terça-feira, 12 de julho de 2016

Perdeu Sua Bíblia?


“Minhas palavras fazem o bem ao que anda retamente.” (Mq 2.7)

Se queremos crescer na fé, em viver santo e no poder para servir, o nosso único fundamento é a Palavra de Deus. Ouviu-se certa vez uma pessoa orar assim: “Senhor, ajuda-nos a crer na tua Palavra”. Tal oração parece tão comum que não notamos a incongruência de tal pedido. O verdadeiro crente não precisa pedir ajuda para crer na Palavra de Deus, uma vez que o crer na Palavra do Deus vivo deve ser a coisa mais fácil e natural para ele. Todavia, o fato que nos surpreende é esse: a maior parte dos cristãos é incrédula. Conquanto confiem na Palavra de Deus no que respeita ao arrependimento e à fé, e aceitem a promessa do perdão divino, embora tenham recebido a Cristo, tenham vida eterna nele e creiam na oração (ainda que a limitem a meros pedidos), a verdade dura é que ignoram ou não usam a maior parte das grandes promessas de Deus, de vitória cristã e de poder para servir.
Por que, então, os cristãos acham tão difícil e até mesmo impossível crer nas promessas de Deus? Acaso os cristãos não participam da natureza divina? Não conhecem e amam a um Deus pessoal e vivo? E não têm comunhão vital com ele? Em geral cremos naqueles a quem conhecemos e amamos, principalmente naqueles que têm bom caráter e boa reputação. Assim, duvidar, ou não crer em Deus é coisa tão inatural para o crente que bem podemos dizer, na linguagem das Escrituras, que “um inimigo fez isso”. Muita dúvida, muita incredulidade, certamente, são obras do diabo.
Mas, como o diabo levou tantos a duvidar da Palavra de Deus? O profeta Jeremias sugeriu a resposta ao dizer: “Pois torceis as palavras do Deus vivo” (Jr 23.36). Em forma interrogativa o apóstolo Paulo anota o mesmo fato em Romanos 3.31: “Anulamos, pois a lei...?” Sim, foi isso exatamente o que aconteceu. A Palavra de Deus foi adulterada, torcida e anulada, pelo engano e pelos artifícios do inimigo de nossas almas.
Falando do diabo, Jesus disse: “O ladrão vem somente para roubar, matar, e destruir” (Jo 10.10). O diabo começa a sua obra infame roubando. E o que ele mais gosta de nos roubar é a Palavra de Deus. Assim, através dos séculos ele tem feito muitas tentativas para suprimir e destruir a Bíblia. Se tivesse conseguido seu infernal intento, já não haveria muita esperança nem para o mundo nem para a Igreja. Por isso, tendo falhado em suas tentativas para destruir a Bíblia, começou a roubar a Palavra de Deus de maneira mais sutil. Sua grande estratégia tomou a forma de “alta crítica”. Qual o resultado? Muita gente, e de fato, várias denominações, sucumbiram ante esse terrível engano e perderam a Bíblia como sendo a inspirada Palavra de Deus. Crendo que, quando muito, a Bíblia contém a Palavra de Deus, perderam a certeza que provém do crer que “assim diz o Senhor”. Com esse terrível golpe, Satanás destruiu a fé nas maiores doutrinas, aceitas durante séculos. Assim, não tendo um alicerce firme, tais pessoas começaram a valorizar a palavra do homem, e acabaram tornando-se instáveis como areia movediça.
Felizmente muitos cristãos não aceitaram as falsas conclusões da “alta crítica”, por saberem que a Bíblia é a inspirada Palavra de Deus. Daí, o arquiladrão planejou roubar-lhes a Bíblia, pela introdução de um sistema de interpretação bíblica conhecido pelo nome de “ultradispensacionalismo”. Conquanto por séculos esse sistema fosse desconhecido (durante os quais a Igreja produziu seus maiores santos), essa nova interpretação foi introduzida como sendo um método superior de estudo da Bíblia. Deste modo, dividindo a Bíblia em vários períodos ou dispensações, e aplicando suas verdades somente a esta ou àquela dispensação em particular, em parte o inimigo conseguiu seu intento de nos roubar a Bíblia.
Mas grande porção da Igreja não aceitou os extremos ensinos do ultradispensacionalismo. Satanás pensou neles também e modificou seu plano. Atendo-se sempre ao seu plano de roubar, apresentou uma forma bem modificada de dispensacionalismo – uma forma tão moderada e branda que foi aceita pela grande maioria dos fundamentalistas. De fato o fundamentalismo e o moderado dispensacionalismo são hoje quase sinônimos. Em suas tendências o dispensacionalismo fundamentalista é perigoso e enganoso, roubando-nos muito da Bíblia, notadamente as palavras de Cristo. Este sistema de interpretação sustenta que o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo foi retirado, e substituído por outro evangelho. Tais mestres crêem que os deveres da Igreja somente são encontrados nas Epístolas e não no Sermão do Monte e nos dizeres de Cristo. Ensinam que existem dois evangelhos: o de Cristo e o do Apóstolo Paulo, e que, em nosso tempo, o de Paulo tem mais autoridade. Dizem que em Corinto a seita realmente perigosa era “a seita de Cristo” a qual dizia “Eu (sou) de Cristo” (1 Co 1.12), e rejeitava a nova revelação das doutrinas da graça nas cartas de Paulo. Declarações como estas não só anulam o evangelho de Cristo, mas também dizem que os crentes no evangelho de Cristo constituíam a mais perigosa seita de Corinto!
Os que propagam esse sistema não enxergaram a unidade do plano divino da salvação, razão por que ensinam que Deus tem diversos meios de salvar pecadores. Um deles, por exemplo, afirma: “Uma dispensação se define como um período de tempo em que o homem é testado quanto à obediência a uma revelação específica da vontade de Deus; e temos sete delas na Bíblia.” E ainda: “A graça se iniciou com a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, e, desde então, o ponto de prova ou teste como condição para a salvação, não é mais a obediência legal, mas a aceitação ou rejeição de Cristo.”
Todavia, aqueles de quem não foram roubadas grandes porções da Bíblia vêem a graça tanto no Antigo como no Novo Testamento, e igualmente nas Epístolas. Cremos que para os que viveram nos tempos do Antigo ou do Novo Testamento, Deus não teve outro meio de salvá-los a não ser a fé em Cristo e em seu sacrifício vicário. Abraão não foi salvo pela lei, pois a Bíblia diz: “(Abraão) creu no Senhor, e isso lhe foi imputado para justiça” (Gn 15.6). Outra passagem que se refere ao meio de salvação é o texto clássico da Reforma: “O justo viverá pela sua fé”, mas isso é encontrado no Velho Testamento (Hc 2.4). A verdade é que o Velho Testamento foi o tempo da lei, mas não, porém, sem a graça; o período do Novo Testamento é o tempo da graça, mas não, porém, sem a lei. Nos dois períodos ou dispensações, o único meio de salvação tem sido “pela graça mediante a fé”. Deus tem apenas um modo de salvar os homens.
É certo que só uma geração teve o privilégio de ver Cristo com os olhos da carne; assim, os santos do Antigo Testamento espiritualmente olharam para o futuro, para o Calvário e viram a Cristo pela fé; e hoje olhamos para o passado, para o Calvário, e “somente pela fé” vemos a Cristo. Todavia, o Espírito Santo, realizando sua obra de revelar Cristo aos homens, estava presente nas duas dispensações – no tempo do Antigo Testamento (mediante tipos, símbolos e escritos) e também em nosso tempo (mediante a revelação completa que chamamos de Bíblia).
Satanás tem roubado aos cristãos grandes partes da Bíblia; e, por isso, muitos têm perdido a fé nas promessas de Deus no que se refere ao viver santo e ao poder para servir. Por exemplo, dizem-nos alguns que o Sermão do Monte não é dever da Igreja, nem privilégio. Não é para agora. Dizem ainda que os poderes sobrenaturais de que gozaram os apóstolos e seus seguidores desapareceram. Dizem que tais poderes pertenceram apenas a um período de transição, e foram limitados à era apostólica. E acrescentam que não devemos esperar que o Espírito Santo se manifeste nos vários dons do Espírito (como vemos em 1 Coríntios 12). Dizem-nos então que “Deus não age daquele modo hoje”. Nesta dispensação, a retidão de vida (como vemos nos capítulos 5, 6 e 7 de Mateus ), e o poder sobrenatural, visto no livro dos Atos, não nos são possíveis; Deus não espera isso de nós. Se, porém, crermos no que tais pessoas dizem, estaremos sendo espoliados em nossa herança. Uma das razões de haver tantos cristãos incrédulos é que muitos mestres, involuntariamente, estão-nos ensinando a não crer! Em vez de sermos exortados a crer no poder sobrenatural de Deus para o viver e o serviço cristão (como se ensina para a regeneração), é-nos ensinado que esse não é o modo de Deus agir hoje. Mais ainda: se alguém quer progredir na fé, quase tem que “ir sozinho”, tem que ser um pioneiro, com o peso morto duma igreja incrédula, atrapalhando o seu avanço. Portanto, para todos quantos querem crer em Deus e querem tomar a sua Palavra como ela é, é chegado o tempo exato de resistir ao intento do diabo, que ousa roubar deles este ou aquele trecho da Bíblia.

