4), até o último trabalho de João, e também durante os séculos da dispensação da graça.
Nos tempos de Cristo, os judeus tinham a mesma reverência para com a Palavra de Deus, e Jesus pôs o seu selo de aprovação sobre as três divisões  das escrituras hebraicas (Lc.24.27 / Jo.12.14 / 1Co.2.12-13). Portanto, tanto o Antigo quanto o Novo Testamento também, foram copiados com muita reverência pelos cristãos dos primeiros séculos. Podemos confiar na inspiração e autoridade da Bíblia.
A reverência dos judeus pode ser ilustrada pelas palavras de um ancião rabino a um jovem escriba: “Tem cuidado como trabalhas, porque tua obra é uma obra celestial. Cuidado para não omitir nem aumentar uma só letra de teus manuscritos, porque fazendo isto, tu  serás um destruidor do mundo”.



  As línguas da Bíblia     

            As línguas falada e escrita constituem um estudo muito interessante, mas de difícil  acesso a leigos, como é de se esperar.
          Não sabemos ao certo, se a linguagem falada, antes do dilúvio, era ideográfica, ou pictográfica – ou seja, constituída  de uma  série de desenhos, transmitindo idéias.
Partindo dessa idéia, o chacal representaria esperteza ou habilidade, uma mulher  tocando tamborim  ou um homem dançando significaria alegria, o braço de um homem segurando um pedaço de pau significaria força, etc..
          Mais tarde, esses desenhos passaram a representar sons equivalentes a letras ou sílabas. Por exemplo: uma águia A; uma perna – P; um leão – L; ou uma casa – C.
O escrito ideográfico foi realmente o que deu origem ao cuneiforme, encontrado em abundância, em muitas tabuinhas de barro descobertas, dentro e ao redor da antiga Babilônia.
          O escrito cuneiforme consiste de letras ou sílabas em forma de cunhas ou pontas de flechas, sendo predominante na Babilônia, Assíria e Pérsia, até  o tempo de Cristo.
          Quanto a mais antiga linguagem falada no mundo, temos certeza de que até o tempo de Babel era uma somente (Gn.11.6). É provável que depois da confusão das línguas, os descendentes de Sem, Cão e Jafé espalharam-se por diferentes regiões do mundo, desenvolvendo assim, aquelas linguagens ou dialetos que parecem haver formado a base de todas as línguas futuras.
A linguagem mais antiga falada depois do dilúvio, de que temos conhecimento, foi a de ACADE ou AKKAD, que vem a ser  a divisão noroeste da  antiga Babilônia. É interessante mencionar que as palavras ADÃO, ÉDEM, SÁBADO parecem ser acadianas e não hebraicas. Essa linguagem parece ter sido usada até o tempo de Abraão (2000 a.C.), passando a ser, a partir daí, linguagem morta. Mais tarde, a linguagem semítica babilônica tomou seu  lugar e continuou sendo usada até o tempo de Nabucodonosor.
          Talvez Abraão, ao deixar a sua terra natal e ir por ordem de Deus a Canaã, tivesse adotado a linguagem dos cananitas, entre  os quais passou a morar com seus descendentes. Os judeus mais tarde, durante os anos de cativeiro em Babilônia, deixaram sua linguagem de puro hebraico e adotaram a chamada “caldaìca-aramaìca”, que continuou a ser usada até o tempo de Cristo. Essa linguagem que Abraão adotou era o hebraico. Em Isaías 19.18 inferimos que o hebraico foi chamado de a língua de Canaã.
            Há uma ilustração interessante acerca do uso concorrente das duas linguagens (Gn.31.47); Labão, que pertencia a terra em que vivia Abraão, isto é, Harã, falou em caldaico ou aramaico. Jacó usou a linguagem de Canaã. Labão chamou  ao montão de pedras de Jegar-Saaduta, enquanto  Jacó denominou-o Geleede.
            É provável que tanto o povo quanto à linguagem adquirissem o nome hebreu de Héber ou Hiber, descendente de Sete e antepassado de Abraão (Gn.10.24-25 / Lc.3.35). Héber ou Hiber quer dizer o que vem do outro lado ou caminhando de um lugar para o outro, e essa é uma característica do povo hebreu ou judeu. E é curioso observar que  em Gêneses 14. 13 lemos acerca de Abraão, o hebreu. Em Gêneses 39. 14 a esposa de Potifar disse de José: “Vede, trouxe-nos meu marido este hebreu para nos insultar".
            A linguagem hebraica continuou sendo falada e escrita pelos judeus até o tempo do cativeiro, quando adotaram a aramaica. O Antigo Testamento foi escrito em hebraico, exceto estes pequenos trechos que foram escritos em caldaico: Ed.4.7 / 6.18 / 7.12 – 26 e Dn.2.4
            O grego foi a linguagem comum do império romano. Os judeus, porém, continuaram falando o aramaico em todos os seus negócios uns com os outros. Entretanto, nas sinagogas, os rabinos sempre falaram e leram em hebraico, havia sempre um intérprete ao lado para traduzir para o aramaico o que era dito, caso estivessem presentes judeus que não compreendessem o hebraico puro.
            É provável que o Senhor Jesus, e outros judeus tenham falado o hebraico, exceto quando abordou uma mulher siro-fenícia (Mc.7.26). Aqui, é provável que Ele tenha falado em grego, por ser esta a linguagem dela. Na realidade, as poucas palavras aramaicas proferidas por Jesus que chegaram até nós, na forma transliterada, são: “Talita cume” (Mc.5.41) e Eloí, Eloí, lamá sabactâni (Mc.15.34). O Novo Testamento foi escrito originalmente em grego.   
           

