Metáfora. A
Bíblia é rica em linguagem metafórica. A metáfora afirma de modo
inconfundível que uma coisa é outra totalmente diferente. O termo
origina-se de dois vocábulos gregos que significam estender. Um objeto
é substituído a outro. Aqui temos dois exemplos do uso de metáforas:
Pois o Senhor Deus é sol e escudo (Sl 84:11);
Ele é o meu refúgio e minha fortaleza (Sl 91:2).
Dessa
forma, como pode ser observada, metáfora é um termo conhecido por nós
"na área da experiência que faz sentido, e indica que determinado objeto,
possuidor de propriedades especiais, transfere-as a outro objeto pertencente a
uma área mais elevada, de modo que o anterior nos dá uma idéia mais completa e
realista das propriedades que o último deve ter". Nas passagens
supracitadas, tudo o que é relacionado ao Sol, ao escudo, ao refúgio e à
fortaleza é transferido para o Senhor. O Sol, por exemplo, é fonte de luz,
calor e poder. A vida na Terra depende das propriedades do Sol. Portanto, o
Senhor como Sol é a fonte de toda a vida.
No
evangelho de João não existem parábolas propriamente ditas,
Mas
há, entretanto, uma série de metáforas impressionantes como:
Eu sou o bom pastor (Jo 10:11).
Eu sou a videira verdadeira (Jo 15:1).
Eu sou a porta (Jo 10:7).
Eu sou o pão da vida (Jo 6:35).
Eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14:6).
Alegoria. Não
é fácil distinguir entre parábola e alegoria. Esta última não é
uma metáfora ampliada e dela difere por não comportar a
transferência de qualidades e de propriedades. Tanto as parábolas como as
metáforas abrangem expressões e frases, servindo para desvendar e explicar
algumas verdades ocultas que não poderiam ser facilmente compreendidas sem
essa roupagem. Num verbete de Fairbairn sobre as "parábolas", em sua
renomada Biblical enciclopaedia [Enciclopédia bíblica], ele diz: "A
alegoria corresponde rigorosamente ao que se encontra na origem da palavra. E
o ensinamento de uma coisa por outra, da segunda pela primeira; deve existir
uma semelhança de propriedades, uma seqüência de acontecimentos semelhantes
de um lado e de outro; mas a primeira não toma o lugar da segunda; as duas se
mantêm inconfundíveis. Considerada dessa forma, a alegoria, em sentido mais
amplo, pode ser tida como um gênero, do qual a fábula, a parábola e o que
geralmente chamamos alegorias são espécies".
A.
alegoria, explica
o Dr. Graham Scroggie, "... é uma declaração de fatos supostos que aceita
interpretação literal, mas ainda assim exige ou admite, com razão,
interpretação moral ou figurada". A alegoria difere da parábola por
conter aqueles menos mistérios e coisas ocultas que esta. A alegoria se
interpreta por si só e nela "a pessoa ou objeto, ilustrado por algum
objeto natural, é imediatamente identificado com esse objeto". Diz o dr.
Salmond: "Quando nosso Senhor conta a grande alegoria da vinha, do
agricultor e dos ramos, em que ensina aos seus discípulos a verdade sobre o
relacionamento que ele próprio tinha com Deus, começa dizendo que ele próprio
é a videira verdadeira e seu Pai, o agricultor (Jo 15:1).
Desejando
uma melhor compreensão das figuras de linguagem mencionadas na Bíblia,
recomendamos ao leitor a obra de grande fôlego do Dr. E. W. Bullinger sobre o
assunto, a qual, sem dúvida, é o melhor estudo já feito sobre o método
figurado empregado pela Bíblia. O Dr. Bullinger lembra que há grande controvérsia
sobre a definição e significado exato de alegoria e declara que, na
verdade, os símiles, as metáforas e as alegorias são todos baseados na
comparação.
Símile
é
a comparação por semelhança.
Metáfora
é
a comparação por correspondência.
Alegoria
é
a comparação por implicação.
Na primeira, a
comparação é afirmada; na segunda, é substituída; na terceira, é
subentendida. A alegoria é então diferente da parábola, pois
esta é um símile continuado, enquanto aquela representa algo ou dá a entender
que alguma coisa é outra.
Há
uma alegoria a que Paulo se refere de modo inequívoco: "... Abraão
teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre. Todavia, o que era da
escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa. O que
se entende por alegoria..." (coisas que ensinam ou dizem mais do
está escrito — v. Gl 4:22,24). Bullinger chega a provar que a alegoria
pode algumas vezes ser fictícia; no entanto, Gaiatas 4 mostra que uma
história verdadeira pode ser alegorizada (ou seja, pode mostrar algum
ensinamento além daquele que, na verdade, se observa), sem no entanto anular
a verdade da história. A alegoria é sempre apresentada no passado e
nunca no futuro. Dessa forma, distingue-se da profecia. A alegoria
oferece outro ensinamento com base nos acontecimentos do passado, enquanto a profecia
trata de acontecimentos futuros e corresponde exatamente ao que se diz.
Hillyer
Straton, em seu A guide to the parables of Jesus [Guia das parábolas de
Jesus], comenta que "a alegoria é uma descrição codificada. Ela
personifica coisas abstratas; não põe uma coisa ao lado da outra, mas faz a
substituição de uma pela outra. Cada aspecto da alegoria se torna
importante". O dr. Straton, então, acaba por citar a mais famosa alegoria
de toda a literatura, O peregrino, em que John Bunyan usou a sua
imaginação notavelmente fértil para ressaltar a verdade da peregrinação cristã.
Fábula. A
fábula é uma narração fictícia que pretende ilustrar um princípio ou uma
verdade (Jz 9:8-15; 2Rs 14:9). A missão primordial da fábula é reforçar o
conceito da prudência. A fábula, usada poucas vezes nas Escrituras,
está a quilômetros de distância da parábola, embora uma possa, em
alguns momentos, ser semelhante à outra nos aspectos externos. Comparando
qualquer das fábulas de Esopo com as parábolas de Jesus, percebe-se que
a fábula é um tipo inferior de linguagem figurada e trata de assuntos menos
elevados. Está associada à terra e focaliza a vida e os negócios comuns a
todos. Tem por função transmitir lições de sabedoria prudente e prática e
gravar nas mentes dos ouvintes as virtudes da prudência, da diligência, da
paciência e do autocontrole. Também trata do mal como loucura e não como
pecado, além de ridicularizar as falhas e desdenhar os vícios, escarnecendo
deles ou os temendo. Essa é a razão por que a fábula faz grande uso da imaginação,
dotando plantas e animais de faculdades humanas, fazendo-os raciocinar e falar.
A parábola, no entanto, age numa esfera mais sublime e espiritual e nunca se
permite a zombaria ou a sátira. Tratando das verdades de Deus, a parábola é
naturalmente sublime, com ilustrações que correspondem à realidade—nunca
monstruosas ou anti-natu-rais. Na parábola, nada existe contra a verdade da
natureza. Fairbairn diz: "A parábola tem um objetivo mais admirável [...]
A parábola poderia tomar o lugar da fábula, mas não o contrário".
Desejando informações acerca da narrativa mítica, o leitor deve ler o
parágrafo "Os mitos", de Trench.