Se Cristo disse: “Aquele que crer em mim, fará também as obras que eu faço, e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai” (Jo 14.12), resta-nos crer nele e esperar que nos capacite para fazer essas “obras maiores”. Em muitos círculos cristãos, porém, estas palavras de Cristo também são torcidas para significar que essas “obras maiores” são a salvação de almas, e que o ganhar almas deve ser a obra a que devemos dar maior ênfase. Mas quem pode salvar uma alma? Só Deus pode fazer isso! Não! Jesus não estava falando somente em salvar almas; falava de obras que ele fez, pois curou enfermos, purificou leprosos, expulsou demônios e operou milagres. E ele disse que podemos fazer as mesmas coisas, em seu nome e pelo seu poder. Bem sabemos que curas e milagres não salvam, mas tornam conhecido o fato de que Deus está no meio do seu povo. Algumas dessas obras maiores, se realizadas hoje, tornariam desnecessário o elevado custo de programas de propaganda, tão em voga em nossos dias. Não poucas vezes as campanhas evangelísticas são meras reuniões especiais freqüentadas quase que exclusivamente por crentes. Mas, se se crê na Palavra de Deus, pregada em sua inteireza, e de maneira que Deus possa confirmá-la “por meio de sinais, que se seguem” (Mc 16.20), como se deu no tempo dos Atos dos Apóstolos, então a propaganda custosa e as solicitações na comunidade não serão necessárias para se encher o local da reunião. Não haverá necessidade de apelos extensos e emocionais. Em tais circunstâncias, o pregador, tendo a oportunidade de pregar a grande número de perdidos, ouvirá de novo o clamor da congregação: “Que devo fazer para que seja salvo?” No presente, usando métodos seculares ou mundanos, estamos conseguindo precário resultado. Já não é chegado o tempo de darmos um balanço nisso? Não terá chegado a hora de voltarmos à Palavra de Deus e aos seus métodos? Você perdeu sua Bíblia?

Theodore (Ted) A. Hegre

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