     Traduções da Bíblia

            Com referência à Bíblia como a temos agora, devemos lembrar que as línguas do mundo, especialmente do mundo romano, sofreram modificações durante os últimos dois mil anos, desde que a Bíblia foi escrita e concluída. Por essa razão, de tempos em tempos, os Oráculos de Deus têm sido traduzidos por estudantes reverentes e dedicados para a língua predominante da época.
            Os tradutores mais antigos tiveram a vantagem de fazer seu trabalho a partir dos  documentos mais antigos, dos quais alguns agora, já se perderam, enquanto os tradutores mais recentes tiveram, por outro lado, o benefício de uma quantidade maior de documentos que foram descobertos.
            Vamos agora traçar as muitas etapas interessantes da história destas diversas traduções,  desde os tempos mais antigos até o presente:
           
     A Versão Septuaginta

Com a morte de Alexandre o Grande, em 323 a.C., o império foi divido entre seus generais, a Ptolomeu 1 coube o Egito como quinhão, incluindo a Palestina, em seu domínio. Tendo-se estabelecido em Alexandria uma grande biblioteca, Ptolomeu pensava que sua biblioteca estava completa, mas faltavam para completar seu grande acervo as leis dos Hebreus, até então mantidas em seu idioma original, o hebraico.
            Ptolomeu Filadelfo ficou entusiasmado com a notícia e solicitou ao sumo sacerdote Eleazer que preparasse uma cópia das referidas leis, feita por homens competentes que pudessem traduzir para o grego. O rei concedeu grandes privilégios aos judeus, além de ricos presentes, de modo que seu pedido foi alegremente atendido pelas autoridades judaicas.
            Foram, então selecionados setenta e dois sábios, sendo seis de cada tribo de Israel, e enviados a Alexandria, aí sendo recebido com festa pelo rei Ptolomeu. Ao fim dos festejos, aqueles ilustres representantes da Nação Israelense se isolaram em compartimentos previamente preparados, e ali traduziram o Antigo Testamento para o grego. Esse empreendimento ocorreu por volta do ano 250 a.C.. O nome Septuaginta vem de setenta, por ter sido setenta e dois o número dos que fizeram a tradução.

         Considerações acerca da Septuaginta

            Não obstante alguns suscitarem dúvidas quanto à origem e autenticidade dessa tradução, ela deve ser reconhecida como  de boa qualidade por várias razões, dentre as quais podemos destacar as seguintes:

  • A tradução foi feita por homens escolhidos e de reconhecida competência, pertencentes a todas as tribos de Israel e procedentes de Jerusalém, havendo até sacerdotes entre eles, segundo Flávio Josefo, e não por estudantes de Alexandria.

  • A tradução não foi imposta pelo rei Ptolomeu, embora Israel estivesse sob seu domínio. Ao contrário, houve negociação, na qual Israel obteve grandes vantagens, entre elas a libertação de 120 mil judeus escravos no Egito. Tais vantagens não foram exigidas pelos judeus, mas liberalmente concedida por iniciativa do soberano Filadelfo.

  • Tudo nos faz crer que essa tradução foi providência Divina por dois motivos: Primeiro - Por força do domínio grego, seu idioma e cultura dominaram as nações. A tradução, pois tornou possível a leitura da Bíblia por todos os povos. Segundo - Com a dispersão (depois do cativeiro babilônico), muitos Israelitas em todo o mundo perderam a identidade de sua língua pátria e passaram a falar em grego. A Septuaginta os beneficiou, contribuindo para sua integração.

Mesmo depois da queda do domínio grego, que deu lugar ao império romano, a cultura grega continuou prevalecendo sobre os povos, inclusive sobre os próprios romanos. Isso levou os escritores do Novo Testamento a adotarem o grego.
Segundo se sabe, foi nessa versão que os títulos familiares, pelos quais os livros da Bíblia são conhecidos atualmente, foram adotados pela primeira vez. A ordem de colocação dos livros que também conhecemos foi adotada pela primeira vez nessa versão, embora a mesma seja muito diferente da ordem e que se encontram nas Escrituras hebraicas originais.
         Contudo, a Septuaginta do Antigo Testamento formou a base para muitas versões futuras. As cópias que temos hoje estão acompanhadas de cópias em grego do Novo Testamento. Os originais dessa versão estão perdidos. Mas, suas três mais antigas e melhores cópias estão guardadas. São elas:

  • Manuscrito Vaticano - É conhecido como o mais antigo documento existente. É propriedade da Igreja Católica Romana e encontra-se guardado no Museu do Vaticano em Roma, a cerca de 500 anos. Foi escrito no mais belo estilo, mas não totalmente perfeito, pois faltam algumas parte do Gêneses, alguns Salmos e uma parte do Novo Testamento - data do quarto século, aproximadamente (325 d.C.).

  •  Manuscrito Sinaítico - A história desse documento é muito interessante: em 1844, o Dr. Tischendorf, professor público alemão, em viagem a vários países em busca de Manuscritos Bíblicos Antigos, chegou ao Mosteiro de Santa Catarina, ao pé do Monte Sinai na Arábia. Ali viu no corredor uma canastra (cesta larga), cheia de materiais que iam ser usados para ascender o fogo, no fogão. Os monges lhes disseram que já haviam queimado duas canastras dos mesmos pergaminhos. O Dr. Tischendorf não poderia disfarçar seu deleite ao reconhecer um tesouro de inestimável valor. Porém, os monges ignorantes suspeitaram que havia ali algo que poderiam vender por alto preço e não deixaram o professor ler os pergaminhos. Os monges não sabiam ler os pergaminhos e por isso os estavam destruindo.
            Venderam ao professor somente 43 folhas que pensaram não ter nem um valor. Essas folhas contudo, era uma parte do Antigo Testamento, e, ainda se encontraram na universidade de Leipzig, na Alemanha. Em 1853, Tischendorf visitou novamente o mosteiro, porém não encontrou nada.
            Em 1859, fez outra visita, dessa vez comissionada pelo Imperador da Rússia, mas tudo indicava que sua viagem seria novamente em vão.  Porém, ao sair bem sedo, pela manhã, o mordomo lhe disse que possuía um exemplar da versão dos Setenta e levou o professor ao seu quarto. Ali, ele retirou um pacote envolto num pano vermelho. Ao abrí-lo revelou-se aos olhos do visitante encantado, não somente os pergaminhos do Antigo Testamento, que havia visto quinze anos antes, como também o Novo Testamento completo.
            Permitiram ao professor passar mais uma noite no Mosteiro, ele então levou os Manuscritos ao seu quarto, a fim examiná-los. Sentiu que a ocasião era por de mais sagrada para dormir, e passou a noite inteira copiando tudo o que podia dos tesouros que havia encontrado. Depois, todo Manuscrito, ou Códice, foi emprestado ao Imperador da Rússia e, no final de 1859 ele os conseguiu dos monges, sendo levados para a grande biblioteca russa, tornando-se propriedade do governo da Igreja Ortodoxa do Oriente.
            Durante a Revolução de 1917, esses Manuscritos caíram em poder dos Bolcheviques ateus.  Estes, muito astutos, ao calcularem o preço dos Manuscritos, os venderam aos protestantes da Inglaterra, que os depositaram no Museu Britânico de Londres - tiveram que pagar 100 mil libras esterlinas por eles. Foi a maior compra literária já registrada.
             Esse códice também foi escrito muito cuidadosamente em belo estilo, sobre o couro de cem antílopes. O Novo Testamento é perfeito, nem uma folha está faltando. Trata-se do segundo mais antigo documento existente hoje (350 d.C.).

  • Manuscrito Alexandrino - A data desse manuscrito é de 450 d.C., e faltam neles dez folhas do Antigo Testamento. Encontra-se atualmente, no Museu Britânico, em Londres. Diz-se que foi escrito por "Thecla, o mártir". Talvez tenha sido escrito em Alexandria, no Egito. Em 1621, foi levado a Constantinopla, e em 1624 presenteado ao embaixador britânico, na Turquia, para ser estudado pelo rei Tiago I da Inglaterra, que posteriormente autorizou a versão de toda a Bíblia em inglês. O Manuscrito foi aceito por Carlos I em 1627 e guardada na biblioteca Real. Finalmente, em 1757, o Rei Jorge II doou a biblioteca da família real à nação, e assim, o famoso Manuscrito chegou ao Museu Britânico. Esse foi o Manuscrito originalmente usado pelos tradutores bíblicos.


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